11/10/2016 - 15:00 - 16:30 GT 23 - Cuidado em Saúde - Grupos Específicos, Integralidade e os Diferentes Determinantes da Saúde |
11473 - SEXUALIDADE, REPRODUÇÃO E MASCULINIDADES: REFLEXÕES A PARTIR DA ANÁLISE DA POLÍTICA BRASILEIRA DE SAÚDE DO HOMEM SUELLEN MARIA VIEIRA DANTAS - FM - DEP. DE MEDICINA PREVENTIVA - USP
Apresentação/Introdução A relação masculinidades-saúde apontou para a dificuldade de se incluir os homens nos serviços de saúde devido às representações sociais do masculino e ao direcionamento da saúde às mulheres e crianças. A implantação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem - PNAISH trouxe a necessidade de explorar e discutir as desigualdades de gênero vivenciadas pelos homens na saúde.
A saúde reprodutiva e sexual de homens tem sido amplamente trabalhada no que diz respeito à equidade de gênero. No entanto, ainda se percebe a ausência de estudos sobre a reprodução e a permanência de estudos sobre saúde sexual de homens voltados a um caráter infectante e à heterossexualidade não-monogâmica.
Predomina-se a atenção ao controle da natalidade, anticoncepção e planejamento familiar, menosprezando os modos sociais de expressão da masculinidade e suas influências na forma como os homens conferem sentidos e se relacionam com sua sexualidade e reprodução. Além disso, a sexualidade masculina tem se limitado a abordagens pontuais em situações de infertilidade, Infecções Sexualmente Transmissíveis ou processo de envelhecimento, mantendo e demarcando uma visão estereotipada do masculino.
Objetivos Neste sentido, sob uma perspectiva de gênero, visa-se mapear repertórios presentes ao se abordar e problematizar a sexualidade e a reprodução de homens na política de saúde do homem brasileira, política esta guiadora de ações de saúde na busca por promoção de ações de saúde voltadas a população masculina, e em documentos relacionados a ela. Assim, realizando uma reflexão sobre como esta temática têm sido problematizada no contexto da saúde brasileira.
Metodologia A análise crítica está orientada por pressupostos dos Estudos de Gênero e do pensamento foucaultiano, bem como nos estudos sobre a relação entre homens e processo saúde-doença-cuidado.
Foi analisado a consulta pública, o Documento-Base da PNAISH, bem como fontes oficiais e não oficiais relativas a essa política. No presente projeto decidiu-se por utilizar como método a análise de conteúdo (AC).
Para se estabelecer categorias de análise dos enunciados foi realizada leitura atenta às representações, conhecimentos e práticas valorizadas sobre o masculino/feminino, sexualidade e reprodução; buscando-se delinear os temas presentes.
Após, passou-se à análise temática do conteúdo, demarcando núcleos de sentido e significados materializados nos textos para a/ a partir da PNAISH. A fase interpretativa buscou tecer relações críticas entre as ideias presentes nos documentos e o contexto científico representado pela bibliografia utilizada
Discussão e Resultados Apesar da PNAISH apresentar uma longa discussão sobre o caráter social do adoecimento e sobre a perspectiva de gênero, discursos como o epidemiológico e biomédico; que mostram o homem como irresponsável, vítima da própria masculinidade, que precisa ser mantido sob atenção; também estão presentes
Pouco se observa a consideração do envolvimento dos homens em saúde reprodutiva. Apenas são citados em planejamento familiar e têm-se a impressão de que são vistos como possíveis apoiadores, não como possíveis sujeitos atuantes e de direitos.
O exercício da sexualidade dos homens, por exemplo, é mostrado como algo que deve ser disciplinado para que o homem, principalmente o jovem, não se exponha a uma gestação não planejada, a “gravidez precoce” ou a uma DST.
A política, ainda, apresenta entre seus objetivos a valorização de ações especializadas, principalmente voltadas para o adoecimento do aparelho genital e urológico. Entretanto, não são discutidas ações de prevenção e promoção em nível primário voltadas aos homens e ao desenvolvimento da autonomia, (re)produzindo estereótipos de gênero que prejudicam o cuidado do homem.
Conclusões/Considerações Finais Apesar do caráter inovador, a PNAISH ainda se apresenta como um projeto em construção. A análise dos documentos envolvidos na construção da PNAISH sugerem a complexidade que permeia o seu processo de implantação e implementação. Ainda há muito a se caminhar para a desconstrução de construtos que (re)produzem desigualdades de saúde entre homens e mulheres na saúde sexual e reprodutiva.
É possível observar que um desenho de gênero verdadeiramente transversal e equânime apenas se esboça na PNAISH, pedindo, portanto, um olhar mais ampliado às inúmeras questões existentes e que se renovam no âmbito da saúde sexual e reprodutiva. Ainda são necessárias muitas ações que trabalhem as resistências a maiores liberdades e igualdades sexuais e reprodutivas e que acompanhem a diversidade de relações e as desigualdades ainda presentes, atuando para que o direito de ser, estar e circular no mundo de diferentes formas diante da vida sejam exercidos.
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