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Grupos Temáticos

10/10/2016 - 15:00 - 16:30
GT 14 - Prevenções Emergentes: Sobre Testagem, Medicamentos e Tratamento

11312 - OS SENTIDOS DA TESTAGEM DO HIV NA PRODUÇÃO ACADÊMICA SOBRE PREVENÇÃO E CONTROLE DA AIDS
SIMONE MONTEIRO - FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, MAURO BIGEIRO - FIOCRUZ, CLAUDIA MORA - UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO/INSTITUTO DE MEDICINA SOCIAL


Apresentação/Introdução

Em uma mensagem otimista, foi estabelecido em 2014 pela UNAIDS que, até 2020, 90% das pessoas vivendo com o HIV (PVHA) conheçam seu estado sorológico, que 90% das pessoas diagnosticadas recebam tratamento e que 90% desse contingente alcance carga viral indetectável. Estima-se que se tais metas forem alcançadas será possível eliminar à Aids até 2030. Ainda que essas diretrizes assinalem a importância da combinação de diversas estratégias de prevenção (biomédica, comportamental e estrutural), o principal foco da meta 90/90/90 tem sido a ampliação do teste do HIV e do tratamento, denominado como o modelo “testar e tratar”. Tal enfoque revela uma nova lógica da prevenção, centrada na identificação e tratamento das pessoas infectadas, o que contrasta com o paradigma de prevenção baseado em ações voltadas para o uso do preservativo, testagem e aconselhamento, e a redução dos contextos de vulnerabilidade ao HIV. A efetivação da estratégia do “tratamento como prevenção” (TasP) requer a otimização e diversificação da oferta do teste do HIV, visando alcançar populações consideradas mais atingidas pela epidemia.



Objetivos
Com a intenção de contribuir para o debate acerca das implicações sociais e programáticas do modelo “testar e tratar”, este trabalho objetiva examinar os usos e sentidos atribuídos à testagem do HIV na produção acadêmica internacional e nacional da última década. Tal enfoque decorre do lugar privilegiado das estratégias de testagem do HIV nas atuais diretrizes globais, principalmente entre as denominadas populações-chave, como homens que fazem sexo com homens (HSH), prostitutas e travestis, com o propósito de identificar as pessoas infectadas e encaminhá-las para o tratamento precoce.


Metodologia
Foi realizada revisão sistemática e metanálise de artigos publicados no Pubmed, Sociological Abstract, Scielo, Lilacs, Cochrane, de 2005 a 2015. O levantamento resultou em 2.360 resumos. A leitura e aplicação dos critérios de exclusão gerou um banco de dados com 457 artigos, classificados segundo população alvo, metodologia, barreiras ao teste, motivos para testar, estratégias de captação para o teste e sentidos da testagem. foram selecionados as referências voltados para HSH, prostitutas e travestis e estratégias de captação, o que resultou em 95 artigos (65 de HSH, 23 de prostitutas e 7 de travestis). O exame desse conjunto de referências considerou as seguintes categorias analíticas: marco temporal; justificativa para definição e implementação da testagem; caracterização do modelo de prevenção; concepções e recomendações sobre estratégias de testagem; articulação das características locais com estratégias de testagem; atuação de organizações de base comunitária.


Discussão e Resultados
A análise da literatura revelou ressignificações sobre o papel do teste na prevenção do HIV nos atuais modelos programáticos de testagem. No modelo “testar e tratar”, o teste torna-se um meio para revelar casos desconhecidos e remetê-los ao tratamento precoce, buscando interromper a cadeia de transmissão do HIV. As discussões focalizam critérios técnicos, motivações e barreiras ao teste e estímulo ao teste de rotina, principalmente entre HSH. Tal enfoque se diferencia dos modelos de testagem e aconselhamento orientados pelo enfrentamento do estigma e das desigualdades sociais e de gênero, a importância dos direitos humanos das PVHA e o incentivo ao uso do preservativo. A proeminência da promoção da testagem, em contraste com a ênfase no uso preservativo, pode ser ilustrada nos estudos sobre testes rápidos que evocam a realização do exame como recurso para a gestão de risco na decisão de prescindir do preservativo. A sobreposição desses diferentes modelos associados a testagem do HIV apontam para transformações no paradigma da prevenção que podem comprometer importantes conquistas nas respostas sociais ao HIV/Aids.


Conclusões/Considerações Finais
Os resultados da revisão da literatura atestam que as atuais respostas globais à Aids, em diferentes realidades, têm priorizado abordagens comportamentais e biomédicas, centradas no incentivo ao teste e ao tratamento, principalmente nas populações mais vulneráveis ao HIV, sobretudo entre os HSH. Tal enfoque tem reduzido o estímulo ao uso do preservativo, a garantia do ideário dos direitos humanos e a politização do debate, ilustrado pelo limitado papel do movimento social e das PVHA na formulação das novas estratégias de prevenção e cuidado. Os achados contribuem com as demais críticas que questionam o processo de biomedicalização e despolitização da resposta à Aids derivado desse novo paradigma preventivo. Essas conclusões pretendem qualificar as análises sobre a implementação, em curso, do modelo “testar e tratar” no contexto brasileiro, ressaltando a importância de preservar as ações históricas relacionadas com a prevenção, o direito, o controle social e a mobilização comunitária.


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