12/10/2016 - 13:30 - 15:00 GT 35 - Práticas de Cuidado e Operadores de Desinstitucionalização e de Recovery em Saúde Mental e entre Usuários de Drogas |
11509 - PARTICIPAÇÃO SOCIAL COMO ESTRATÉGIA DE CONSCIENTIZAÇÃO E RECOVERY CARLOS EDUARDO MENEZES AMARAL - UNICAMP
Apresentação/Introdução No campo da saúde mental existem vários movimentos que lutam pelos direitos das pessoas em sofrimento psíquico grave, buscando desde a qualificação da atenção à saúde até o fortalecimento de sua participação social em outras esferas da vida cotidiana (trabalho, lazer, sexualidade, cidadania etc.). Essas lutas têm conseguido importantes conquistas junto ao Estado, sociedade e serviços de atenção à saúde mental. Contudo, uma experiência importantíssima que frequentemente ocorre no bojo desses movimentos, mas que é pouco ressaltada na literatura, são as transformações observadas nos participantes (profissionais, usuários e familiares) desses movimentos, na perspectiva que Paulo Freire chama de conscientização, assim como a incorporação dessa participação enquanto projeto de vida das pessoas com problemas de saúde mental, dentro da perspectiva denominada de recovery. A influência que tais experiências possuem na construção da identidade pessoal e coletiva das pessoas com sofrimento psíquico grave é ainda pouco compreendida, de forma que buscamos nessa investigação obter alguns elementos a partir da vivência de pessoas engajadas em diferentes movimentos sociais.
Objetivos Compreender mudanças relacionadas à participação de pessoas com sofrimento psíquico grave em espaços reinvindicatórios. Objetivos específicos: 1) compreender as trajetórias dentro de espaços de luta coletiva; 2) compreender a importância da participação de cada pessoa em sua auto-percepção, incluindo o valor pessoal e direito à cidadania; 3) identificar as conquistas pessoais e coletivas atribuídas à participação nos espaços reivindicatórios; 4) compreender a articulação dos processos reivindicatórios setoriais (saúde e saúde mental) com processos mais amplos de garantia de outros direitos.
Metodologia Realização entrevistas com pessoas que apresentam problemas graves de saúde mental, e que participam com regularidade de experiências de luta coletiva. Observação assistemática de atividades promovidas por coletivos nos quais ocorre a participação de alguns dos integrantes da pesquisa. Hermenêutica-dialética dos relatos e obervação assistemática.
Discussão e Resultados Dentro da perspectiva de conscientização ressaltada nesse trabalho, podemos observar um aprofundamento de consciência resultante da percepção de que os problemas que vivenciam individualmente são compartilhados pelos outros participantes, criando uma solidariedade de grupo que possibilita o deslocamento de ações e reflexões do nível individual para o coletivo. Pode-se perceber um movimento que se inicia na indignação e reclamação acerca da “doença”, mas também da opressão cotidiana, desdobrando-se para uma busca de alternativas coletivas aos problemas vivenciados. O empoderamento possibilitado pelo grupo permite o reposicionamento das pessoas com problemas de saúde mental frente a outras instâncias da vida social, inclusive em espaços formais de reinvindicação (Ministério Público, Defensoria Pública, Conselho Municipal de Saúde e outros órgãos). Nos momentos mais recentes da pesquisa, destaca-se a influência do atual cenário político de reinvindicações em relação à situação política nacional, em especial no que diz respeito aos representantes do Ministério da Saúde e coordenação nacional de saúde mental, assim como a luta pela garantia de qualidade e universalidade do sistema único de saúde.
Conclusões/Considerações Finais A criação de espaços coletivos fora da institucionalidade dos serviços de saúde permite e convida a uma radicalização da autonomia, entendida agora não apenas como o aumento da horizontalidade nas relações com profissionais de saúde, mas também em relação a um reposicionamento frente a sua condição de opressão social. Observa-se a mudança na concepção do direito como favor para a noção de “conquista coletiva”. Além disso, percebe-se a possibilidade de criação de um sentido que extrapola a “experiência da doença” e a condição de assujeitamento a ela associada.
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