10/10/2016 - 15:00 - 16:30 GT 6 - Práticas Integrativas e Complementares no SUS |
12172 - PRÁTICAS CONTRAHEGEMÓNICAS À RACIONALIDADE BIOMÉDICA ARTICULADAS AO SUS: ANOTAÇÕES CRÍTICO-HERMENÊUTICAS MARCOS AURÉLIO MACEDO - UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ; LABORATÓRIO DE AVALIAÇÃO E PESQUISA QUALITATIVA EM SAÚDE (LAPQS), MARIA LÚCIA MAGALHÃES BOSI - LABORATÓRIO DE AVALIAÇÃO E PESQUISA QUALITATIVA EM SAÚDE (LAPQS) / UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ (UFC), EUDAZIANE ABREU MACEDO - UNIVERSIDADE DA INTEGRAÇÃO INTERNACIONAL DA LUSOFONIA AFRO-BRASILEIRA (UNILAB), GEISON VASCONCELOS LIRA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ (UFC) - SOBRAL
Apresentação/Introdução A insuficiência ou incompletude dos modelos de cuidado em saúde não constitui novidade ou fenômeno isolado. Antes, foi e continua sendo um objeto que remete a um complexo processo, tendo sua origem e desenvolvimento determinados por uma diversidade de contextos políticos e sociais, em permanente transformação.
Passadas mais de quatro décadas do movimento da contracultura francês ter lançado as bases de modos de vida pautados na desconstrução do individualismo e em favor de uma sociedade humana voltada à paz e ao bem coletivo, persiste o predomínio de condutas opostas à solidariedade, assentadas na lógica liberal e individualista da acumulação capitalista. Todavia, é possível perceber que ainda ecoam no ocidente as influências do movimento de 1968, a exemplo do resgate e maior difusão de práticas terapêuticas em contraposição à racionalidade biomédica, inclusive no interior do SUS, notadamente através da atual Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares – PNPIC.
Objetivos Compreender as interfaces entre as transformações na cultura – transitando do período iniciado com acontecimentos em maio de 1968 na França até o controverso processo de globalização – e a incorporação, junto ao Sistema Único de Saúde (SUS), de um conjunto de saberes e práticas integrativas e complementares, contra-hegemônicas ao modelo assistencial de saúde.
Metodologia Trata-se de uma análise crítico-hermenêutica dos determinantes sócio-histórico-culturais implicados com as práticas integrativas e complementares em saúde, valorando a política de saúde voltada à construção de um novo paradigma, distanciado da racionalidade biomédica. Discute-se a necessária emergência de um modelo capaz de priorizar análises de totalidades – partindo-se da reconfiguração das realidades singulares no sentido de compreender os sujeitos individual e coletivamente no cerne das relações interpessoais peculiares ao processo de cuidado em saúde.
Ao longo da análise, é destacado o custo social e econômico da saúde dicotomizada com a doença, em razão da produção de recursos humanos e materiais implicados com a racionalidade biomédica. A vertente econômica do apelo à cultura “da saúde” é problematizada, ao impor uma semiologia baseada em exames complementares sustentados como necessários pela ciência das doenças, distinta da “arte de cuidar”.
Discussão e Resultados Visto a hegemonia atribuída à globalização neoliberal e sua práxis em saúde cabe reconhecer a emergência de movimentos contra-hegemônicos que prestigiam a diversidade de práxis terapêuticas. Em tal ambiente de mudanças que aponta para a ruptura do modelo de assistencial de saúde é pertinente discutir a PNPIC como dimensão integrante da correlação de forças em torno da incorporação de um conjunto de práticas norteadas por outros saberes e racionalidades junto ao SUS, sob a égide de articular a perspectiva de ampliação da integralidade da atenção com a resignificação do diálogo entre as pessoas envolvidas no cuidado em saúde.
O exame do mérito da PNPIC revela seu forte potencial para conformação de um modelo assistencial inovador, harmonizado com a perspectiva do bem viver, notadamente porque evoca uma estratégia de inclusão terapêutica centrada na pessoa e na dimensão subjetiva do processo de cuidado.
Contudo, o amplo espectro de possibilidades terapêuticas consignadas na PNPIC, prevendo a coexistência harmônica de distintas práticas de cuidado em saúde, propugna pela emergência de estruturar indicadores e instrumentos de registro adequados para mensuração, monitoramento e avaliação.
Conclusões/Considerações Finais Compreender as transformações do presente, no contexto do modelo do SUS, pressupõe revisitar o passado e, nesses termos, considerar a história como fenômeno em permanente construção, cuja atualização ocorre em um tempo saturado de acontecimentos. Por assim dizer, implica um esforço hermenêutico para entender as transformações na agenda da atenção primária de saúde no Brasil, sendo para tanto necessário recuperar acontecimentos como aqueles ocorridos em maio de 1968 na França.
Por tal contexto, entendemos que – sem prescindir da consideração da diversidade cultural dos sistemas de cuidados em saúde – , no cenário de globalização, a análise das categorias epistemológicas dos modelos integrativos de saúde é condição indispensável para compreender as possibilidades de superação da racionalidade biomédica, tanto mais porque grande parte das ações dos sujeitos sociais, inclusive dos profissionais de saúde e terapeutas populares, se apresenta coordenada pelo mecanismo do dinheiro e do poder.
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