10/10/2016 - 13:30 - 15:00 GT 1 - Potencialidades das Etnografias da/na Saúde |
10967 - ETNOGRAFIA COM JOVENS ACOMPANHADOS EM UM CAPS ADULTO NA CIDADE DE SÃO PAULO DENISE - UNIFESP E UNISANTOS, ALINE MILHOMENS - UNIFESP
Apresentação/Introdução O conceito de juventude é uma construção sociocultural e histórica. É um período de transitoriedade para a vida adulta com diferenças nos percursos traçados. Alguns jovens experimentam a primeira crise psíquica caracterizando uma ruptura deste processo, dando início a uma forma particular nesta transição. Novos processos se iniciam com esta ruptura, nos quais em alguns momentos o controle sobre suas escolhas, desejos, pensamentos e ações fogem de si. É importante problematizar a realização de uma etnografia no contexto de um serviço de saúde mental no cuidado de jovens com sofrimento psíquico grave.
Objetivos Conhecer o significado da transição para a vida adulta em jovens que realizam acompanhamento em um serviço de atendimento em saúde mental.
Metodologia O estudo foi realizado em um Centro de Atenção Psicossocial II Adulto (CAPS), em um bairro periférico no município de São Paulo, Brasil. Os participantes estavam em regime de tratamento intensivo ou semi-intensivo e participavam de um grupo de jovens como proposta terapêutica. O grupo realizava atividades fora do serviço (passeios a parques, shoppings e outras atividades culturais). No trabalho de campo foi acompanhado o grupo de jovens e foram utilizadas as técnicas de observação participante, registros em um caderno de campo e entrevistas em profundidade. As entrevistas focaram nas questões relacionadas ao itinerário terapêutico, à experiência do sofrimento psíquico, perspectivas para a vida adulta, uso do tempo livre, cotidiano e atividades de lazer. A análise foi realizada pela perspectiva da reabilitação psicossocial e das ciências sociais. Consideramos importante expor o contexto institucional e a experiência pessoal da pesquisadora no processo de realização da pesquisa.
Discussão e Resultados Através da etnografia foi possível se aproximar das vivências desses jovens no que se refere ao pré, durante e pós-crise psíquica, possibilitando uma compreensão maior sobre seus processos de transição para a vida adulta. As rupturas e transformações de si e de seus contextos de vida proporcionadas pelas crises psíquicas não os mantiveram estagnados, uma vez que novas configurações de vida foram formadas, porém, com perdas na sociabilidade, na inserção no trabalho e na autonomia. O CAPS apareceu como um serviço de grande suporte e confiável para os momentos de crise, atendimentos, medicações e conversas casuais, preenchendo, em alguns casos, o lugar de socialização destes jovens. Todos os participantes tinham como suporte seus familiares que demonstraram se modificar e criar novas realidades possíveis de serem partilhadas entre todos. A posição da pesquisadora, que foi terapeuta ocupacional do grupo de jovens e posteriormente voluntária, permitiu um olhar privilegiado na pesquisa. A potência da etnografia, neste caso, não se se referiu ao estranhamento, mas na proximidade mantida por um vínculo existente entre a pesquisadora e aquelas pessoas.
Conclusões/Considerações Finais A vinculação dos jovens no contexto institucional do CAPS, as questões éticas e práticas sobre como abordar projetos futuros com pessoas que sofreram uma ruptura causada pela crise psíquica, as limitações nas entrevistas causadas por características do sofrimento ou por medicação, e o lugar das pesquisadoras no contexto particular desta pesquisa foram tensões presentes no desenvolvimento da pesquisa. Entre o devir e o porvir do ser jovem e do ser adulto, as experiências do sofrimento psíquico são condutoras destes processos como elementos que os freiam e os modificam, construindo modos singulares de viver. A etnografia nos permitiu falar da maneira como as pessoas lutam pela sua vida, seu esforços e sua criatividade, e de sua experiência de sofrimento.
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