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Grupos Temáticos
12/10/2016 - 15:00 - 16:30 GT 27 - Alimentação e Políticas Públicas numa Abordagem das Ciências Humanas |
11588 - RELATO AUTOETNOGRÁFICO DO DESENVOLVIMENTO DE GRUPOS FOCAIS SOBRE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO COM USUÁRIOS DE SÃO PAULO E BOGOTÁ: NA BUSCA DA REAFIRMAÇÃO DESDE UM PARADIGMA ALEXANDRA PAVA-CÁRDENAS - FACULDADE DE SAÚDE PÚBLICA, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, LÚCIA DIAS DA SILVA GUERRA - FACULDADE DE SAÚDE PÚBLICA, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, ANA MARIA CERVATO-MANCUSO - FACULDADE DE SAÚDE PÚBLICA, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Período de Realização da experiência Abril/2015- Maio/2016
Objeto da experiência Como iniciantes na pesquisa qualitativa, durante doutorado em nutrição, querer empreender um caminho distante do paradigma biomédico, tornou-se uma travessia. O encantamento pelas ciências sociais e humanas ocasionou uma série de confusões e crises, no esforço de reconhecer o espaço social e cultural ocupado. Nesse sentido, a alimentação e nutrição, os objetos de pesquisa, tomaram outra tonalidade, passaram de serem temas simples de abordar desde a prescrição a se converterem em objetos complexos e incertos para a compreensão. O grande desafio foi o processo de assumir disposições que possibilitassem um maior entendimento do “outro”, do usuário, sem cair em diagnósticos espontâneos.
Objetivo(s) Refletir sobre meu processo de aproximação mediante grupos focais com usuários da Atenção Primária à Saúde e minha relação com os usuários em São Paulo, a cidade adotiva, e Bogotá, a cidade natal.
Metodologia A narrativa é resultado dos registros do diário de campo, especialmente do componente de autopercepção, onde as minhas emoções, sentimentos, frustrações, lembranças e conversações entre si tornam-se objeto de pesquisa. Assim, sistematizei as notas correspondentes a sete meses de formulação dos grupos focais, três meses de trabalho de campo em São Paulo, Brasil, e três meses de trabalho de campo em Bogotá, Colômbia.
Resultados Mencionarei três cenas marcantes do estudo comparado. A primeira, durante teste piloto da condução do grupo focal, continuava fazendo uma entrevista em grupo e não conseguia incentivar que os usuários dialogassem entre eles, já tinha lido a coleção de Krueger, mas não atingia o nível. A ansiedade dificultava minha fala, suspeitava que meu português, quase portunhol, não dava sentido para os participantes. Outra se remete a uma tarde chuvosa em São Paulo, as senhoras chegaram pontuais ao grupo focal, quando de repente, em meio da conversação e do lanche, o tema de alimentação passou a ser morar na favela e o preconceito dos vizinhos que moravam na ladeira, eu apenas podia dizer, por quê?, mesmo que me lembrasse daquele preconceito, pois o conheço muito bem. A última aconteceu em Bogotá, numa tarde de sábado, convoquei onze usuárias e chegou uma. Isso me deu raiva, era a segunda vez que não conseguia, até me questionei porque fazer grupo focal, pois não conseguia controlar eles.
Análise Crítica Dentro dos grandes desafios do trabalho tive de atravessar duas novas dimensões. Sair da perspectiva do profissional e querer-me aproximar do entendimento de alimentação e nutrição a partir dos usuários. O resultado da trajetória no desenvolvimento dos grupos focais me levou a pensar que fui atrás da minha identidade e que nos momentos de grandes dificuldades na execução dos grupos, volta-se a revelar noções da origem paradigmática. Mesmo que tentei me aproximar como usuária, acabei reconhecendo que esse papel requeria de muito mais investimento e que seria uma aproximação mais cuidadosa ao usuário desde uma perspectiva profissional. O grande esforço para me manter numa postura construtivista levou muito tempo de vigilância nas compreensões e interpretações dos acontecimentos, com ajuda de discussões com diferentes colegas de pesquisa e pesquisadores sociais.
Conclusões e/ou Recomendações Os dilemas e angústias que emergem para um iniciante de pesquisa qualitativa, mesmo em uma fase de doutorado, precisam ser expostos e discutidos, pois muitas vezes a adesão a abordagem qualitativa desde agentes da saúde não é automática e torna-se hibrida, pelo que as análises muitas vezes tendem a voltar a origem do modelo biomédico. Assim, um acompanhamento intensivo no processo, auxilia no entendimento das próprias rupturas e novas construções.
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