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Grupos Temáticos
12/10/2016 - 15:00 - 16:30 GT 27 - Alimentação e Políticas Públicas numa Abordagem das Ciências Humanas |
10980 - ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL PARA IDOSOS: O QUE PROPÕEM AS AGENDAS PÚBLICAS BRASILEIRA E ESPANHOLA? MARIA FÁTIMA GARCIA DE MENEZES - INSTITUTO DE NUTRIÇÃO/UERJ, SHIRLEY DONIZETE PRADO - INSTITUTO DE NUTRIÇÃO/UERJ, MABEL GRACIA ARNAIZ - UNIVERSIDAD ROVIRA I VIRGILI, MARIA CLÁUDIA CARVALHO DA VEIGA SOARES - INSTITUTO DE NUTRIÇÃO JOSUÉ DE CASTRO/UFRJ, FRANCISCO ROMÃO FERREIRA - INSTITUTO DE NUTRIÇÃO/UERJ
Apresentação/Introdução O presente estudo se insere na temática complexa do envelhecimento nas sociedades contemporâneas e sua relação com o campo da Alimentação e Nutrição. Integra um projeto maior intitulado “Concepções de alimentação saudável no Brasil e Espanha: reflexões a partir das Ciências Sociais e Humanas”. Envelhecer e comer são fenômenos vinculados ao homem biológico, como uma etapa cronológica da vida ou um conjunto de alimentos para atender as necessidades nutricionais e manter o corpo em homeostase, respectivamente. No entanto, devem ser vistos também como fatos sociais, históricos e culturais. Os modos como envelhecemos e comemos encontram-se intimamente relacionados com as formas de organização do viver, com diferentes visões de mundo em distintos contextos. Os dois países, em suas inúmeras diferenças, vêm enfrentando o desafio do crescimento da população idosa e o aumento do sobrepeso e das doenças crônicas não-transmissíveis. Em face de tais problemas, vêm elaborando políticas públicas, expressas por meio de documentos governamentais, norteadores das ações relativas à promoção do que vem sendo nomeado como envelhecimento e alimentação saudáveis.
Objetivos O objetivo do presente trabalho é refletir sobre como a alimentação saudável para idosos é vista na perspectiva das agendas públicas brasileira e espanhola, buscando identificar aproximações e afastamentos.
Metodologia Trata-se de uma análise documental visando a construção de interpretações relativas às orientações propostas sobre alimentação saudável. Conforme André Cellard, os documentos foram avaliados criticamente em cinco dimensões: o contexto, a conjuntura; identidade, interesse e motivos do autor; autenticidade e confiabilidade; natureza (área) em que foi produzido; conceitos-chave e lógica interna. Foi um exercício de desconstrução: recortar, organizar, identificar elementos, descrever relações. Trata-se de buscar não apenas o que está expresso no documento ou verdades, mas de problematizar as fontes e analisar o que se encontra nas “entrelinhas”. O ponto de partida foi um roteiro previamente construído com diferentes informações, que incluíam desde quem era o editor até uma pré-análise temática do conteúdo e ilustrações. A seleção dos documentos, com a finalidade de possibilitar a comparação, seguiu uma mesma tipificação: documentos de diretrizes gerais, guia prático e manual para profissionais.
Discussão e Resultados No Brasil identificamos o documento de diretrizes gerais “Guia alimentar”; o guia prático “Siga os dez passos” e o manual para profissionais “Manual”, todos de âmbito nacional, editados pelo Ministério da Saúde. Na Espanha, como documento de diretrizes gerais selecionamos a “Estrategia NAOS” e o “Libro blanco”; os guias práticos “Come sano” e “Comer bien” e os manuais “Guia de la orientación” e “Taller alimentación”; os quatro primeiros, também de âmbito nacional, editados pelo Ministério da Saúde e os dois últimos, de âmbito local, editados pelos governos das Comunidades Autônomas de Madrid e Cataluña. A proposição de orientações nos dois países se apoiou no panorama nutricional e tomou como referência um documento transnacional editado pela Organização Mundial da Saúde. Foram discutidos os seguintes temas: os idosos como uma categoria homogênea, o biopoder, a sociedade de controle e de risco. Em todos os documentos os indivíduos são responsabilizados por sua alimentação e devem seguir as recomendações da ciência e dos especialistas. É com o seguimento das regras estabelecidas que a vida se abre em possibilidades e a promessa de não doença, de juventude, de longevidade se materializa.
Conclusões/Considerações Finais Brasil e Espanha, países com tantas diferenças constroem modelos muito semelhantes, com a perspectiva de que os problemas são globais e, portanto, as proposições também o são. Os alimentos são vistos apenas como veículos de nutrientes, a alimentação medicalizada e racionalizada e os indivíduos responsabilizados por sua saúde. Uma possibilidade de contraposição relativa às condições (des)favoráveis não aparece nas regras; tampouco a necessidade de construção de mudanças na sociedade. Não há espaço para o prazer ou para viver o risco, que nos parece fundamental para nos sentirmos vivos e saudáveis. E, muito menos, o exercício necessário de construção e reconstrução cotidiana, de olhar para si, de identificar as necessidades, de buscar uma alimentação fonte de prazer e de reconhecer as condições reais de sua existência. Reiteramos que não se trata de negar os esforços de instituições e profissionais, mas refletir sobre as dificuldades e contradições da vida cotidiana.
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