|
Grupos Temáticos
11/10/2016 - 13:30 - 15:00 GT 14 - Experiência do Viver com HIV-AIDS |
10988 - “MAS, NÃO TIVE CORAGEM DE CONTAR”: NARRATIVAS SEXUAIS E AMOROSAS DE PESSOAS QUE VIVEM COM HIV/AIDS EM UM BLOG RAUL ELTON ARAÚJO BORGES - UFRN, LUCAS PEREIRA DE MELO - UFRN
Apresentação/Introdução O diagnóstico e a experiência de pessoas que vivem com o HIV/Aids (PVHA) inclui uma ruptura biográfica, na medida em que as estruturas da vida cotidiana e as formas de conhecimentos que lhes davam sustentação sofrem rupturas. Além disso, as expectativas e planos futuros passam a ser reexaminados a partir dessa nova situação biográfica (Bury, 1982), o que inclui seus relacionamentos sexuais e amorosos. Neste trabalho é abordada a contribuição dos “diários” publicados num blog pessoal ao estudo da experiência de PVHA. O blog, entendido como documento, fornece ricas descrições de práticas, costumes e percepções sociais do processo saúde-doença assim como, rupturas e continuidades nas suas representações ao longo do tempo (Arruda, 2013). Essas observações ganham contornos próprios conforme a trajetória de vida de cada um, dessa forma o “diário” revela uma escrita de “si” que atende a uma necessidade coletiva de pessoas em condições semelhantes de vida. Nesse estudo, privilegia-se as narrativas relacionadas as experiências sexuais e amorosas de PVHA.
Objetivos Analisar as narrativas de experiências sexuais e amorosas de PVHA publicadas na sessão “Diários” do blog Diário de um Jovem Soropositivo. Tais narrativas compreendem o texto principal produzido pelo autor, mas, sobretudo, os comentários dos visitantes da página.
Metodologia Trata-se de um estudo documental (Prior, 2011). Utilizou-se como fonte de dados as postagens feitas na sessão “Diários” do blog Diário de um Jovem Soropositivo, cujo autor utiliza os pseudônimos “Jovem Soropositivo” (JS) ou “Jovem Paulistano” (JP). Segundo dados fornecidos pelo autor, o mesmo nasceu em 1984 e vive com o HIV desde 2010. Foram feitas 18 postagens no período de março de 2011 a março de 2016. Dessas, quatro se relacionavam ao objeto do estudo, sendo o texto principal e seus comentários incluídos. A escolha desse blog se justifica por se tratar de um espaço virtual, público, no qual os visitantes e o autor realizam debates e compartilhamentos de experiências sobre o viver com HIV/Aids. Nesse sentido, o blog assume um caráter de ajuda mútua, protegido pelo anonimato virtual. Os dados foram analisados por meio da técnica de codificação temática (Flick, 2009). Foram observados os aspectos éticos estabelecidos na Resolução nº 510/2016, do Conselho Nacional de Saúde.
Discussão e Resultados Na sessão “Diários”, foram publicados quatro textos sobre o tema em estudo: Primavera e Outono, 24/09/2015; Onde está a camisinha?, 11/07/2015; O dilema do soropositivo, 18/06/2015; Tudo o que você queria saber sobre sexo oral, mas não tinha coragem de perguntar, 07/02/2013. Emergiram três categorias: “Mas, não tive coragem de contar”: o desvelar da condição sorológica – aborda os medos presentes na comunicação do status sorológico em face de um relacionamento sexual e/ou amoroso; “E do nada sumiu”: as (re)ações do Outro da relação – engloba, de um lado, as narrativas de rejeição e, de outro, os contrapontos colocados por experiências de aceitação, compreensão e acolhimento após o desvelar da condição sorológica, vistas como demonstrações de afeto/amor do Outro na relação; e “Sinto-me à deriva”: virtualidade e compartilhamento do cotidiano com o HIV – discute o blog como um espaço virtual e anônimo de ajuda mútua e de práticas de biossocialidade, que parece trazer conforto e amenizar as dificuldades em lidar com o HIV/Aids na totalidade da vida cotidiana. Por fim, assinala-se o discurso medicalizado do JS e dos visitantes da página.
Conclusões/Considerações Finais As narrativas analisadas neste trabalho evidenciam as dificuldades experimentadas diante de situações em se que julga necessária a revelação do status sorológico a potenciais parceiros sexuais/amorosos. Nesse sentido, as narrativas expõem as representações de amor romântico e a plasticidade da sexualidade, das práticas sexuais e dos afetos desses sujeitos, como elementos modeladores dessas relações e subjetividades. Além disso, destaca-se o significado atribuído às reações do Outro ao conhecimento da condição sorológica, apontado, principalmente, como uma “porta” que se abre e permite (ou não) a experiência amorosa, sexual, afetiva. Ademais, os comentários às postagens do JS produz um espaço virtual de compartilhamento de experiências, marcado pela construção de relações de ajuda mútua e pela biossocialidade. No entanto, esse espaço parece ser mais receptivo aqueles que aderem às prescrições biomédicas e às práticas de segurança e proteção propostas pela (bio)política de saúde.
|
|
|
|