12/10/2016 - 15:00 - 16:30 GT 12 - Análise Institucional e Políticas de Saúde |
11094 - HUMANIZAÇÃO E ENCONTRO CLÍNICO: CONTRIBUIÇÃO DAS REFLEXÕES ARENDTIANAS SOBRE O PENSAR E O JULGAR YURI NISHIJIMA AZEREDO - DEPARTAMENTO DE MEDICINA PREVENTIVA FMUSP, LILIA BLIMA SCHRAIBER - DEPARTAMENTO DE MEDICINA PREVENTIVA FMUSP
Apresentação/Introdução pouco mais atento: a população brasileira passa por experiências de violência quando procura serviços de saúde. A violência dentro dos serviços, ou violência institucional , tem se tornado algo tão cotidiano que a humanização nasce como demanda social pelo respeito aos direitos da população e política pública que busca atuar sobre essa violência.
Exploraremos a questão da violência e maus tratos nos serviços de saúde (objeto da política nacional e dos programas de Humanização do SUS) dentro do seu lócus mais fundamental: a relação médico-paciente. Procuraremos problematizar a questão de como uma relação se estabeleceu em nossa história fundamentalmente através da ideia de cuidado pôde se transmutar, contemporaneamente, em uma relação na qual a violência pode estar presente. Também procuramos no percurso intelectual de Hannah Arendt um aporte filosófico que nos auxilie nas reflexões sobre as questões levantadas para, assim, contribuir com novas interpretações acerca do fenômeno contemporâneo da violência em nossos serviços de saúde.
Objetivos Contribuir com o debate de humanização através da análise das modificações na relação médico-paciente na ideia da “crise dos vínculos de confiança”. Caracterizaremos o tipo de encontro foi construído no caso da prática médica e como se transformou a ponto de resultar na menciona crise. Sendo esses vínculos o núcleo em que se apoiava o médico para julgar e tomar decisões para o sujeito que adoeceu, aquela crise também dirá respeito diretamente a conflitos que passam a se inscrever nesse julgamento . Relacionaremos a essa análise as reflexões de Hannah Arendt sobre o pensar e o julgar.
Metodologia A hermenêutica de Gadamer é como caminho mais adequado para a realização da presente reflexão, pois ela nos permite refletir sobre a interseção entre ciências humanas e naturais dentro da história que constitui o campo da saúde no aporte filosófico escolhido. Através de levantamento bibliográfico, leitura e interpretação de textos, principalmente aqueles que versem sobre as modificações da relação médico-paciente e aqueles que apresentem as reflexões de Arendt sobre as faculdades humanas do pensar e do julgar, buscaremos o horizonte que nos servirá de amparo para a análise e interpretação do fenômeno contemporâneo da violência institucional em saúde. Reafirmamos que nosso caminho não busca novas verdades ou leis de funcionamento, mas novas interpretações e sentidos para o fenômeno sob o qual repousa o nosso objeto de pesquisa, cujo fim é enriquecer o debate com aqueles que buscam produzir conhecimento no campo da Saúde Coletiva.
Discussão e Resultados Discutiremos as consequências das mudanças recentes da medicina que transforma sua prática liberal na qual o produtor tem controle sobre o tempo e a maneira de produzir, em prática tecnológica: na qual o médico não tem mais a posse dos meios de produção, tempo e fluxo de clientela para caracterizar e analisar como estas mudanças afetaram o encontro clínico. Além disso, os papeis que o desenvolvimento científico e as novas maquinarias biomédicas tiveram sobre a prática médica modificam a experiência do médico e os aspectos éticos do encontro clínico. Essa também é a passagem de uma técnica moral-dependente, tal como se caracterizou a ação do médico na modalidade liberal de prática, para uma técnica progressivamente tecnologia dependente, instaurando tensões na dimensão de ação moral.
A relação entre pensamento e ação é um dos temas centrais na obra de Arendt. O pensar, contudo, não age e nem tem efeito algum sobre o nosso agir; é o único caminho para atribuirmos algum sentido àquilo que se passa no mundo, sendo nisso que consiste sua relevância. Pensar é retirar-se do mundo, sair do espaço movimento dos acontecimentos e da presença dos outros para poder refletir sobre como agimos.
Conclusões/Considerações Finais O desenvolvimento das maquinarias da biomedicina, a espiral crescente dos exames complementares e o lugar incontestável que cada vez mais o discurso científico possui em nossa sociedade parecem ofuscar o espaço da experiência e da reflexão da prática, tomadas por diferentes tipos de protocolos. Do pensamento depende a ativação de duas funções preventivas cruciais a vida prática do homem: ética e política. Para Arendt, o pensamento tem nada menos que o poder de regulação ética da conduta, de prevenção do mal na esfera dos assuntos humanos. Assim, a violência institucional na saúde pode ser vista por uma ótica nova: em vez de apostarmos somente numa nova educação médica como único caminho de humanização, podemos pensar que as formas que o trabalho assume atualmente, repleto de protocolos de funcionamento e com quase nenhum controle pelo trabalhador, é fundamental na análise das razões que, hoje em dia, transformaram uma relação calcada no cuidado em uma relação violenta
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