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Grupos Temáticos
11/10/2016 - 15:00 - 16:30 GT 27 - Diversidade de Significados na Diversidade das Culturas |
11489 - COMIDA: ESSE DIÁLOGO SEM PALAVRAS JULIANA - UERJ, JULIANA DIAS - UFRJ, MÓNICA CHIFFOLEAU - UFRJ, VANESSA SCHOTTZ - UFRJ
Período de Realização da experiência A primeira fase da Campanha Comida é Patrimônio foi iniciada em de janeiro de 2014 e concluída em março de 2016.
Objeto da experiência A Campanha Comida é Patrimônio é uma plataforma de comunicação para mobilização de um sistema alimentar mais justo, equitativo, sustentável e saudável. O Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional entende que comunicar problemas relacionados à alimentação está no rol desafios para enfrentar as contradições de um sistema alimentar em crise. É fundamental valorizar os saberes construídos à beira do fogão, em torno da mesa, na troca de sementes, na capina, no canteiro, na lida do dia-a-dia. Enfrentar uma realidade complexa exige construir um pensamento igualmente complexo que pode surgir da combinação respeitosa e amigável entre o conhecimento formal e saber popular.
Objetivo(s) A Campanha Comida é Patrimônio objetiva dar luzes através de estratégias de comunicação ao potencial de construção de construção compartilhada de saberes em torno da Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional. Visa ampliar diálogos sobre desigualdades étnico-raciais, regionais, de gênero e geracionais bem como as injustiças relacionadas às questões fundiárias e de direito à alimentação. Intenciona divulgar estes temas, transferindo para o cotidiano alimentar debates que por muito tempo estiveram restritos a ambientes acadêmicos e de controle social.
Metodologia A campanha divulgou artigos e pensamentos-pimentas – frases de poetas, literários, militantes, cozinheiros, agricultores, antropólogos, gastrônomos. O conteúdo foi organizado em quatro eixos: comida é bem material e imaterial; comida é afeto, memória identidade; comida é diálogo de saberes; e modos de produzir, viver e comer. Os pensamentos foram transformados em cartazetes, utilizando imagens com tratamento artístico. A divulgação do conteúdo foi realizada pela internet (site e Facebook). Foram realizadas oficinas e exposição itinerante, onde o visitante era estimulado a contribuir com pensamentos-pimenta, receitas, sementes e ideias. A exposição passou pelo Encontro Nacional de Agricultura Urbana (Rio de Janeiro); Conferência de Segurança Alimentar e Nutricional (Brasília); e Seminário Avanços e Desafios das Políticas Públicas da região do Mercosul (Buenos Aires). A interação deixa fluir o pensamento colaborativo (BOHM, 2005) com o intuito de co-criar novos pensamentos-pimentas.
Resultados A campanha Comida é Patrimônio teve grande repercussão que pôde ser medida pelo aumento significativo de seguidores do FBSSAN na internet assim como pela grande interação com movimentos, organizações, universidades e pessoas comuns. Tanto a versão virtual quanto oficinas e exposição tem contribuído para o diálogo sobre quão importante é a relação entre comer e preservar e, por isso mesmo, possibilita a valorização da sabedoria do instinto - onde as culturais regionais são tecidas por gerações - como guia admirável da boa alimentação, tal qual constatou Josué de Castro. Constitui-se em convite para disseminar e mobilizar, por meio das redes sociais, a importância em reconhecer a comida como bem material e imaterial; afeto e memória; diálogo de saberes; e os modos de produzir, consumir e compartilhar que respeitem e valorizem o comer tradicional.
Análise Crítica A intenção da campanha tem sido dialogar saberes e reconhecer que nossos problemas complexos não poderão ser resolvidos ou tratados a partir de um único ponto de vista. A escolha do elemento comida traz a riqueza do saber comum. Comida é presença, linguagem e patrimônio. Nesta afirmativa residem diversos desafios, mas também infinitas possibilidades. Devolver o debate sobre a comida para a terra, para cozinha e para mesa é uma atitude importante, capaz de contribuir com a construção de autonomias e ampliação do poder popular. Nos espaços de partilha e desfrute de temperos, perfumes, histórias, costumes e saberes são realizadas as escolhas mais cotidianas e complexas: o que plantar, que alimentos comprar, quais receitas e modos de fazer para as refeições diárias ou de festividade. O convite ao diálogo de saberes é convite para engajar pessoas em prol da luta pela soberania e segurança alimentar e nutricional, que relaciona-se com o que comemos e com o que comerão futuras gerações.
Conclusões e/ou Recomendações A comida é diálogo que não necessita de palavras. Pela convivência e coexistência os conhecimentos relacionados às formas e os tempos de semear e de colher são passadas de uma geração para a outra, assim como os conhecimentos sobre os temperos, os preparos, os ritos e os sabores tradicionais e regionais. O diálogo de saberes pode ser revolucionário para pensar um sistema alimentar mais justo e sustentável porque representa uma chance (re)construir relações com o consumo e com o ambiente a partir de uma noção da “justa medida”, como trata o Leonardo Boff (2005).
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