11/10/2016 - 15:00 - 16:30 GT 39 - Migração e Saúde 02 |
11526 - UTILIZAÇÃO DE SERVIÇOS DE SAÚDE POR IMIGRANTES HAITIANOS RESIDENTES EM CUIABÁ-MT JENNIFFER FRANCIELLI DE SOUSA ALVES - INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA/UFMT, ANA PAULA MURARO - DEPARTAMENTO DE SAÚDE COLETIVA/UFMT, FABIANO TONACO BORGES - DEPARTAMENTO DE PLANEJAMENTO EM SAÚDE/UFF, MARIA ÂNGELA C. MARTINS - DEPARTAMENTO DE SAÚDE COLETIVA/UFMT
Apresentação/Introdução O Haiti enfrenta uma crise política há mais de 20 anos e amarga a condição de país mais pobre das Américas. Frente a este cenário, a emigração tem sido uma das estratégias para a busca de melhores condições de vida e de emprego, sendo o Brasil um dos destinos escolhidos pelos haitianos nos últimos anos. Muitos destes se estabeleceram em Cuiabá, que foi uma das sub-sedes da Copa do Mundo em 2014. O fenômeno da imigração evidenciou a fragilidade da estrutura e o despreparo do país na atenção à saúde do imigrante e também a carência de políticas públicas voltadas a esta população. Por ser um fenômeno recente, ainda são poucos os estudos de análise da situação de saúde deste grupo populacional. Portanto, destaca-se a necessidade da análise do perfil de utilização dos serviços de saúde que, por sua vez, contribuirá para o planejamento de ações voltadas as necessidades de saúde de forma eficiente, respeitando as singularidades desse povo.
Objetivos O objetivo foi analisar a utilização de serviços de saúde por migrantes haitianos residentes na região metropolitana de Cuiabá, Mato Grosso, entre 2014 e 2015, perscrutando informações socioeconômicas, de assimilação da língua portuguesa e acesso aos serviços de saúde.
Metodologia Desenvolveu-se um estudo exploratório, de delineamento transversal com uma amostra probabilística de 452 imigrantes haitianos residentes na grande Cuiabá. Os participantes da pesquisa responderam à um questionário com informações socioeconômicas, condições de saúde e utilização de serviços de saúde. Para o seguinte trabalho, as seguintes variáveis foram analisadas: idade (avaliada em anos completos e classificadas em faixas etárias); renda individual (em reais, referente ao último mês); escolaridade (em anos completos com aprovação); idiomas que fala/compreende; há quando tempo reside no Brasil; Se já precisou utilizar algum serviço de saúde (sim/não); e quais os tipos de serviços e sua natureza (público/privado). A coleta de dados ocorreu entre dezembro de 2014 e fevereiro de 2015 e foi aprovada pelo CEP do Hospital Universitário Júlio Muller da UFMT. Os dados passaram por dupla digitação por meio do Software Epi Info 7 e o software SPSS foi utilizado para a análise dos dados.
Discussão e Resultados Foram entrevistados 452 haitianos (82,5% do sexo masculino). Aproximadamente metade dos entrevistados tinham entre um e dois salários mínimos (46,0%) e uma importante proporção relataram não ter obtido nenhuma renda (30,1%). Foi maior a proporção de mulheres que relataram ter utilizado algum serviço de saúde no Brasil quando comparados aos homens (65,8% vs 41,3, p<0,01). Além disso, foi maior a prevalência de utilização de serviço de saúde entre aqueles com maior renda, com melhor entendimento do português, que dominavam Crioulo haitiano e outros dois ou mais idiomas e com maior tempo no Brasil (p<0,05 para todas as variáveis). Em relação aos tipos de serviços e a sua natureza, 18,6% utilizaram serviço de atendimento de emergência público; 21,5% utilizaram serviços de Unidade Básica de Saúde (UBS) pública; apenas 1,2% disse ter utilizado atendimento de emergência privado; 1,6% utilizaram clínica médica especializada; 0,44% utilizaram clínica odontológica pública; 1,87% utilizaram clínica odontológica privada.
Conclusões/Considerações Finais Verificou-se desigualdades entre gêneros na utilização dos serviços de saúde, sendo maior a procura pelas mulheres. Destaca-se a necessidade de ações voltadas para o sexo masculino ressaltando a importância da promoção à saúde. Existem alguns estudos que indicam que indivíduos com menor renda utilizam menos os serviços de saúde, o que pode ser constatado também entre os imigrantes entrevistados. Sobre o idioma, aqueles com melhor entendimento do português utilizaram mais os serviços de saúde, reforçando a hipótese de que a linguagem pode ser uma barreira para a utilização dos serviços de saúde entre imigrantes internacionais. Destaca-se a necessidade de empoderamento dos imigrantes sobre direitos, a forma de uso da rede de serviços de saúde, bem como o desenvolvimento de educação permanente para os profissionais de saúde à respeito da saúde do imigrante. Recomenda-se construir alternativas de comunicação não verbal auxiliará o melhor acesso por imigrantes nos serviços de saúde.
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