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Grupos Temáticos

11/10/2016 - 13:30 - 15:00
GT 1 - Dilemas e Desafios de Pesquisas Etnográficas

11143 - OS DESAFIOS DA ETNOGRAFIA COMO BILDUNG E BILDUNG COMO CURA NA ANTROPOSOFIA
RAQUEL LITTÉRIO DE BASTOS - UNIFESP DE SÃO PAULO, PEDRO PAULO GOMES PEREIRA - UNIFESP DE SÃO PAULO


Apresentação/Introdução
Este resumo versa sobre os desafios do método etnográfico ao realizar a pesquisa no campo da Saúde Coletiva, sobre a concepção de cura na Antroposofia – “ciência espiritual” elaborada pelo filósofo neorromântico e esotérico Rudolf Steiner, no início do século XX, na Suíça – realizada na Unifesp, intitulada “Corpo e Saúde na Antroposofia: a Bildung como cura”, desenvolvida entre os anos de 2012 e 2016. O campo etnográfico foi composto pelos dois primeiros Ramos da Antroposofia, pioneiros fora da Europa e os primeiros na América Latina, especificamente no Brasil, situados no Estado de São Paulo: a Clínica Tobias, no Ramo Tobias, na Capital; a comunidade da Demétria no Ramo Jatobá, em Botucatu, interior do Estado; e o Ramo Christian Rose Croix, na Suíça, situado na cidade de Lausanne. A organização dos Ramos da Sociedade Antroposófica começou a ocorrer no Brasil em 1939. Um Ramo (do alemão Zweig) é a representação oficial do local da Sociedade Antroposófica. A Antroposofia é atuante em diversas áreas do conhecimento, como: a pedagogia Waldorf; a Medicina Antroposófica, implantada como racionalidade médica no Sistema Único de Saúde (SUS), em 2011; e os medicamentos da Weleda.


Objetivos
A pesquisa objetivava compreender a concepção de cura na Antroposofia, nas terapias do espírito, da alma e do corpo, e estabelecer possíveis relações com a palavra-conceito Bildung como mote terapêutico e o estilo de vida antroposófico. A palavra-conceito Bildung foi elaborada durante o Romantismo Alemão e expressa o processo de autoformação da cultura germânica. A Antroposofia, influenciada pela medicina romântica e fundamentada no método fenomenológico de Goethe, desenvolveu um sistema terapêutico, articulador entre a ciência, a moral e a estética, direcionado para a cura das enfermidades.


Metodologia
Na primeira parte da pesquisa, em 2012, realizei uma “descrição densa” e minuciosa dos trabalhos terapêuticos realizados na Clínica Tobias, etnografando as terapias do espírito, as da alma e as do corpo. Para isso, eu participei das terapias como paciente acometida pela asma, com frequência semanal, por mais de três meses. Registrei todas as experiências medicamentosas que vivenciei, permitindo-me ser afetada pelas ideias antroposóficas para compreender a lógica interna dos processos de cura. Na segunda parte, em 2013, passei a morar na comunidade antroposófica no bairro rural da Demétria, e a frequentar lugares estratégicos como a feira de orgânicos, a escola Waldorf Aitiara e a comunidade de cristãos. E, em 2014, fui morar na Suíça, para compreender as origens da Antroposofia na Europa. Esta “descrição densa”, tipicamente obtida por meio da imersão na vida diária do grupo pesquisado, permitiu um acesso a informações subjacentes, para explicar os modos de vida.


Discussão e Resultados
Sobre a função da Bildung na Antroposofia, é possível afirmar que o termo assume importância e intenções distintas, conforme a localização do Ramo. Na capital, a Bildung confere aos antropósofos um ar arrojado, atraindo como clientela a classe média paulistana avessa à religiosidade institucionalizada, enquanto no interior do Estado, a Bildung apresentou um conteúdo simplificado, diluído em expressões como formação e experiência de vida, com uma importância menor para os interlocutores. Na Suíça, o termo, apesar da relevância cultural, está desgastado pelo tempo e não apresentou o glamour da tradição alemã. A relação entre Bildung e cura acontece de forma dialética, onde a busca da cura leva a uma Bildung e a busca da Bildung leva a uma cura, no sentido romântico de movimento. A cura na Antroposofia ocorre através do autoconhecimento, por meio do contínuo esforço da vontade em dominar o self. O sofrimento deve ser compreendido como karma, no sentido de uma saga épica, que, se cumprida com coragem e dignidade, honrará a morte como possibilidade de cura, fazendo evoluir na hierarquia celestial. A Antroposofia é cristã, mas não há a busca pelo sofrimento.


Conclusões/Considerações Finais
Na Antroposofia brasileira, o que temos é uma Bildung descontextualizada e adaptada às condições culturais, assim como ocorreu com os ideais liberais. O ethos privado do brasileiro permite estabelecer um comprometimento diferente na busca da cura, em acordo com as suas expectativas culturais. O esforço na transformação da vontade por meio da autoformação, ou Bildung, não é exercitado no Brasil como na Suíça. O percurso etnográfico, assim como a Bildung, também tem caráter autoformativo na vida do cientista. Ambos, envolvidos com o movimento da pulsão romântica, conduzem o pesquisador pela jornada desafiadora da cultura do Outro, revelando o seu imprevisível reflexo nos resultados encontrados na investigação. O acadêmico se vê exercitando a humildade de escutar o Outro, sendo esta a única teoria relevante para a pesquisa. As etnografias, assim com a Bildung, exigem coragem do pesquisador para dar voz ao seu interlocutor.


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