10/10/2016 - 13:30 - 15:00 GT 35 - Direitos Humanos, Sofrimento Social e Saúde Mental |
11928 - PROBLEMATIZANDO OS DETERMINANTES SOCIAIS NO CUIDADO AOS USUÁRIOS PORTADORES DE SOFRIMENTO PSÍQUICO: REFLEXÕES A PARTIR DE UMA VIVÊNCIA RAFAEL FORTUNATO LISBOA ROSA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO, JÉSSICA CHAGAS DE ALMEIDA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO, CÉSAR AUGUSTO PARO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
Apresentação/Introdução Os Determinantes Sociais em Saúde (DSS) nos auxiliam a compreender o processo saúde-doença para além dos aspectos biológicos, tomando como elementos importante da produção social da saúde a educação, ocupação, raça, poder aquisitivo, gênero e habitação, dentre outros.
Ao ser admitido em um serviço de saúde, o usuário deveria ser tratado de forma equânime em relação aos outros usuários da unidade, estabelecendo vínculo entre o profissional e o usuário, escutar as inquietações do mesmo por meio da anamnese e avaliar de forma holística a sua situação,de modo que se possa ofertar um tratamento adequado para aquele indivíduo que está inserido em um determinado contexto socioeconômico e cultural.
Objetivos O presente trabalho tem o objetivo de refletir sobre a ineficiência de profissionais ao estabelecer uma reeducação nutricional para usuários de um determinado hospital-dia de psiquiatria da cidade do Rio de Janeiro, onde pôde ser observado que os mesmos possuíam poder aquisitivo relativamente baixo para adquirir determinados alimentos preconizados pelo serviço de saúde.
Metodologia Trata-se da reflexão a partir da vivência dos autores que participaram de uma pesquisa em que aplicou-se um questionário de frequência alimentar em usuários com bipolaridade e esquizofrenia de um determinado hospital-dia de psiquiatria da cidade do Rio de Janeiro. Foi utilizado um questionário sobre freqüência alimentar dos indivíduos, além de ter sido realizado entrevistas com os mesmos.
Discussão e Resultados Nos relatos observados, verificou-se a dificuldade da relação profissional /usuário, em que havia diversas referências ao fato de alguns membros da equipe multidisciplinar ainda manterem uma visão biológica sobre os processos de saúde-doença e de cuidado, assim ignorando os determinantes sociais que perpassam a vida do usuário.
Em uma das entrevistas, uma usuária menciona que uma nutricionista tinha passado uma reeducação alimentar a base de alimentos integrais. Após ser repreendida pela funcionária, a usuária queixou-se de que os alimentos eram muito caros e que ela vivia em condições precárias com sua família, se eventualmente adotasse aquela dieta, deixaria os netos sem se alimentar.
Em nenhum momento a nutricionista olhou para além dos fenômenos biológicos, ela simplesmente propôs uma reeducação alimentar totalmente inviável para uma mulher negra, com baixo poder aquisitivo, que habita em condições subumanas e além de tudo é estigmatizada por possuir uma doença psiquiátrica. Deste modo, problematiza-se: a nutricionista não poderia adaptar uma dieta às condições sociais, econômicas e culturais da usuária? É necessária tal represália?
Conclusões/Considerações Finais Entender os DSS que envolvem cada usuário de um serviço de saúde para buscar adaptar o tratamento faz com que as práticas de cuidado sejam de fato eficientes e eficazes. Apesar de determinados estamentos sociais apresentarem algumas dificuldades de expressar-se, isto não justifica a não consideração dos determinantes sociais de saúde no processo de cuidado. As relações entre profissionais e usuários ainda têm ocorrido de forma hierárquica, como profissionais de saúde detentores do conhecimento.
Deste modo, foi problematizado a formação destes profissionais que são pouco permeadas para um atendimento centrado no usuário. Muitos profissionais, de caráter biomédico, ainda mantém seu foco na doença e não consideram o indivíduo com um todo, ou seja, não adotam uma visão holística para enxergar o usuário para além da doença.
Portanto, a universidade ainda possui um grande desafio na formação de profissionais de saúde que possam contemplar novas perspectivas sobre o cuidado.
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