|
Grupos Temáticos
11/10/2016 - 13:30 - 15:00 GT 8 - Política,Trabalho e Tratamentos dos Adoecidos de Longa Duração |
11740 - A RELAÇÃO COM A MÁQUINA DE HEMODIÁLISE: ESTUDO DE EXPERIÊNCIA DE ADOECIMENTO DE LONGA DURAÇÃO PATRICIA DE LIMA LEMOS - UFMT, RENI APARECIDA BARSAGLINI - UFMT, KÉSIA MARISLA RODRIGUES DA PAZ - UNEMAT
Apresentação/Introdução A Insuficiência Renal Crônica (IRC) envolve a perda progressiva e irreversível da capacidade renal e, na fase mais avançada, seu tratamento inclui terapias substitutivas das funções renais para a filtração sanguínea (hemodiálise ou diálise peritoneal) e possuem caráter permanente e contínuo enquanto não for possível ou viável realizar um transplante. Assim, o tratamento dialítico impõe cuidados e passa a compor o cotidiano da pessoa, demandando contato constante com profissionais e serviços especializados de saúde, seguimento dos protocolos médicos, consumo de medicamentos, restrições alimentares e exames periódicos. Neste processo, ganha centralidade a relação com a máquina de hemodiálise, pois a própria vida passa dela depender e, diante disso é que interessou compreender este aspecto da experiência de adoecidos renais. No caso da relação com a máquina, recorreu-se à noção de corpo ciborgue, de Haraway (2009), por remeter à adaptação de tecnologias para a conservação e melhoramento da capacidade corporal a qual resulta do ajuste entre a mecanização do ser humano a partir de um prisma e, de outro, da humanização e subjetivação da máquina.
Objetivos O presente trabalho a ser apresentado, analisa a relação com a máquina de hemodiálise a partir de estudo mais amplo de experiência de pessoas com Insuficiência Renal Crônica em tratamento dialítico (LEMOS, 2015), o qual contou com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) mediante bolsa de estudos.
Metodologia Trata-se de estudo qualitativo em saúde, na perspectiva socioantropológica, valendo-se da abordagem da experiência de adoecimentos de longa duração e, para tanto, aproxima-se de conceitos da fenomenologia de Alfred Schutz (1979) e a sociologia da vida cotidiana de Berger & Luckman (2013). Pela experiência privilegia-se o ponto de vista dos adoecidos em situações concretas, no modo como lidam com a doença, interpretando-a e desenvolvendo estratégias personalizadas e cotidianas para enfrentá-la (CANESQUI, 2007; ALVES e RABELO, 1999). Para a coleta de dados, adotou o relato oral com entrevistas guiadas por roteiro temático e representação do impactos no corpo em hemodiálise por meio de desenhos elaborados pelos adoecidos. Participaram da pesquisa dez pessoas em tratamento substitutivo renal, sendo quatro mulheres e cinco homens em hemodiálise e um em diálise peritoneal. Para a análise dos dados foi empregada a modalidade de análise de conteúdo temática.
Discussão e Resultados O diagnóstico formal tardio e a indicação imediata do tratamento dialítico e, portanto, a relação imposta com a máquina de hemodiálise, foi recorrente entre os participantes, ocasionando significativos impactos materiais e simbólicos. Contudo, tal relação se torna menos impactante com o decorrer dos anos, devido à aprendizagem quanto aos aspectos técnicos sobre a quantidade de líquido a ser dialisado, as formas de lidar com situações e/ou sintomas indesejáveis durante e após as sessões de hemodiálise, os cuidados e noções sobre o próprio funcionamento e manuseio da máquina. Observaram-se pistas sobre sentimentos de ambiguidade na relação com a máquina oscilando em raiva e revolta devido a dependência e, simultaneamente, gratidão, por manter e salvar suas vidas. Outro aspecto se refere à máquina como extensão do corpo ou um apêndice corporal – familiar ou estranho ao mesmo tempo. Por fim, a ideia de que a máquina substitui parcialmente os rins esteve presente nos relatos, em que o corpo subordina-se à máquina que corrige o que está problemático, mas impõe condições fragilizantes/adversidades ao retirar mais do que o necessário do corpo, aludindo a artificialidade da diálise.
Conclusões/Considerações Finais A experiência de adoecimento renal não se resume ao tratamento, mas o inclui, e, conforma uma esfera importante na vida dos adoecidos, revelando uma situação impactante, sobretudo, devido ao fato de ser permanente e periódico, requerendo a presença semanal no serviço de saúde. Compreender a relação com a máquina de hemodiálise, nos aproxima da experiência de adoecimento renal, o fato como lidam com essa tecnologia em seus corpos, como apreendem a situação e aprimoram o conhecimento sobre o “não natural”. A relação com a máquina é permeada por ambiguidades e contrastes por estar na confluência dos aspectos material e simbólico (mudanças corporais, significados, saberes, crenças) e que não se dissociam na experiência, mobilizando, assim, as fronteiras imprecisas entre natureza e cultura. Por fim, observou-se que as pessoas fazem escolhas e ajustes ao tratamento que, inclui tecnologias, conforme o seus modos de vida diversos, onde também imperam contrastes em contextos (a)diversos.
|
|
|
|