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Grupos Temáticos
10/10/2016 - 13:30 - 15:00 GT 35 - Direitos Humanos, Sofrimento Social e Saúde Mental |
10878 - SAÚDE PSÍQUICA EM CONTEXTOS DE GUERRA: A EXPERIÊNCIA DE VÍTIMAS DO CONFLITO ARMADO COLOMBIANO RAFAEL ANDRÉS PATIñO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO SUL DA BAHIA, GABRIELA LAMEGO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO SUL DA BAHIA, ANTONIO MARCOS CHAVES - UFBA
Apresentação/Introdução O conflito armado colombiano contabiliza até o presente mais de 6 milhões de vítimas. Sequestro, assassinato, tortura, violência sexual, deslocamento e desaparecimento forçado, são alguns dos crimes sofridos pela população afetada, em mais de 50 anos de confrontação bélica. Estudos clássicos e contemporâneos apontam as consequências devastadoras sobre a saúde de sujeitos e coletividades afetados por dinâmicas de guerra e violência. No caso da Colômbia, pesquisadores reconhecem a violência derivada do conflito armado como relevante problema de saúde pública, afetando física e psicoemocionalmente milhões de pessoas, predominantemente civis. Neste trabalho, apresentamos os resultados de uma pesquisa centrada na experiência traumática de pessoas que sofreram o desaparecimento forçado de um ente querido. Focamos nas consequências psicossociais do acontecimento violento e nas tentativas de significar o próprio sofrimento construindo sentidos sobre a saúde, o corpo e dos processos de saúde/doença.
Objetivos 1. Identificar as formas como familiares de desaparecidos, no contexto do conflito armado colombiano, constroem sentidos em torno do seu próprio corpo e dos processos de saúde/doença.
2. Identificar algumas ações psicossociais e institucionais relevantes para os processos de elaboração da experiência traumática e a superação do luto.
Metodologia A pesquisa se fundamentou, do ponto de vista epistemológico, na perspectiva histórico-cultural da Psicologia Social. Foi traçado um desenho qualitativo de casos múltiplos, partindo de uma concepção dialógica da relação entre pesquisador e participante, no processo intersubjetivo de produção de conhecimento. Os participantes foram 16 mulheres e dois homens, familiares de desaparecidos forçados, atendidos por um programa governamental de apoio a vítimas da violência, com os quais foram realizadas entrevistas em profundidade e grupos de discussão. O material discursivo produzido foi analisado com base em categorias orientadoras e uma lógica adutiva, em uma unidade hermenêutica no programa Atlas.ti 6.2 para análise de dados qualitativos.
Discussão e Resultados O sofrimento produzido pelo desaparecimento forçado de um ente querido está determinado em grande parte pela incerteza da sua morte. A impossibilidade de realizar a prova de realidade e o funeral constituem obstáculos adicionais para o percurso normal do luto. Tal acontecimento supera as as possibilidades de significação dos sujeitos, que permanecem indefinidamente sem realizar o luto, afetados na referência de si mesmos, na autoconfiança e autonomia. Neste processo, os sujeitos realizam tentativas para significar e elaborar a experiência violenta e os acontecimentos a ela relacionados. Uma dessas tentativas se dá em torno da significação do próprio corpo e das mudanças relacionadas com a saúde. O sofrimento derivado da incerteza e da impossibilidade de elaborar a perda se inscreve no próprio corpo e o acontecimento violento se torna causa e explicação de processos de adoecimento. Nessa dinâmica, dores de cabeça, pressão alta, insônia, câncer e outros sintomas e doenças são explicadas em função da experiência violenta. Há, neste processo, uma tentativa malsucedida de simbolizar os acontecimentos violentos e de elaborar a experiência traumática.
Conclusões/Considerações Finais Concluímos, que o estado emocional se espelha no corpo quando diversas alterações somáticas são explicadas em função de tristeza, raiva, desolação ou outros sentimentos relacionados com a perda de um ente querido ou diversos acontecimentos violentos. Ao mesmo tempo, este processo é uma tentativa de significação da experiência violenta.
Como consequência do anterior, entendemos que existe uma relação inseparável entre as dimensões psíquica e biológica da saúde e, os aspectos subjetivos e sociais-culturais que a condicionam, tornando-a um fenômeno complexo e multifacetado.
Finalmente, embora no caso dos desaparecidos forçados existam obstáculos adicionais para a elaboração do luto, a significação e superação da experiência violenta é possível e envolve ações psicossociais e institucionais (entre elas rituais, ações da justiça e de reparação simbólica) que poderão ter consequências positivas na saúde das subjetividades individuais e coletivas afetadas pelos acontecimentos violentos.
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