10/10/2016 - 15:00 - 16:30 GT 1 - Etnografias de/em Serviços de Saúde |
11533 - CIRURGIAS PLÁSTICAS PARA ALÉM DA ESTÉTICA: FLUXOS RELATIVOS AO SISTEMA ÚNICO DE SAÙDE MARCELLE SCHIMITT - UFRGS
Apresentação/Introdução Este trabalho versará a respeito da popularização das cirurgias plásticas, tendo como foco de análise a particularidade do caso brasileiro. A possibilidade de realizar uma cirurgia plástica gratuita através do Sistema Único de Saúde (SUS) tem sido uma alternativa para tratar males decorrentes de acidentes e patologias diversas ou mesmo para aprimoramento estético. Entretanto, o caminho percorrido até a realização do procedimento atravessa inúmeros obstáculos. Isto é, o que é necessário para que a paciente possa de fato realizar uma cirurgia plástica gratuitamente pelo SUS? Com base em uma pesquisa inicial e entrevistas exploratórias, é possível depreender que não há um padrão ou regra. Por vezes os hospitais - via programas de residência médica em cirurgia plástica - oferecem apenas cirurgias entendidas como de caráter reparador, mas há também casos de cirurgias de cunho estético.
A presente pesquisa abarcará as relações entre autoestima, beleza e cirurgias plásticas e as especificidades do Brasil nesse âmbito da medicina. Ademais, versará sobre a popularização destes procedimentos nos últimos anos e o papel dos profissionais brasileiros no que tange à expansão de novas técnicas.
Objetivos Investigar as expectativas das pacientes - bem como as demandas provenientes destas- e agenciamentos relativos a esses procedimentos levando em consideração o contexto singular que se apresenta a partir do SUS. Desse modo, o trabalho se concentrará em como são gerenciadas as cirurgias plásticas no âmbito do SUS no Brasil, tendo como foco principal os agenciamentos das mulheres que submetem-se a estes procedimentos, mas, também, como pano de fundo, abordando o papel dos cirurgiões plásticos e questões institucionais que propiciam estes procedimentos.
Metodologia Apresentarei abaixo alguns dos eixos que foram assim designados para fins de operacionalização do trabalho de pesquisa. Apesar de compreenderem engajamentos em campos de natureza diversa; para fins de análise e escrita, os mais diversos materiais embasarão uma reflexão que parte da noção de que todas essas frentes nos auxiliam na compreensão do problema mais geral dessa pesquisa.
-Fase 1: Entrevistas com mulheres que realizaram ou já detêm o encaminhamento para realizar cirurgias plásticas pelo Sistema Único de Saúde.
-Fase 2: Entrevistas com cirurgiões plásticos e médicos residentes atentando especificamente para suas trajetórias e para desafios práticos relativos ao cotidiano dos procedimentos.
-Fase 3: Análise da legislação brasileira referente às cirurgias plásticas no âmbito do SUS: leis, resoluções, portarias .
Discussão e Resultados Apesar de histórias e motivações completamente distintas no que diz respeito às experiências relativas às cirurgias plásticas, em todos os relatos é possível observar, de maneira bastante evidente, “um antes e um depois”. Ou seja, todas as(os) interlocutoras(es) relatam que o procedimento teve um caráter de “divisor de águas” em suas trajetórias pessoais. Idade e ciclo de vida permeiam algumas das entrevistas realizadas, principalmente no discurso das interlocutoras que são mães. Assim, em boa medida, a cirurgia plástica é acionada - segundo as entrevistas - em função das mudanças corporais advindas de uma ou mais gestações.
No que tange aos médicos cirurgiões plásticos, a hierarquia 1)salvar, 2)curar e 3)aprimorar se mostra como uma premissa em seus discursos. Em boa medida, é possível observar que há certa confusão e entrelaçamento entre estas esferas, como não poderia deixar de ser se levamos em consideração os variados fluxos que as perpassam. Ainda, a preocupação em não separar em categorias distintas as cirurgias plásticas reparadoras e as cirurgias plásticas estéticas aparece como algo bastante central para estes profissionais.
Conclusões/Considerações Finais Por fim, a presente pesquisa partiu de uma análise que teve com um de seus fios condutores a questão da agência relativa tanto às mulheres quanto aos médicos e às instituições. Além disso, um dos postos-chave da discussão apresentada é a relação entre a gratuidade e desejos relativos a esses aprimoramentos. O que foi proposto trata-se, diferentemente do que é apresentado na maioria dos trabalhos relativos ao tema, de uma abordagem que tem por objetivo tentar superar a noção bastante reducionista de cirurgia plástica como algo restrito ao domínio do aprimoramento estético. Enfim, o presente trabalho pretendeu abarcar, a partir de uma perspectiva crítica e com base nos estudos sociais das ciências e na teoria feminista neo-materialista, os agenciamentos e materialidades implicados nesses procedimentos.
|