11/10/2016 - 15:00 - 16:30 GT 27 - Diversidade de Significados na Diversidade das Culturas |
11382 - MARMITA E A CHURRASCADA: SOCIABILIDADE E A CRISE ECONÔMICA, ASPECTOS DA ALIMENTAÇÃO ENTRE JOVENS UNIVERSITÁRIO EM LISBOA CHRISTIANE AYUMI KUWAE - UERJ, MARIA CLAUDIA DA VEIGA SOARES CARVALHO - UFRJ, FRANCISCO ROMÃO FERREIRA - UERJ, SHIRLEY DONIZETE PRADO - UERJ
Apresentação/Introdução Buscamos neste artigo apresentar algumas análises sobre as práticas alimentares observadas entre jovens universitários em Lisboa, como parte da pesquisa de doutorado que está sendo desenvolvida em torno da compreensão dos sentidos e significados da alimentação no contexto universitário no Rio de Janeiro e em Lisboa. A vida universitária delimita um contexto sobre um grupo de jovens que tem o privilégio de continuar os estudos ou que tem o desafio de concilia-lo com o trabalho. As investigações sobre alimentação e a vida universitária sob uma perspectiva estritamente biomédica aponta as práticas alimentares deste grupo como um comportamento de risco à saúde. No entanto, a alimentação é um objeto de estudo complexo, na rotina guiada pela vida acadêmica os jovens são levados a negociar suas práticas alimentares independente do ambiente domiciliar e estas novas condições ressignificam o comer nas trajetórias da vida universitária. Nesta direção, apresentamos algumas análises sobre os sentidos e significados atribuídos à marmita e à churrascada pelos jovens universitários em Lisboa.
Objetivos Os objetivos deste resumo foram analisar a forma como a alimentação dos jovens universitários portugueses é organizada nos períodos que eles passam na Universidade. Perceber como estes modos de comensalidade envolvem a administração do tempo, do orçamento e das relações sociais presentes. Identificar os sentidos atribuídos à marmita e à churrascada neste contexto.
Metodologia Utilizamos como metodologia uma orientação etnográfica focada na observação participante, entrevistas informais e formais e na descrição densa. O trabalho de campo ocorreu entre fevereiro e dezembro de 2015 no campus da Ajuda em Lisboa. Realizamos uma observação dirigida nos espaços alimentares identificando o que tem disponível para o consumo, a estrutura das refeições, a organização do espaço, a publicidade de alimentos e da interação social neste ambiente.
Posteriormente realizamos entrevistas para aprofundar temas como: aspectos da vida portuguesa, da vida universitária em Lisboa e dos rituais de sociabilidade observados entre os jovens. Entrevistamos universitários de ambos os sexos, de todos os anos da graduação e de ambos os turnos (diurno e pós-laboral).
Ao longo do trabalho foi feito um diário de campo, tanto para registrar as observações, como também como um instrumento reflexivo do pesquisador sobre as observações.
Discussão e Resultados Uma das estratégias observadas para comer na Universidade era levar comida de casa, como as marmitas. A generalização desta prática foi relatada como mais frequente nos últimos 2 anos, relacionada principalmente com a crise econômica. Nesta direção, comer marmita não tinha um valor simbólico de exclusão entre os alunos, pelo contrário, foi comum observar os alunos dividindo a mesa ou compartilhando uma comida que haviam trazido de casa.
Se as marmitas marcam o cotidiano, as Churrascadas marcam os momentos festivos. A churrascada refere-se às bifanas: sanduiches de bife de porco assados na churrasqueira. São vendidos na festa bifanas, imperiais (chopp) e sangria. No pátio da Faculdade a música e o concurso de imperial (40 copos = 1grátis) marcam a interação entre os jovens, num jogo de aproximação entre os grupos e de prestígio. Participar ou não das festas, beber com os colegas, dançar e cantar faz parte de um jogo social importante no ambiente universitário.
Conclusões/Considerações Finais A comensalidade presente nestes dois momentos destacados é um elemento agregador de uma sociabilidade entre os jovens universitários. Em torno da alimentação se constroem as relações sociais, seja de integração dos calouros, seja entre os outros alunos que reafirmam suas relações hierárquicas e de prestígio, num jogo social que se dá ao compartilhar a bebida ou comer junto no refeitório. Ao mesmo tempo, as práticas alimentares são marcadas pela crise econômica que delimita um cenário sobre as práticas alimentares, presentes nas estratégias para economizar dinheiro, seja levando marmita, seja levando a sua garrafa de sangria na churrascada.
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