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Grupos Temáticos
11/10/2016 - 10:45 - 12:00 GT 27 - Imagens, Memórias e Perspectivas sobre o Comer |
11212 - OBESIDADE E SOBREPESO EM MULHERES DE BAIXA RENDA: UMA ABORDAGEM BOURDIEUSIANA PRISCILA DE MORAIS SATO - UNIFESP, MARIANA DIMITROV ULIAN - FSP-USP, RAMIRO FERNANDEZ UNSAIN - UNIFESP, FERNANDA BAEZA SCAGLIUSI - FSP-USP
Apresentação/Introdução O referencial teórico de Bourdieu tem sido utilizado em estudos investigando a influência de estruturas sociais na saúde. O conceito de habitus é central em sua teoria e constitui-se como um arranjo de estruturas incorporadas que predispõe práticas, sendo assim estruturado pela sociedade ao mesmo tempo em que é estruturante desta. A partir do habitus, Bourdieu investigou práticas alimentares de diferentes grupos profissionais, identificando um gosto de necessidade, atribuído às classes baixas, e um gosto de luxo entre classes altas. Embora a teoria de Bourdieu contribua para o entendimento das práticas alimentares em diferentes classes sociais, poucos autores utilizaram o referencial para comparar grupos da mesma classe social. Trabalhos com outras populações descreveram gosto de liberdade também entre classes baixas, o que sugere diferentes arranjos de práticas alimentares neste grupo. Estudos nacionais e internacionais apontaram uma maior vulnerabilidade à obesidade entre mulheres de baixa renda. Assim, entender os diferentes arranjos de práticas alimentares que contribuem para a obesidade neste grupo pode direcionar intervenções mais específicas e eficazes.
Objetivos Neste estudo objetivamos investigar práticas alimentares de mães com sobrepeso ou obesidade vivendo em três contextos de vulnerabilidade social na cidade de Santos, SP, a fim de explorar as relações entre práticas alimentares e habitus com foco em como estruturas incorporadas e capitais das participantes interagem com práticas alimentares que podem contribuir para o excesso de peso das mesmas.
Metodologia Estudo qualitativo realizado em três regiões de Santos: palafita, cortiço e morro. Eram critérios de inclusão ser mãe, adulta, morar com filho(a), ter sobrepeso ou obesidade. Participantes foram selecionadas até que o ponto de saturação fosse atingido, com sete por região. Entrevistas semiestruturadas incluíam dados sociodemográficos, situação financeira durante a infância, região de origem, consumo cultural, práticas alimentares, peso e altura. Utilizamos a observação participante como técnica complementar. Para a análise de dados realizamos uma análise de conteúdo dedutiva e indutiva, com categorias a priori e emergentes das falas das participantes, respectivamente. Um livro de códigos foi criado e dois codificadores categorizaram as entrevistas separadamente e o coeficiente de kappa avaliou o grau de concordância entre estes. As participantes foram comparadas a partir de suas práticas alimentares e agrupadas de acordo com similaridades entre si, em uma tipologia.
Discussão e Resultados Cinco grupos de práticas alimentares foram encontrados, quando comparados com relação a suas outras características, quatro tinham como principais diferenças a situação financeira durante a infância e capital culinário. Dois grupos possuíam melhor situação financeira durante a infância. Elas gostavam de fast food e de comer fora, o grupo com maior capital culinário também gostava de algumas comidas étnicas, como a japonesa e a chinesa e às vezes as preparava em casa. Os outros dois grupos tinham tido uma situação financeira durante a infância difícil, com maioria de participantes vindas do nordeste. Elas gostavam de comidas tradicionais, principalmente a nordestina, mas somente o grupo com maior capital culinário dentre os dois preparava tais pratos. O quinto grupo não podia ser posicionado nos eixos situação financeira durante a infância e capital culinário. Ele tinha como principal característica a falta de capital econômico. Suas participantes possuíam o maior IMC e mais problemas de saúde que, dentre outras consequências, as impediam de trabalhar, agravando ainda mais a situação de vulnerabilidade social.
Conclusões/Considerações Finais Este estudo aponta para a relevância do capital culinário e situação financeira durante a infância no entendimento de práticas e gostos alimentares. Como no gosto de necessidade descrito por Bourdieu, nossas participantes preferiam comidas com alta densidade de energia e gordura. No entanto, a maior parte delas possuía capitais que direcionavam suas escolhas alimentares em diversas direções. Assim, elas não só se distinguiam de outras classes sociais, mas também de outros grupos da mesma classe – como observado na oposição entre fast food e comida tradicional nordestina – sugerindo um gosto de liberdade. Tais observações apontam para um componente simbólico que pode contribuir para a obesidade entre mulheres de baixa renda, entre as quais alimentos ricos em gordura possuem grande valor simbólico, seja devido à tradição, seja pelo marketing dos produtos ultraprocessados. Por fim, um grupo com muito pouco capital econômico aponta a grande influência desta condição na alimentação e saúde.
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