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Grupos Temáticos

11/10/2016 - 10:45 - 11:15
GT 38 - Corpo, Cura e Cuidado: Saberes e Práticas Interdisciplinares

10986 - DAS POSSIBILIDADES DE EMANCIPAÇÃO NA SAÚDE: TEATRO DO OPRIMIDO NA CONSTRUÇÃO DE NOVAS POÉTICAS POLÍTICAS PARA A PRODUÇÃO DO CUIDADO
CÉSAR AUGUSTO PARO - IMS/UERJ - IESC/UFRJ, EVELIN GOMES ESPERANDIO - RMFC/UFRJ, NEIDE EMY KUROKAWA E SILVA - IESC/UFRJ


Resumo/sinopse
O Teatro do Oprimido é uma técnica pedagógica, social, cultural, política e terapêutica criada pelo teatrólogo brasileiro Augusto Boal (1931-2009). Boal define o Teatro do Oprimido como um sistema de exercícios físicos, jogos estéticos, técnicas de imagem e improvisações especiais, que tem por objetivo resgatar, desenvolver e redimensionar essa vocação teatral humana, tornando o teatro em um instrumento eficaz na compreensão e na busca de soluções para problemas sociais e interpessoais.
A metodologia do Teatro do Oprimido ancora-se em dois princípios fundamentais: a) a transformação do espectador, ser passivo, recipiente, depositário, em “espect-ator”, ou seja, em protagonista da ação dramática, sujeito, criador, transformador; e b) não trata apenas de refletir sobre o passado, mas sim de preparar o futuro, isto é, deve-se transformar todas as situações vividas no espaço cênico em um ensaio para a transformação da realidade. Neste sentido, Boal criticava que “basta de um teatro que apenas interprete a realidade: é necessário transformá-la!” (BOAL, 1979, p.18).
Fazer Teatro do Oprimido se configura como uma escolha ética, em que se toma o partido dos oprimidos: “é o teatro dos oprimidos, para os oprimidos, sobre os oprimidos e pelos oprimidos” (BOAL, 2013, p.26). Com este dispositivo, busca-se a transformação dos oprimidos em seres livres, o que tem como condição fundamental a conquista dos meios de produção teatral.
Diversas opressões existentes na nossa sociedade são produtoras de iniquidades em saúde, que impossibilitam um viver pleno e saudável: sexismo, machismo, patriarcado, homofobia/lesbofobia/transfobia, racismo, etnocentrismo/xenofobia e as diversas formas de discriminação, estigmatização e violência de determinados grupos societários. Neste cenário, o Teatro do Oprimido emerge como um importante dispositivo para alcançar elementos como: participação popular no processo de cuidado com a criação de espaços de diálogos mais participativos; empoderamento de sujeitos/coletivos com formação de sujeitos eticamente comprometidos com a transformação de sua realidade social e desenvolvimento de habilidades para maior controle sobre sua própria saúde e ambiente; estímulo ao protagonismo social nas ações, potencializando a autonomia de sujeitos/coletivos; e fortalecimento da cidadania.
Diante da experiência dos autores com Teatro do Oprimido na saúde, propõe-se a realização de uma performance interativa que envolverá participação de todos os sujeitos que estiverem no espaço deste Grupo Temático naquele referido momento. Será encenada uma adaptação para o cotidiano do setor saúde de um modelo clássico do Teatro-Fórum: “os quatro em marcha”. O Teatro-Fórum é a técnica de Teatro do Oprimido mais democratizada, sendo conhecida e praticada em todo o mundo. Numa peça de Teatro-Fórum, apresenta-se uma cena baseada em fatos reais, em que personagens oprimidos e opressores entram em conflito, de forma clara a e objetiva, na defesa de seus desejos e interesses. Este conflito incita a busca por alternativas para o problema encenado. Neste sentido, os “espect-atores” são convidados a entrar em cena para, por meio da atuação teatral – e não apenas com o uso da palavra –, revelar seus pensamentos, desejos e estratégias. Estas percepções irão sugerir uma gama de alternativas possíveis inventadas pelos próprios indivíduos pertencentes àquele grupo para a transformação da sociedade no sentido da libertação dos oprimidos. Na referida adaptação, serão problematizados aspectos relativos à produção do cuidado no cotidiano dos serviços de saúde, às relações de poder existentes no setor saúde e às opressões, iniquidades e interseccionalidades que afetam um cuidado efetivo para o usuário.
Não serão necessários materiais para esta performance, sendo apenas imprescindível que seja apresentada em um espaço amplo e que as cadeiras dos participantes não estejam afixadas ao chão para a adaptação do espaço cênico. Dado que o Teatro do Oprimido busca romper barreiras entre quem produz e quem “consome” a arte, os performers desenvolverão esta atividade no próprio espaço destinado à “plateia”, promovendo, deste modo, a reflexão crítica sobre o local em que o fazer artístico deveria estar no nosso cotidiano. Esta performance tem duração prevista de 50 minutos.


Biografia do autor(es)
CAP é sanitarista e ator/performer e atua como professor (IESC/UFRJ). EGE é médica de família e comunidade e atua como preceptora (RMFC/UFRJ). NEKS é psicóloga e atua como professora (IESC/UFRJ).


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