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Grupos Temáticos
12/10/2016 - 13:30 - 15:00 GT 27 - Normas, Histórias e Olhares sobre a Cultura Alimentar |
10987 - “UM DOCE, UMA HISTÓRIA”: CONSUMO DE DOCES NA VISÃO DE IDOSOS PARTICIPANTES DO CURSO ALIMENTAÇÃO, NUTRIÇÃO E TERCEIRA IDADE DANIELLE CHRISTINE BRITO DA ROCHA - INSTITUTO DE NUTRIÇÃO/UERJ, MARIA FÁTIMA GARCIA DE MENEZES - INSTITUTO DE NUTRIÇÃO/UERJ, DÉBORA MARTINS DOS SANTOS - INSTITUTO DE NUTRIÇÃO/UERJ, ELDA LIMA TAVARES - INSTITUTO DE NUTRIÇÃO/UERJ, JACQUELINE MIRANDA DOS SANTOS - INSTITUTO DE NUTRIÇÃO/UERJ, RAIANE PENHA DA SILVA - INSTITUTO DE NUTRIÇÃO/UERJ
Apresentação/Introdução O INU/UERJ possui parceria com a UnATI/UERJ e desenvolve ações em promoção de alimentação saudável com idosos desde 1993. As atividades se articulam ao tripé da Universidade: ensino – estágio supervisionado em Nutrição e Saúde Coletiva; extensão – projeto Alimentação, Nutrição e Envelhecimento e pesquisa – com especial ênfase na linha de análise da alimentação sob o olhar das ciências sociais e humanas. Dentre as atividades propostas é oferecido, anualmente, o curso “Alimentação, Nutrição e Terceira Idade”. É estruturado em aulas semanais com cerca de 2h, em duas turmas de 25 idosos matriculados e duração de 9 meses. São pautados diferentes temas que se inserem no contexto da alimentação contemporânea, resguardando as especificidades e demandas do público idoso. Busca-se abordar e refletir sobre a alimentação, não apenas nos aspectos quantitativos e biológicos de consumo e adequação de nutrientes, mas também quanto aos aspectos culturais e simbólicos. O doce é um dos temas estratégicos na nutrição quer pla associação com o atual perfil de saúde e nutrição quer com seu significado histórico na nossa cultura “açucareira”.
Objetivos O presente estudo objetiva identificar os significados do consumo de doces na visão de idosos participantes do curso Alimentação, Nutrição e Terceira Idade de 2014.
Metodologia Os dados basearam-se na dinâmica intitulada “Um doce, uma história”, proposta na aula de Açucares e Adoçantes. Os idosos foram convidados a relatar uma história a partir da escolha de um doce, indicando que poderia ser de qualquer momento de sua trajetória de vida. A utilização da história de vida, enquanto recurso metodológico, mesmo com elementos de fantasia e idealização, traz importante contribuição na compreensão de fenômenos complexos e permite captar o que acontece na interação individual/social e presente/passado. As respostas foram escritas em formulário próprio pelo participante e também apresentadas oralmente. O relato foi registrado em caderno de campo, por alunos previamente treinados. Tal procedimento garantiu o detalhamento e resguardou a anotação de falas, gestos e emoções dos participantes. A fala dos participantes não se restringiu a leitura do registro do formulário proposto e a maioria ampliou seu relato trazendo novos elementos.
Discussão e Resultados Os 22 relatos foram organizados, codificados e analisados em duas categorias temáticas: o doce “ontem” e o doce “hoje”. Observamos que a proposta, apesar de ter inicialmente uma resistência, pois os participantes referiram que não sabiam o que escrever, foi plenamente aceita. No momento da escrita silêncio e concentração e no momento das falas choro, risos e emoção. As recordações do passado trouxeram, como relato de uma participante, uma “doce lembrança” (A1), que remetem à infância, adolescência, juventude, celebração, gosto, culinária. Foram inúmeros ingredientes e modos de preparo, valorizando o fazer coletivo, o aprendizado com a mãe, o pai, a avó e o uso de diferentes técnicas. Falam de alegria, de prazer, de saudade, de profunda emoção. Essas atitudes aprendidas, muitas vezes bem cedo e com adultos afetivamente poderosos, conferem uma marca que levamos por toda a vida. Hoje o doce remete a elementos como o comer só, a doença, a proibição. O consumo se coloca intimamente relacionado ao saber biomédico que impõe a restrição e a dificuldade no cotidiano de manter-se afastado de algo tão significativo na história de vida.
Conclusões/Considerações Finais As falas mostraram, por um lado, a força da emoção e da cultura e, por outro, o discurso biomédico enfatizando aspectos de medicalização, risco, prevenção e tratamento de doenças. A referência aos aspectos da família, da tradição culinária e da comensalidade mostram o quanto é premente e desafiador a incorporação desses elementos para a reflexão sobre políticas e ações no cotidiano dos serviços de saúde na abordagem da alimentação e nutrição, especialmente, com idosos.
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