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Grupos Temáticos

10/10/2016 - 13:30 - 15:00
GT 28 - Saúde, Produção e Trabalho

10890 - TRANSTORNOS DEPRESSIVOS E CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO
ELTON ROGERIO CORBANEZI - UFMT


Apresentação/Introdução
Diferentemente das versões anteriores, a terceira edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-III) apresenta um novo paradigma psiquiátrico que altera radicalmente o modo como a psiquiatria compreende os transtornos depressivos. A despeito da pretensa eliminação de pressupostos etiológicos que constitui uma inovação clínica e metodológica fundamental estabelecida pelo DSM-III, a predominante ação terapêutica de antidepressivos visa especialmente a recobrir o déficit de neurotransmissores, que operam então como causalidade latente independentemente das circunstâncias desencadeadoras do transtorno. Associada ao desenvolvimento da psicofarmacologia, a psiquiatria contemporânea – pretensamente ateórica e descritiva – apresenta o seguinte paradoxo: ao mesmo tempo em que registra a ausência de marcadores biológicos da depressão, como ainda se lê no DSM-5, sua prática clínica crê na existência deles. Percebe-se como a abordagem ateórica da depressão preconizada desde o DSM-III implica uma prática clínica e terapêutica que indica a parcialidade da concepção: em vez de problema existencial, a depressão se reduz a uma disfunção neuroquímica.


Objetivos
O objetivo da pesquisa, que realizamos no doutorado em Sociologia, é mostrar de que maneira a evolução da nosologia psiquiátrica da depressão – ou seja, o estabelecimento de diversos subtipos do transtorno – pode relacionar-se com determinadas demandas do capitalismo contemporâneo, para o qual a depressão parece constituir-se efetivamente como um problema de ordem epidêmica.


Metodologia
Apresentados os fundamentos básicos a partir dos quais a psiquiatria apreende a depressão e considerando a relativa continuidade de sua racionalidade nas sucessivas versões do manual, investigamos primeiro as concepções de transtornos depressivos desde o DSM-III, que instaurou o paradigma psiquiátrico vigente até nossos dias, enfocando especialmente as duas últimas versões do manual (DSM-IV-TR e DSM-5). Ao lado da Classificação Internacional de Doenças da OMS, as edições recentes do manual constituem os principais sistemas classificatórios de psiquiatria, orientando a prática clínica e embasando conceitualmente a ideia atual de epidemia depressiva. Em seguida, fazemos ver como a teoria econômica do capital humano, elaborada por economistas neoliberais da Escola de Chicago, se converte em valor social que, aceito e disseminado amplamente, orienta a conduta de vida dos indivíduos tanto em sociedades liberais avançadas quanto nas terceiro-mundistas.


Discussão e Resultados
Após cartografar as concepções de transtornos depressivos nos manuais psiquiátricos vigentes e mostrar como a teoria econômica do capital humano se inscreve em todo o tecido social orientando a conduta de vida dos indivíduos, pode-se afirmar que um dos critérios fundamentais estabelecidos para verificar a existência de tais transtornos se associa à essência produtivista do ethos contemporâneo. É que, diante da ausência persistente de achados laboratoriais que comprovem a efetividade dos transtornos depressivos, é a incapacidade social e produtiva que os caracteriza e os define segundo diferentes ordens e combinações de duração, frequência e intensidade dos sintomas. Tal critério não seria problemático em si, isto é, se não vivêssemos em uma lógica social em que o investimento no próprio indivíduo e o aprimoramento constante da eficiência, da produtividade, da autorrealização e do desempenho atuam como princípio normativo, restringindo cada vez mais o que define a normalidade. Daí a constatação de que a ramificação sistemática dos transtornos depressivos – que se multiplicam e variam em torno da “condição clássica” – produz categorias que tangenciam sempre a normalidade.


Conclusões/Considerações Finais
No centro da concepção empresarial de vida disseminada pela teoria do capital humano reside a noção de desempenho, que funciona como medida de sucesso e fracasso dos indivíduos em uma sociedade composta por “vencedores” e “perdedores”. Para a concepção psiquiátrica de depressão, a ausência ou a disfunção na capacidade de desempenho constitui um critério fundamental para verificar a existência do transtorno, cuja sintomatologia envolve fadiga, lentidão psicomotora, dificuldade comunicacional, ausência de energia, de motivação, entre outros déficits. Se o excesso é constitutivo da dinâmica neoliberal, a depressão, enquanto déficit e insuficiência, se apresenta como problema que inviabiliza a acumulação de capital humano. Sustentamos que a sistemática ramificação dos transtornos depressivos, que estabelece como patológico formas tênues de sofrimento, corresponde à lógica de intensificação do desempenho de determinadas capacidades individuais imprescindíveis ao capitalismo contemporâneo.


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