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Grupos Temáticos

11/10/2016 - 10:45 - 12:00
GT 27 - Imagens, Memórias e Perspectivas sobre o Comer

10937 - VISÃO ETNOCÊNTRICA DAS PRÁTICAS ALIMENTARES: PASSADO E PRESENTE
NADJA MARIA GOMES MURTA - UFVJM, VIRGÍNIA CAMPOS MACHADO - UFBA, ELIANE GARCIA REZENDE - UNIFAL, MARIA HELENA V.BÔAS CONCONE - PUC-SP


Apresentação/Introdução
A construção de conhecimento sobre a alimentação e nutrição tem permitido a superação de uma perspectiva biologicista e centrada na funcionalidade do alimento para outra, que congrega conhecimentos sobre as dimensões subjetivas e sociais que a envolvem. Assim, as práticas alimentares podem ser entendidas como demarcadoras de relações pessoais e sociais, expressões afetivas, relações com a saúde e cura de enfermidades, status social, poder político e econômico, autoestima e reconhecimento, entre outros.
No entanto, as práticas alimentares ainda são alvo de juízo etnocêntrico, entendido aqui como privilégio do “universo de representações”, visão do mundo em que os valores de um grupo são propostos como padrão, o que resulta numa tendência a menosprezar práticas cujos padrões se divergem da cultura do observador.
A análise de relatos do século XVIII e XIX pode contribuir para reflexões sobre essa visão que se perpetua na sociedade. As práticas alimentares de diferentes povos, narradas em publicações portuguesas, do século XVI ao XIX, permitem resgatar as raízes de um fazer etnocêntrico presente nos dias de hoje, chegando à formação de profissionais da área da saúde e da nutrição.


Objetivos
Discutir a abordagem etnocêntrica sobre práticas alimentares presente nas publicações sobre a alimentação de colonizados e colonizadores no Brasil nos séculos XVIII e XIX, correlacionando com a formação atual de nutricionistas.


Metodologia
O presente trabalho é um recorte da tese de uma das autoras: “O Acaso dos Casos: Estudos Sobre Alimentação-Nutrição, Cultura e História”. Nesta apresentação selecionamos as seguintes obras:Viagem de África em o Reino de Daomé, escrita pelo Padre Vicente Ferreira Pires em 1800; Memória a respeito dos escravos e tráfico da escravatura entre a Costa D’África e o Brazil, escrita pelo jurista Luis Antônio de Oliveira Mendes em 1793.
As narrativas dos viajantes retratam a alimentação de colonizados e colonizadores e permitiram destacar o eurocêntrismo das abordagens. A análise foi realizada com base nas considerações de González Rey sobre a produção de conhecimento qualitativo.



Discussão e Resultados
As narrativas sobre a alimentação de povos colonizados são marcadas pelo estranhamento, prevalecendo a ideia de que alimentos autóctones eram prejudiciais à saúde ou de “qualidade inferior”. Essa visão sustentava-se nas preferências e hábitos alimentares dos europeus e era validada pela medicina da época.
Depreciações quanto aos alimentos e à comida dos colonizados eram frequentes. Estas também ocorriam quando os alimentos conhecidos eram servidos em preparação “desigual ao gênio e paladar da Europa”. Em viagem ao Reino de Daomé, o Padre cuja missão era converter o Rei ao cristianismo, após alguns dias de estada refuta “o caruru de galinha” e os “bolões de milho” ofertado a ele duas vezes ao dia, suplicando ao Rei que mandasse em sua cabana “franguinhos crus” para fazer ao “costume” dele. Já o jurista Mendes estranha o modo como se comia o milho: “costumam torrar o milho, bem como nós assamos as castanhas; e depois dele entrar a estalar, e a abrir, o julgam assado, ao que no Brasil chamam pipoca”.
Os exemplos referentes ao consumo de alimentos registrados citados acima, permitem perceber o etnocentrismo e incitam o questionamento sobre a realidade atual.



Conclusões/Considerações Finais
A visão etnocêntrica encontrada nas narrativas históricas continua presente, sendo algo de difícil superação, mesmo que expressa de outras maneiras. No percurso de formação dos profissionais de saúde é frequente a classificação de algumas práticas como “não convencionais”, demonstrando os “valores de um grupo propostos como padrão”. Trazendo essa discussão para o campo da alimentação, acreditamos que a criticidade em relação ao etnocentrismo deve balizar a prática profissional que intencione a valorização de práticas alimentares de determinados grupos populacionais, a exemplo da utilização das plantas alimentícias não convencionais ou alimentos regionais, de modo que essas “não reduzam à insignificância culturas diferentes”. Se as práticas alimentares são complexas e de intensa dinâmica, estruturadas em “teias de significados” que precisam ser interpretadas, isso demanda superação da leitura biomédica dominante na formação do nutricionista.

Fomento: CNPq/CAPES


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