10/10/2016 - 15:00 - 16:30 GT 14 - Prevenções Emergentes: Sobre Testagem, Medicamentos e Tratamento |
11105 - HIV/AIDS E PROFILAXIA PÓS-EXPOSIÇÃO SEXUAL: ESTUDO DE CASO DE UMA ESTRATÉGIA DE SAÚDE SANDRA LÚCIA FILGUEIRAS - SES / RJ, ALUÍSIO GOMES DA SILVA JÚNIOR - UFF, IVIA MAKSUD - IFF / FIOCRUZ
Apresentação/Introdução Inúmeros avanços tecnológicos têm contribuído para melhoria da resposta dos governos e da sociedade civil no enfrentamento da Aids. A difusão de estudos sobre novas estratégias de prevenção foi intensificada pelo impacto da terapia antirretroviral e seus efeitos na transmissibilidade do HIV. O debate atual enfatiza, além do uso do preservativo, a necessidade de inclusão de novas tecnologias biomédicas capazes de potencializar o cuidado frente às diferentes situações de vulnerabilidade e risco. Todavia, sua apropriação em benefício da população exige exame e reflexão crítica sobre práticas de saúde, gestão dos serviços e organização dos processos de trabalho. No Brasil, a Profilaxia Pós-exposição foi inicialmente recomendada para utilização em situações de acidentes ocupacionais, e posteriormente ampliada para situações de violência sexual e de exposição sexual consentida (PEP sexual). A disponibilização da PEP sexual em serviços do SUS nos diversos estados brasileiros encontra-se em estágios diferenciados. Compreender o modo de operar e gerir a PEP sexual no cotidiano dos serviços pode contribuir para torná-la viável e efetiva na redução da infecção pelo HIV na população.
Objetivos Esta pesquisa teve como objetivo geral analisar os modos de aplicação da Profilaxia Pós-Exposição sexual consentida em um serviço de saúde do SUS, visando à identificação de fatores associados às limitações e possibilidades de “sucesso prático” desta estratégia, como dispositivo de cuidado na prevenção do HIV. Os objetivos específicos decorrentes foram: analisar a organização do processo de trabalho para incorporação da PEP sexual no cotidiano do serviço de saúde; e analisar as experiências relacionadas a PEP sexual tanto dos usuários como dos profissionais de saúde.
Metodologia Estudo de caso em um serviço público de saúde do Estado do Rio de Janeiro, utilizando métodos qualitativos e perspectiva analítica das ciências sociais, humanas e da saúde. Foram realizadas dez entrevistas semiestruturadas - cinco profissionais de saúde e cinco usuários - e conversas informais. As observações decorrentes do período do trabalho de campo, realizado de agosto a dezembro de 2014, foram registradas em diário de campo. O princípio da integralidade, em suas dimensões ligadas às práticas de saúde e organização do processo de trabalho (Mattos, 2004), foi utilizado como principal marco teórico para a análise dos dados. Estes foram organizados a partir de três eixos de análise: percepção de risco, cuidado e processo de trabalho. Também foram observados aspectos relacionados à intersubjetividade entre profissionais e usuários, à construção do cuidado integral, ao estímulo à autonomia dos sujeitos usuários e ao respeito aos direitos humanos.
Discussão e Resultados Os espaços de intersubjetividade circunscritos pela busca / indicação da PEP sexual foram atravessados por distintas lógicas de risco, por padrões morais discriminatórios, e por um modelo de atenção médico centrado e prescritivo. Alguns depoimentos revelaram que os conceitos de grupo e comportamento de risco ainda pautam condutas na vida pessoal e nas práticas de saúde, em descompasso com a mudança do paradigma do risco para o de vulnerabilidade.
A interação entre profissionais e usuários, de modo geral, caracterizou-se por um simples repasse de informação e normatização de condutas. Mais raramente, houve diálogo, a racionalidade da práxis predominou sobre a racionalidade tecnológica, e o atendimento às demandas de PEP sexual se transformou em cuidado integral.
Para incorporação da nova tecnologia na rotina do serviço, faltaram espaços que permitissem a discussão, integração e capacitação dos trabalhadores no desenvolvimento desta ação de saúde, além de uma gestão democrática na organização dos processos de trabalho. Os dados evidenciaram que o processo de gestão instalado no serviço para implantação da PEP sexual não se orientou pela perspectiva da integralidade.
Conclusões/Considerações Finais A pesquisa forneceu elementos para a reflexão crítica sobre o que pode nos afastar ou aproximar do “sucesso prático” (Ayres, 2009) da PEP sexual.
Quando a atenção em saúde se dá a partir da necessidade das pessoas, os recursos tecnológicos disponíveis podem ser acionados, de fato, em seu benefício. Nessa perspectiva, a aplicação da PEP sexual pode se viabilizar como um dispositivo de cuidado integral na prevenção do HIV.
Ter acesso a este cuidado integral é direito de todos e pode permitir a construção de estratégias de prevenção compatíveis aos limites e possibilidades de cada um.
No cruzamento de tantas vias e tantas vidas, a PEP sexual pode ser um sinal aberto para alguns e não para outros. É no ato de cuidar que estas sinalizações podem ser percebidas.
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