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Grupos Temáticos

10/10/2016 - 15:00 - 16:30
GT 14 - Prevenções Emergentes: Sobre Testagem, Medicamentos e Tratamento

11082 - MEDICALIZAÇÃO DA AIDS E BIOPOLÍTICA: PROBLEMATIZANDO SUBJETIVAÇÕES E O TCP NA ATUALIDADE DO HIV/AIDS
RICARDO DELGADO MARQUES DE LIMA - UNICAP, MARIA CRISTINA DE ALMEIDA LOPES AMAZONAS - UNICAP


Apresentação/Introdução
Passados 35 anos do início da epidemia, calcula-se que existem aproximadamente 37 milhões de pessoas ainda vivendo com o HIV. Os avanços sobre o acesso às terapias antirretrovirais são expressivos, e a mortalidade também diminuiu. O Brasil, apesar do êxito inicial dos programas de combate à epidemia, apresentou, até 2014, um crescimento de 11% de casos, sendo estes localizados em grupos sociais historicamente mais vulneráveis, segundo a UNAIDS. As pessoas ainda sofrem muito por serem portadoras do HIV/Aids. Isso pede por novas ações e reflexões, considerando-se as metas instituídas rumo à erradicação da epidemia até o ano de 2030. Uma das estratégias é a Tratamento como Prevenção (TcP), que coloca um foco grande na testagem para o HIV e no acesso às Terapias Antirretrovirais (TARV). A abordagem eminentemente biomédica no início da Aids trouxe consequências que precisam ser repensadas sempre, pois os sujeitos da Aids apresentam características individuais. Se o conhecimento sobre a Aids ampliou-se ao longo dessas décadas, políticas como TcP podem ser um retorno a um olhar eminentemente biologicista. O que essas subjetividades podem nos dizer sobre a Aids e as demandas individuais?


Objetivos
A noção de biopolítica de Michel Foucault destaca uma característica da sociedade disciplinar que, organizando um processo agenciador de formas de subjetivação, tem o corpo como lugar de ação política na governança da sociedade. Corpos dóceis são necessários para a manutenção de um discurso sobre a vida e a saúde. O objetivo desta pesquisa é de problematizar a TcP como um discurso agenciado pela biopolítica, que agiria circulando um saber específico sobre a Aids, dentro da lógica sanitarista da economia dos corpos e vigilância sobre a vida.


Metodologia
Trata-se de uma pesquisa de campo de caráter qualitativa. Realizaram-se entrevistas semiestruturadas com 6 PVHA, usuários do SAE (Serviço de Atendimento Especializado em DST/Aids) em Recife-PE, selecionados a partir de uma amostragem intencional e acidental, onde a pergunta disparadora foi: “Como é para você, viver com o HIV/Aids?”. A pesquisa foi submetida e aprovada pelo comitê de ética da UNICAP, os dados pessoais preservados para se manter o sigilo sobre os sujeitos da pesquisa, que assinaram o TCLE. A análise dos dados foi realizada tomando-se como caminho metodológico uma análise enunciativa, a partir do pensamento de Michel Foucault. Esse caminho destaca a problematização de um objeto de estudo a partir de sua historicidade, numa perspectiva pós-estruturalista. As falas coletadas são analisadas e compreendidas como construídas dentro de um processo de subjetivação, onde esses sujeitos são atravessados por elementos discursivos e não-discursivos, parte de um jogo do saber/poder.


Discussão e Resultados
A construção de um sujeito da Aids pôde ser observado na forma de uma bioidentidade, a construção de uma consciência de si a partir da “soropositividade”. Esses sujeitos questionam-se sobre seus estilos de vida e se atribuem um papel de responsabilização para consigo mesmo e com o outro (uma ética do cuidado), numa culpabilização acerca de sua própria infecção pelo HIV, ou da possibilidade de transmiti-lo para o outro. Agora, o cuidar da própria saúde e da sexualidade é também um cuidar do outro. Colocam-se um ideal de “vida normal” através da ideia de saúde e boa aparência do corpo. Identificou-se que o medo da morte e do adoecer ainda está muito presente nas PVHA. Suas vidas afetivo-sexuais são vigiadas através das tecnologias de si, fabricando sujeitos de uma sexualidade sem excessos: um imperativo da prevenção. Referem uma mudança no modo como se relacionam com outras pessoas. O discurso da sexualidade ainda remete a uma verdade do sujeito a ser decifrada, com um grande potencial de estigmatização de grupos sociais, a exemplo dos gays, no início da epidemia. A Aids continua a ser uma operação política sobre a sexualidade através do controle dos corpos e comportamentos.


Conclusões/Considerações Finais
O Brasil é o terceiro país no mundo a adotar o uso universal do TARV em PVHA, independentemente da contagem de células CD4, batizado de TcP. A abordagem terapêutica baseia-se na ideia de que quando se têm a infecção pelo HIV controlada nas PVHA, consegue-se a redução da transmissão do HIV. Essa política pública de saúde levanta questões éticas, com ecos higienistas. Seria um recentramento da lógica do tratamento no saber biomédico e assim a construção, de novo, de uma visão reducionista e estigmatizante da Aids? Os resultados da pesquisa apontam que a Aids circula como um discurso subjetivante com efeitos de dispositivo de gerência da vida (biopolítica), objetivando o controle dos corpos e da população, através de uma vigilância sobre a sexualidade e os estilos de vida. Parece fazer o conceito de “vida boa” ser tomado como sinônimo de “vida saudável”: saudável e asséptica. Essa lógica remete à potencialização da vida a todo custo, através da medicalização como garantia da vida.


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