12/10/2016 - 13:30 - 15:00 GT 6 - Práticas Integrativas e Complementares na Atenção Primária em Saúde II |
10870 - O MODELO DE CUIDADO DAS PRÁTICAS INTEGRATIVAS CORPORAIS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE JANAÍNA ALVES DA SILVEIRA HALLAIS - UNICAMP, NELSON FILICE DE BARROS - UNICAMP
Apresentação/Introdução As práticas corporais estão institucionalizadas em programas e serviços do SUS através da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares e Política Nacional de Promoção da Saúde, potencializando as ações de prevenção de doenças e promoção da saúde. De caráter coletivo, essas práticas cumprem um propósito terapêutico e também propiciam encontro e interação entre os praticantes. As práticas corporais desenvolvidas na atenção primária reorientam o modelo de cuidado da racionalidade da medicina ocidental contemporânea criando um novo lugar de produção de saúde constituído por uma pluralidade de significados, valores e sentidos.
Objetivos Analisar o modelo de cuidado de intersociabilidades criado pelas práticas integrativas corporais na Atenção Primária em Saúde no Sistema Único de Saúde.
Metodologia A pesquisa foi realizada com metodologia qualitativa, utilizando as técnicas da observação participante e de entrevistas semi-estruturadas para coleta de dados em dois grupos de Movimento Vital Expressivo e de Lian Gong de dois Centros de Saúde do município de Campinas. Frequentei semanalmente os grupos ao longo de cinco meses e realizei entrevistas com profissionais de saúde (coordenadores dos serviços e instrutores das práticas investigadas) e usuários. Além disso, acompanhei os grupos em atividades extras, como passeios e reuniões em datas comemorativas. Os conteúdos dos dados empíricos foram analisados tematicamente e discutidos a partir de referenciais teóricas das Ciências Sociais.
Discussão e Resultados O que organiza a racionalidade biomédica na APS é, ainda, uma classificação binária, orientada pela lógica do normal e do patológico, onde os exercícios físicos reforçam rótulos e comportamentos associados ao discurso do risco, colaborando para o controle e padronização dos corpos, em que o caráter individual sobressai ao coletivo e fragiliza os laços sociais, em clara orientação de uma biossociabilidade. No entanto, a participação nos grupos de práticas corporais contribui para um processo de produção de saúde, cuidado e construção de sociabilidade, com laços de amizade entre praticantes e instrutores. Essas relações são desinstitucionalizadas, proporcionam acolhimento, estimulam autonomia dos praticantes e reorientam o modelo de cuidado biomédico da APS, criando um novo lugar de produção de saúde, fundamentado na ambivalência e orientado pela lógica de intersociabilidades criada por uma pluralidade de significados e sentidos, ente welness-fitness, convivialidade-utilitarismo, amorosidade-medicalização e sociabilidade-biossocibilidade.
Conclusões/Considerações Finais O modelo de cuidado das intersociabilidades produzido pelas práticas corporais é um grande desafio para o campo da saúde, pois abrange tanto ações pautadas no disciplinamento e na prevenção e controle de doenças, típicos de uma prática biomédica, como também nas ações voltadas para a agência do indivíduo e para a sua saúde, promovendo um cuidado coletivo, emancipador, com olhar singular, aberto para a diversidade e que confere aos praticantes a autonomia, o convívio e novas amizades.
Este modelo constitui práticas com grande potência na atenção básica, uma vez que se orientam pelo princípio da convivialidade e para a produção de encontros e cuidado emancipador.
O desafio está, entre outras coisas, em fundar-se na ambivalência em detrimento das certezas artificiais dos protocolos, evidências, prescrições e reificações produzidos pela medicina ocidental.
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