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11/10/2016 - 13:30 - 15:30 GT 33 - Cor e Raça na Política Nacional da Saúde da População Negra |
11431 - INIQUIDADES RACIAIS E ENVELHECIMENTO: ANÁLISE DA COORTE 2010 DO ESTUDO SABE (SAÚDE E BEM ESTAR E ENVELHECIMENTO) ALEXANDRE DA SILVA - FACULDADE DE SAÚDE PÚBLICA-USP, TEREZA ETSUKO DA COSTA ROSA - INSTITUTO DE SAÚDE - SÃO PAULO, LUÍS EDUARDO BATISTA - INSTITUTO DE SAÚDE- SÃO PAULO, SUZANA KALCKMANN - INSTITUTO DE SAÚDE - SÃO PAULO, MARÍLIA CRISTINA PRADO LOUVISON - FACULDADE DE SAÚDE PÚBLICA - USP, DORALICE SEVERO DA CRUZ TEIXEIRA - FACULDADE DE SAÚDE PÚBLICA - USP, MARIA LÚCIA LEBRÃO - FACULDADE DE SAÚDE PÚBLICA - USP
Apresentação/Introdução Entender as disparidades raciais no Brasil têm sido algo bastante complexo e pouco investigado em alguns segmentos populacionais, como na população idosa. Para estudiosos dos determinantes sociais de saúde, não somente a exclusão social, mas o preconceito e a discriminação são fatores que repercutem nas condições de saúde (Braveman, Egerter, & Williams, 2011). A falta de equidade cria também o acesso desigual para determinados segmentos populacionais aos recursos tecnológicos de cura e prevenção de doenças (Cecílio, 2001). Esse cenário no sistema de saúde brasileiro pode trazer a sensação de injustiça e, consequentemente, um sentimento de revolta e de introspecção, afetando a resistência dos idosos negros diante da provável diferenciação no atendimento em relação a eles nos serviços de saúde oferecidos pelo SUS ou pela saúde suplementar. No Brasil, são poucos os estudos populacionais sobre as condições de saúde dos idosos na perspectiva racial. A utilização das dimensões das iniquidades e vulnerabilidades dos idosos nesta perspectiva pode possibilitar uma reconstrução ampliada e reflexiva da promoção e proteção da saúde (Oliveira, Thomaz, & Silva, 2014).
Objetivos O objetivo deste artigo foi apresentar de forma descritiva uma análise comparativa do perfil sociodemográfico, das condições de saúde e de uso e acesso aos serviços de saúde dos idosos da cidade de São Paulo numa perspectiva racial.
Metodologia Foi uma análise transversal do Estudo Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento (SABE), de 2010, que é um estudo de seguimento populacional, desenvolvido desde 2000 sobre a vida dos idosos do município de São Paulo.
A variável dependente foi “cor da pele auto referida”. Foram selecionados idosos de cor preta, parda e branca. As variáveis independentes foram sociodemográficas, condições de saúde e uso e acesso aos serviços de saúde. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da FSP-USP, protocolo de número 2044.
Na análise estatística, realizaram-se análises bivariadas, considerando valores proporcionais de cada categoria. O teste qui-quadrado com correção de Rao-Scott foi utilizado entre variáveis qualitativas e cálculo de média e intervalo de confiança quando variável era quantitativa. A Razão de Prevalência (RP) foi a medida epidemiológica escolhida. Utilizaram-se coeficientes de ponderação da amostra e nível descritivo de 5%. O software estatístico foi o Stata 11.0.
Discussão e Resultados Foram considerados 1263 idosos: 62% brancos, 30,9% pardos e 7,1% pretos que, após a ponderação passaram a representar 1.244.372 idosos: 771.510 brancos, 384.511 pardos e 88.350 pretos. Houve diferenças entre os grupos raciais, menos para sexo (p=0,40), morar sozinho (p=0,72) e motivo para estar trabalhando (p=0,63). Alguns agravos foram prevalentes entre idosos pretos: hipertensão arterial (83%), diabetes (40,80%), derrame/AVC (18,7%). Idosos pretos e pardos possuíam menos plano privado de saúde (p<0,001) e pagavam menores valores (pretos - R$ 119,84; pardos - R$ 172,33). Na última consulta médica, pretos e pardos utilizaram mais os serviços públicos de saúde (p<0,001).
Este estudo parte da hipótese de desvantagens criadas pela escravidão, forma como se deu a abolição, ausência de políticas públicas adequadas para dirimir desigualdades raciais, isolamento social e restrição na estrutura de nossa sociedade dialogam com o perfil sociodemográfico, condições de saúde e o uso e acesso a serviços de saúde dos idosos nos diferentes grupos raciais. E os resultados parecem confirmar isto, evidenciando um cenário desfavorável de envelhecimento para idosos pardos e pretos.
Conclusões/Considerações Finais Este estudo traz resultados preocupantes quanto a saúde de idosos pardos e pretos, que estão mais vulneráveis quanto as doenças crônicas, comportamentos de saúde nocivos e situação de vida que resultam em desfechos desfavoráveis. Intervenções centradas na equidade podem ser benéficas ao adequar atendimentos que compensem as condições de vulnerabilidade.
Algumas das diretrizes da Política Nacional da Saúde da Pessoa Idosa tratam do “estímulo às ações intersetoriais, visando a integralidade da atenção” e “o acolhimento preferencial em unidades de saúde, respeitando o critério de risco”. Entendemos que essas diretrizes poderiam reduzir as desigualdades em saúde, respeitando o princípio de equidade, pois seria dado um tratamento diferenciado para idosos mais necessitados, tornando justo os acessos aos bens e serviços de saúde disponíveis, não importando sua classe social, raça, etnia ou sexo.
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