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11/10/2016 - 15:00 - 16:30
GT 40 - Perspectivas no Ensino e na Formação

11757 - PORTFÓLIOS REFLEXIVOS E PRÁXIS NARRATIVA NA FORMAÇÃO EM MEDICINA.
BRUNO PEREIRA STELET - ENSP/FIOCRUZ E FACULDADE DE MEDICINA/UFRJ, VALÉRIA FERREIRA ROMANO - FACULDADE DE MEDICINA/UFRJ, ANA PAULA BORGES CARRIJO - FACULDADE DE MEDICINA/UFRJ, JORGE ESTEVES TEIXEIRA JUNIOR - FACULDADE DE MEDICINA/UFRJ


Apresentação/Introdução
Para estar em consonância com a formação médica voltada para a atenção integral à saúde do ser humano – em especial na Atenção Primária – é fundamental pensar dispositivos que busquem valorizar o aperfeiçoamento de conhecimentos atrelado ao exercício de um senso ético, ou seja, valorizando o desenvolvimento de valores e atitudes pelos futuros médicos. O Portfólio Reflexivo (PR) tem sido aplicado como instrumento para atender ao desafio de estimular o pensamento crítico-reflexivo e gerar condições necessárias para facilitar o processo de aprendizagem significativa. O PR se diferencia do portfólio do campo das artes, pois o estudante documenta, registra e estrutura as atividades, tarefas e a própria experiência de aprendizagem por meio de um discurso narrativo construído de forma contínua e reflexiva sobre as vivências educacionais. Com o avanço nas discussões sobre Educação Médica e a construção de currículos com base em metodologias ativas de ensino-aprendizagem, a avaliação formativa e os portfólios vêm ganhando espaço e contribuindo para o acompanhamento do progresso individual de estudantes, ainda que de maneira pouco institucionalizada.


Objetivos
O objetivo geral desta pesquisa é analisar o Portfólio Reflexivo como dispositivo pedagógico no ensino médico. Este estudo desdobra-se no seguinte objetivo específico: construir nexos teóricos entre o campo da Saúde Coletiva e a Filosofia Política de Hannah Arendt, tomando a narrativa arendtiana como fio condutor.


Metodologia
Ao optar por produzir uma análise teórica acerca do PR como dispositivo pedagógico no ensino médico, propomos estabelecer um diálogo epistemológico de natureza interdisciplinar, no sentido de oferecer elementos coerentes no que tange a inclusão de aportes filosóficos para se pensar o exercício das tecnologias leves (habilidades comunicacionais, empatia, afetividade, valores, construção de vínculos, produção de narrativas...) tão fundamentais para o Cuidado em Saúde em geral e, especificamente, na medicina. Ao reconstruir narrativas, os Portfólios Reflexivos nos aproximam da tarefa de esclarecer dilemas dos educandos sobre suas experiências e pensamentos na forma de histórias narradas. A Filosofia Política de Hannah Arendt nos parece potencializar este estudo, na medida em que a autora aborda a ação narrativa numa dimensão política. Enredando suas histórias e manifestando-se narrativamente no mundo, os Homens se expressam permanentemente sobre si e sobre os outros.


Discussão e Resultados
O PR é um facilitador da aprendizagem significativa pois: permite a avaliação da aprendizagem por meio do diálogo mediado pelo PR entre educador e educando; e fortalece a reflexão no processo formativo. Schraiber (2008) chama de “anulação da reflexividade” do médico um dos elementos da “crise da medicina contemporânea”, ou seja, com a reificação dos meios tecnológicos e da proliferação de protocolos na prática clínica, perde-se a disposição ética de refletir sobre a própria atuação diante de cada paciente. Além de ser canalizador e organizador das reflexões sobre experiências cotidianas, o PR auxilia no autoconhecimento e na possibilidade dos educandos contarem suas histórias mescladas com as histórias dos pacientes. O tempo, a lembrança e os valores estão imbricados na ação de contar experiências vividas durante as atividades no cotidiano do serviço, fazendo emergir a faculdade do pensar no ato narrativo. O PR facilita a formação de uma narratividade para a prática médica, por abrir infinitas possibilidades interpretativas através das leituras das narrativas produzidas por estudantes ou residentes, especialmente em contexto de práticas clínicas.


Conclusões/Considerações Finais
A ética da responsabilidade, em Arendt, não se baseia em imperativos a serem cumpridos, mas justamente superar qualquer norma moral pré-estabelecida, por meio de uma constante reativação do pensamento frente às experiências. As leituras do PR, seguidas de devolutivas aos educandos, no desenvolvimento da comunicação clínica, de um senso ético e do cuidado integral em saúde. O PR aponta para a potencialidade que a competência narrativa poderia ter na ampliação do universo dialógico e interpretativo dos médicos na abordagem do adoecimento, na construção compartilhada de planos terapêuticos e na capacidade de lidar com situações que provocam conflitos nas relações entre profissionais e pacientes no cotidiano dos serviços. A composição de narrativas pressupõe o encontro com o outro e afirma uma formação para o cuidado em saúde em suas dimensões éticas e morais, cognitivas e comunicacionais; assim como a possibilidade de “alargar” o pensamento de modo a caber o outro nas tomadas de decisão.


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