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Grupos Temáticos

10/10/2016 - 13:30 - 15:00
GT 16 - Corpo, Corporeidade e Cuidado em Saúde

11190 - "CORPO DE MONSTRO, MENTE DE CIENTISTA": CONTRADIÇÕES NOS DISCURSOS MÉDICOS E LEIGOS ACERCA DO USO DA TESTOSTERONA COMO ANABOLIZANTE MUSCULAR
LUCAS TRAMONTANO - IMS/UERJ


Apresentação/Introdução
A biopolítica contemporânea, conforme discutida por Clarke et al (2003) e Nikolas Rose (2013), é marcada por um intenso recurso a biotecnologias, com especial ênfase para tratamentos farmacológicos. Essa predileção pelo recurso medicamentoso está de acordo com um processo de molecularização da vida, no qual a concepção de corpo, e o biopoder a ele aplicado, seguem um paradigma molecular em detrimento de concepções mais holistas. Essa perspectiva mantém e aprofunda a teoria hormonal do corpo descrita em Oudshoorn (1994) e Rohden (2008), e (re)constrói os hormônios sexuais como mensageiros químicos do gênero. Assim, se torna estratégico pensar como homens usuários de anabolizantes irão recorrer à testosterona como forma de "esculpir" um corpo ideal que literalmente incorpora atributos característicos da masculinidade. O enfoque desse trabalho, contudo, será na tensão entre relatos desses usuários e o discurso oficial da biomedicina, num contexto medicalizante marcado pela responsabilização do indivíduo pelo próprio estado de saúde e pelo consequente gerenciamento do risco, no qual a construção individual do corpo (e do gênero) será feita prioritariamente a partir de um medicamento.


Objetivos
O trabalho tem por objetivos (I) discutir a construção de uma corporalidade molecular a partir do uso de testosterona e seus derivados entre homens, visando o anabolismo muscular; (II) refletir sobre a complexa relação com o saber médico, a partir da dicotomia legal/legítimo versus ilegal/ilegítimo; e (III) analisar a busca dos usuários por uma crescente "competência médica", num sentido de gerenciamento de riscos associados ao uso de uma biotecnologia específica para construção de um corpo ideal.


Metodologia
A análise parte de dados preliminares do campo, ainda em curso, para minha pesquisa de doutorado em Saúde Coletiva, a ser defendida em 2017, na área de Ciências Humanas e Saúde do Instituto de Medicina Social da UERJ (IMS/UERJ). A pesquisa consiste em relatos de história de vida de homens cis e trans que utilizam derivados de testosterona, em suas diversas formas farmacêuticas, de qualquer faixa etária e para qualquer fim. A entrevista segue três eixos, a saber, acesso e escolha da substância; efeitos desejados e adversos; e a questão do sigilo e da indicação para outros colegas. Nesse trabalho, faço um recorte focando apenas homens que utilizam esteroides com objetivo de anabolismo muscular, entre os quais é comum a tensão entre um discurso oficial das ciências médicas acerca do uso de anabolizantes, e o risco percebido de fato pelos usuários. Para tanto, analiso os relatos desses entrevistados e observações em fóruns de discussão sobre fisiculturismo e bodybuilding na internet.


Discussão e Resultados
Observa-se que a forma como se dá o acesso ao hormônio terá consequências diretas na percepção de seus efeitos, estabelecendo uma rígida dicotomia entre um uso legal e ilegal. Para aqueles que utilizam com acompanhamento médico, o uso "ilegal" é descrito como "descontrolado", produzindo um corpo "exagerado", e/ou causando uma ampla gama de efeitos indesejáveis; em contrapartida, o uso "legal" (comumente, da mesma substância, na mesma dosagem), aparece revestido de uma legitimidade advinda da autoridade científica, modelando o corpo de forma "segura" e "responsável". Entretanto, nos discursos de homens que utilizam a testosterona "por conta própria", tem sido comum o relato de um "preconceito" da comunidade científica (especialmente das ciências médicas) com a utilização de esteroides androgênicos com fins de anabolismo muscular exclusivamente. Os riscos associados a esse uso seriam assim supervalorizados, baseados em informações estereotipadas, e num estigma que reduz o desejo por "esculpir" o corpo via esteroides a uma futilidade, o que minimizaria a profunda ascese e disciplina necessárias para a construção daquela forma corporal, de acordo com seus defensores.


Conclusões/Considerações Finais
Para sustentar a crítica biomédica ao consumo de anabolizantes, seus usuários se dedicam a uma intensa pesquisa acerca das substâncias, seus efeitos e riscos, que vai desde o acompanhamento intermitente de fóruns da internet, passando pelo consumo de publicações midiáticas dedicadas a essa temática, até a busca por graduações ou pós-graduações em áreas afins. Assim, esses homens se tornam super especialistas no assunto, apropriando-se de um vocabulário médico bastante técnico, e produzindo um corpo de conhecimento paralelo, e por vezes mais aprofundado, ao da biomedicina. A proibição do uso e do livre comércio de anabolizantes é então associada a fatores políticos mais do que sanitários, gerando uma inversão hierárquica dumonsiana, no qual o espaço ilegítimo da ilegalidade apresenta um rigor científico e uma altíssima competência médica, nos termos de Boltanski, ao passo que o espaço legítimo do uso legal com acompanhamento médico aparece revestido de mitos e estereótipos.


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