10/10/2016 - 13:30 - 15:00 GT 41 - Saúde e Violência contra LGBT |
11466 - NOTAS SOBRE O EMERGENTE CIBERATIVISMO INTERSEX BRASILEIRO ANACELY GUIMARÃES COSTA - IMS/UERJ
Apresentação/Introdução Este trabalho reúne considerações iniciais da pesquisa de doutorado, em curso, que investiga o regime de visibilidade da intersexualidade nos planos da medicina, mídia e política. Nesta comunicação, o foco será o discurso político intersexual brasileiro e as estratégias mobilizadas por esse grupo para alcançar legitimidade social.
Pode-se dizer que a articulação política intersex no país encontra-se no início do seu processo de constituição. Apenas no final de 2015, houve a criação de uma página em uma rede social com o intuito de promover a visibilidade intersex. A moderação da página é feita por 3 jovens intersexuais, identificados com o gênero masculino, não heterossexuais, dois moradores do sudeste e um do interior do nordeste. O conteúdo compartilhado inclui reportagens de revistas e jornal, infográficos explicativos de termos ligados gênero e sexualidade, histórias e relatos de pessoas intersexuais de outras partes do mundo. Será feita uma caracterização da emergência do ciberativismo intersex brasileiro, buscando identificar quais são as principais demandas e as intersecções com outros movimentos sociais.
Objetivos 1) Entender quais são as especificidades do ciberativismo intersex brasileiro 2) Examinar quais são as definições de gênero, sexualidade e saúde acionadas 3) Analisar os recursos imagéticos - fotografias, infográficos e vídeos - divulgados na página oficial do grupo em uma rede social.
Metodologia Trata-se de uma pesquisa qualitativa, de natureza socioantropológica, que reunirá como material empírico entrevistas semi-estruturadas com ativistas intersexuais, além da análise do conteúdo divulgado na página virtual.
Ao lado dos marcadores de gênero e sexualidade, pretendo olhar para esses dados junto com outras categorias de diferenciação como raça/etnia, idade, classe, geração e origem social afim de analisar a produção da visibilidade política intersex no Brasil. Partindo do entendimento de que marcadores sociais da diferença mobilizam e são mobilizados para viabilizar ou impedir trajetórias de sujeitos e grupos sociais, bem como servem a processos de estigmatização ou a manutenção de privilégios sociais, pretendo investir no exame de como essas relações incidem no dispositivo de visibilidade intersex.
Discussão e Resultados Interseccionado a outras lutas, é possível afirmar que o ciberativismo intersex brasileiro se aproxima da despatologização das identidades trans, principalmente, quanto à reivindicação do direito ao nome social e da autonomia para definição de gênero. Mais especificamente, a principal pauta intersex brasileira, em convergência com grupos internacionais, centra-se no fim das cirurgias genitais compulsórias durante a infância. Esta demanda vem sendo feita por meio de descrições da intersexualidade como um dado biológico, argumentando em favor da noção de “variabilidade corporal/biológica” para limitar as intervenções normalizadoras apenas quando envolver prejuízo à saúde física da criança. Nesse esforço, o ativismo intersex aciona categorias de uma parcela do movimento LGBT, como “cis” ,“trans”, “binário” ,“não-binário”, “agênero” ao mesmo tempo que põe em evidência as instabilidades dessas definições.
Conclusões/Considerações Finais Pode-se dizer, preliminarmente, que o ciberativismo intersex parece expressar um posicionamento que tem influência de certa leitura da perspectiva queer. No contexto dessa pesquisa, a “ambiguidade” emerge não só como uma característica anatômica/morfológica, mas também é performatizada por meio da combinação de vestimentas e acessórios masculinos e femininos. A rejeição aos estereótipos de gênero ocorre a partir da celebração de “corporalidades indefinidas”, “androginias”, de “gêneros fluidos”, reposicionando o lugar do ambíguo nos discursos e práticas sobre as políticas sexuais.
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