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Grupos Temáticos
10/10/2016 - 13:30 - 15:00 GT 16 - Corpo, Corporeidade e Cuidado em Saúde |
11672 - OS IMPASSES BIOPOLÍTICOS DO CUIDADO PARA UMA MEDICINA DA PESSOA. ROMÁN GOLDENZWEIG - PPGAS/MN/UFRJ
Apresentação/Introdução Neste trabalho, desenvolvo uma reflexão sobre as conexões entre as noções de “vida”, “cuidado” e “biopolítica”, em articulação com uma descrição e análise de situações etnográficas no âmbito do Programa Médico de Família de Niterói, na medida em que, na perspectiva deste serviço de saúde, a ideia de um atendimento integral à pessoa constitui um eixo norteador de suas estratégias.
Deste modo, a categoria “cuidado” é central para a concepção e implementação de uma medicina da pessoa. Esta noção contém duas interfaces, o Cuidado como concepção filosófica de um atendimento humanizado que acolhe e promove o projeto de vida dos usuários dos serviços de saúde, e cuidado como desafio cotidiano de implementação de procedimentos de “cuidados em saúde”, condizentes a essa concepção e projetos. Essas interfaces permanecem em um estado de tensão permanente e não resolvida, por vezes emergindo em situações de conflito entre os diversos agentes. Essa tensão, epistemológica e política, manifesta-se, dissemina-se e floresce no cotidiano dos serviços de saúde, na experiência de vida dos usuários e dos diversos agentes de saúde, assim como em suas interações.
Objetivos Discutir como concepções de saúde centradas numa medicina da pessoa, considerada em sua integralidade físico-moral, ou sua dimensão bio-psico-social, se implementam de fato; como a dimensão normativa e consensual de seus procedimentos, sintetizados na noção de "cuidado", se confronta com a realidade concreta e cotidiana da vida das classes populares, usuários que demandam essa política de saúde.
A discussão não visa propor uma avaliação da qualidade dos serviços, ou da "satisfação dos usuários", mas compreensão dos usos e significados elaborados pela trama da interação dos diversos agentes.
Metodologia A referida tensão, metodologicamente enseja uma aproximação etnográfica que permita encarnar provisória e processualmente a construção das trajetórias e das disputas, assim como os sentidos que dão corpo a esses impasses.
O trabalho se baseou em observação participante das atividades da "equipe médica" dos modulos do Programa Médico de Família de Niterói, tanto nas consultas médicas realizadas no consultório quanto as atividades denominadas de "sair a campo", tais como atividades de cadastramento de usuários, busca ativa e visita aos usuários e pacientes em seu domicílio. Também fiz observação participante das atividades desenvolvidas junto aos "grupos prioritários" (idosos, gestantes, etc.).
Foram feitas entrevistas abertas e não diretivas com médicos, auxiliares de enfermagem e usuários.
Discussão e Resultados Uma das premissas que norteiam a análise é que as noções de vida, cuidado e biopolítica apresentam “impasses”, “contradições” ou, até, desafios aporéticos, tensões que partem da dimensão da própria vida como constantemente se superando, extravasando-se, não conformando-se a uma forma e uma norma.
Em outros termos, a tensão permanente –e não resolvida- entre um poder (biomédico e técnico) sobre a vida e uma política da vida, entre uma abordagem integral da pessoa e os desafios da integralidade nos serviços de saúde.
Conclusões/Considerações Finais Este trabalho aponta para a dimensão reflexiva exigida na prática dos serviços de saúde, e a interconexão entre a reflexividade constitutiva dessa prática e o modelo de reflexão qualitativa e sistemática da antropologia e das ciências sociais. Essa exigência não se resolve por meio de uma técnica padronizada e de procedimentos normativos, embora técnicas e procedimentos não possam nem devam ser ignorados; e essa interconexão não se resolve pela conversão dos profissionais de saúde em pesquisadores, embora as suas intuições (e experiências) sócio-lógicas podem ser incorporadas, em estratégias coletivas a ser desenvolvidas no cotidiano dos serviços.
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