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Grupos Temáticos

11/10/2016 - 15:00 - 16:30
GT 1 - Novos Objetos Etnográficos

11408 - TRANSEXUALIDADE E O DESAFIO DA PESQUISA QUALITATIVA EM SAÚDE
BÁRBARA DE PAULA OLIVEIRA - UNB


Apresentação/Introdução
A etnografia busca compreender as práticas humanas a partir de suas particularidades vividas (Nakamura, 2011). Na década de 1980, houve um aprofundamento de pesquisas em ciências sociais da saúde pretendendo conhecer os processos de saúde-doença de grupos específicos da população assim como entender sobre o uso dos serviços de saúde, medicalização entre outros (Canesqui, 1994; Carrara, 1994; Duarte, 1998).
Em saúde, a pesquisa etnográfica, se mostra necessária visto que, de fato, muitas são as dimensões do processo saúde-doença de diferentes grupos de pessoas em contextos, práticas e valores (Minayo, 2014)
Para medicina, a transexualidade, é caracterizada como uma “disforia de gênero” pelo DSM-V (APA, 2013). A ideia de linearidade do sujeito, em relação ao seu sexo, gênero e sexualidade é questionada pelas ciências sociais, que tem apontado para como esses conceitos foram construídos ao longo da história e das experiências individuais (Bento, 2006)
O uso da pesquisa etnográfica em saúde com transexuais se mostra, dessa forma, como uma maneira interessante de compreender as práticas de cuidado das quais se valem os seus anseios e acesso aos serviços de saúde.



Objetivos
O presente trabalho tem como objetivo problematizar os desafios da realização da pesquisa qualitativa em saúde como a entrada em campo, as exigências do Comitê de ética em saúde e a resistência dos profissionais. Mais especificamente, uma pesquisa etnográfica no interior do ambulatório para transexuais do Hospital Universitário de Brasília (HUB).


Metodologia
Para realizar a pesquisa foi necessária autorização do Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Saúde da Universidade de Brasília (FS-UnB). Para passar por esse Comitê foi preciso que o HUB autorizasse a entrada do pesquisador em campo. Uma série de documentos foi exigida e a autorização do psicólogo responsável pelo grupo terapêutico. Demorei cerca de 6 meses para conseguir reunir todos os documentos exigidos.
O CEP devolvia os documentos exigindo mais assinaturas do responsável pelo grupo o que, demonstra uma preocupação maior com a formalidade de estar em uma instituição de saúde do que com o entendimento do tipo de pesquisa que estaria sendo feito.
A princípio houve resistência da psicóloga com a minha presença no grupo, portanto, precisei em vários momentos, explicar que não pretendia expor ninguém com o que é discutido no grupo e sim entender a dinâmica pela busca do serviço e as demandas apresentadas pelos transexuais.



Discussão e Resultados
Como elaborado por Marini (2013) a aceitação da presença do pesquisador-observador em campo está condicionada há uma troca de “favores” em que as pessoas que serão “pesquisadas” obterão algum tipo de benefício com a pesquisa. O tempo de permanência em campo é outro fator que incomoda a equipe de saúde já que existe uma cobrança constante por resultados e evidências do que está sendo produzido (Knauth, 2010)
Assim como narrado por Castro-Vianez & Brandão (2015), a formação do pesquisador pode gerar resistência na entrada em campo. Em meu caso, pelo fato de ser enfermeira, houve, a princípio, uma objeção quanto a minha presença no grupo, pois eu estaria inserida no processo terapêutico das pessoas e os psicólogos se mostraram contrários a essa exposição.
Seguindo o pensamento da relação de troca entre o pesquisador e os pesquisados (Silva, 2004), como estratégia de compensação entre a minha presença e a exposição dos participantes, os psicólogos me inseriram no processo terapêutico para que assim eu também me colocasse numa posição de exposição em que minhas experiências de vida devem ser relatadas e devo opinar sobre o que está sendo discutido.



Conclusões/Considerações Finais
Por mais que tenha crescido o número de pesquisas sociais em saúde ainda há resistência por parte dos profissionais de saúde com relação ao pesquisador-observador, podendo, a presença do mesmo, soar como monitoramento do trabalho que está sendo feito.
Portanto, o pouco conhecimento e apropriação da pesquisa qualitativa no campo da saúde gera desconfiança nos profissionais quanto a figura do pesquisador-observador por não saber o que de fato está sendo produzido. Assim como ainda existe a dúvida quanto a cientificidade desse tipo de investigação.
As exigências do comitê de ética, a delimitação exata do tempo de coleta de dados e a relutância em ter um observador dos processos terapêuticos ainda são fatores que dificultam a pesquisa qualitativa de cunho etnográfico em saúde. Pois tais exigências ainda se encaixam num modelo de pesquisa quantitativa que segue uma lógica e demanda diferenciadas do que é feito na pesquisa qualitativa


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