10/10/2016 - 13:30 - 15:00 GT 25 - Saúde, SUS e Ciência na Mídia |
11520 - CIÊNCIA MÉDICA COMO DISPOSITIVO BIOPOLÍTICO NAS MATÉRIAS SOBRE SAÚDE NO JORNAL NACIONAL. EDUARDO CARON - FSP-USP, FERNANDO LEFEVRE - FSP-USP
Apresentação/Introdução Discutimos aqui os resultados de pesquisa sobre ciência e tecnologia em saúde em matérias jornalísticas veiculadas pelo Jornal Nacional da Rede Globo de Televisão em 2012. Impactos do avanço das ciências biomédicas e da centralidade do espaço midiático na vida social têm marcado o século XXI com implicações políticas, éticas e epistemológicas na área da saúde. Conhecimentos das ciências médicas informam critérios normativos em diversas esferas sociais e atualizam a medicalização da vida cotidiana. A veiculação de informação tecnocientífica sobre saúde na mídia traduz e incorpora conceitos de complexidade crescente ao mercado. Num contexto social em que a experiência da vida cotidiana é cada vez mais midiatizada, submetida à reflexividade, e as identidades e inserção social se produzem através do consumo, a mídia torna-se um espaço privilegiado de subjetivação e produção de condutas. Neste processo pesquisa científica, mercado e modelo tecnoassistencial em saúde encontram-se imbricados.
Objetivos Analisar no corpus midiático estudado:
a) As formas de construção do campo discursivo verbal e imagético.
b) A inter-relação das matérias sobre pesquisas científicas e inovações tecnológicas com o mercado de produtos de saúde.
c) As formas de apresentação e construção da corporeidade.
d) Os temas, objetos e formas de apresentação das pesquisas biotecnológicas.
Metodologia Amostra: Nesta investigação foram analisadas 246 inserções sobre saúde apresentadas no Jornal Nacional ao longo dos 12 meses de 2012, totalizando 7 horas e 15 minutos de vídeo disponibilizadas no site http://g1.globo.com/jornal-nacional/videos e acessadas através da palavra chave SAUDE. Estas 246 inserções foram apresentadas em 159 edições do Jornal, isto é, o tema saúde aparece em metade de todas as edições ao longo do ano de 2012, sendo que saúde foi a matéria de abertura de 9 edições.
Categorias Temáticas: Os temas centrais abordados nas 246 reportagens foram analisados segundo as seguintes categorias temáticas que correspondem a 87% da amostra: Hospital (28%), Ciência & Tecnologia (20%), Hábitos e Comportamento (12%), Mercado de produtos e serviços (11%), Epidemiologia (10%) e Corporação Médica (6%).
Discussão e Resultados a) Expressiva intersecção entre as matérias sobre Hospital, Ciência & Tecnologia e Mercado que somam 59% do total das matérias.
b) 82% das matérias sobre pesquisas referem-se a produtos a serem ofertados no mercado: 43% farmacêuticos e 39% hospitalares.
c) 80% das matérias sobre Ciência & Tecnologia são voltadas para o controle de doenças. As mais frequentes são as neurológicas (23%) e as neoplasias (19%).
d) 30% da programação sobre Ciência & Tecnologia tratam temas de biotecnologia - engenharia biomédica, genômica, biologia molecular, embriologia e biomateriais.
e) As reportagens apresentam uma precisão resolutiva dos procedimentos fundada numa molecularização e ultra-fragmentação do corpo.
f) As reportagens apresentam uma multiplicidade de imagens eletrônicas do interior do corpo e de visualização de processos bioquímicos.
g) Em 29% das reportagens sobre pesquisas científicas, pacientes relatam sua experiência pessoal com procedimentos e fármacos. O drama pessoal potencializa o valor do procedimento tecnológico e facilita identificações.
Conclusões/Considerações Finais Nestas reportagens a medicalização se mostra imbricada nos processos comunicacionais, constituindo um campo discursivo médico-centrado que funciona como dispositivo biopolítico:
Ao se ensinar um conhecimento médico há a fabricação simbólica de novas necessidades em saúde que se estendem para a vida cotidiana.
A orientação para o mercado das pesquisas científicas reportadas conforma a saúde enquanto área de negócios fundada sobre as ciências médicas.
Dois aspectos nestas reportagens caracterizam o corpo biológico como um artefato:
a) Uma progressiva reificação, fragmentação e virtualização da corporeidade através da difusão de imagens computadorizadas do interior do corpo.
b) A relevância dos temas biotecnológicos apresenta um espaço biológico aberto à alteração, que deixa de ser um dado de uma natureza constitutiva e passa a ser passível de engenharia e construção.
A interferência biotecnológica nos processos da vida rompe fronteiras epistemológicas entre o mundo da natureza e o dos homens.
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