11/10/2016 - 15:00 - 16:30 GT 17 - Itinerários Terapêuticos nas Múltiplas Dimensões e os Desafios para a Integralidade em Saúde |
11640 - CAMINHOS PARA A CESÁREA: UMA ANÁLISE DOS ITINERÁRIOS TERAPEUTICOS DE MULHERES DO SETOR PÚBLICO DE ATENÇÃO À SAÚDE ANDREZA RODRIGUES NAKANO - INSTITUTO FERNANDES FIGUEIRA - IFF/FIOCRUZ, SARAH DIAS SILVA - INSTITUTO FERNANDES FIGUEIRA - IFF/FIOCRUZ, CLAUDIA BONAN - INSTITUTO FERNANDES FIGUEIRA - IFF/FIOCRUZ
Apresentação/Introdução No Brasil, mais de 98% dos partos acontece em ambiente hospitalar assistido por profissionais de saúde. Predominam a institucionalização do parto e os cuidados biomédicos no pré-natal. Um dos países com a maior incidência de cesarianas no mundo, o Brasil chegou a 56% dos nascimentos por via cirúrgica em 2013. Cerca de
70% de todos os partos são realizados no setor público de atenção à saúde, dos quais
46% são cesarianas. Em geral, ao longo da gestação as mulheres frequentam consultas
de pré-natal e recebem influência do discurso do profissional que as realiza. Outras influências como a mídia, as leituras feitas e as opiniões de amigas e familiares estão presentes no itinerário da gestação e culminam na decisão/preferência por um determinado tipo de parto. Neste estudo, adota-se uma perspectiva analítica dos itinerários terapêuticos para explorar as trajetórias de mulheres que tiveram seus filhos por cesariana, com foco na sequência de acontecimentos, nos processos de interação e negociação e na tomada de decisão na experiência de gestação e parto.
Objetivos Este estudo tem como objetivo analisar os elementos dos itinerários de cuidados à gestação e parto que colaboram para a realização de cesariana entre mulheres do setor público de atenção à saúde, buscando especificamente identificar os itinerários de cuidados na gestação e parto de mulheres que realizaram cesariana e analisar aspectos sociais, pessoais e assistenciais que confluem para a prática de cesariana.
Metodologia O estudo é de natureza qualitativa, com método de análise de relatos orais. A coleta de dados se deu através de entrevistas em profundidade, conduzida por pauta temática que abordou a história da gestação, dos cuidados de pré-natal (PN), do trabalho de parto e do parto da última gravidez, a história de gravidezes e partos anteriores, história de gravidezes e partos na família e no círculo de amizades e história afetivo-sexual e de cuidados com a saúde sexual e reprodutiva. As participantes da pesquisa foram 16 mulheres que realizaram cesariana no setor público de atenção à saúde, oriundas de municípios do estado do Rio de Janeiro. Elas foram entrevistadas no período de 2011 a 2012, com intervalo de 6 a 18 meses após o parto. A análise narrativa das entrevistas nos permitiu identificar os itinerários empreendidos pelas mulheres.
Discussão e Resultados A realização do PN em serviços de saúde é parte da rotina de cuidados de todas as mulheres entrevistadas, a qual é complementada pela de realização de exames laboratoriais e ultrassonográficos. A participação da família na definição da trajetória de cuidados somente reforça os cuidados profissionais em serviços de saúde. No que se refere ao parto, a maioria sabia previamente qual maternidade procurar e entendia que a via de parto seria definida somente na evolução do trabalho de parto; para elas são as indicações clínicas estabelecidas pelo médico que definem a via de parto, sendo a cesariana parte do acervo de cuidados e não uma escolha. Uma mulher distinguiu-se de todas as demais em seu itinerário de cuidados. Ela tinha o entendimento que a gravidez precisa ser monitorada, e para isso visitava regularmente serviços de pronto atendimento para averiguar as condições da gravidez e realizar exames complementares. A busca pela cesariana, que vinha associada ao desejo de realizar laqueadura tubária, demonstra que a mulher burlou os circuitos na rede de cuidados, no entanto, não excluiu nem minimizou a importância dada à lógica dos cuidados biomédicos, somente mudou os percursos.
Conclusões/Considerações Finais As conquistas alcançadas com o melhor acesso ao PN e o conhecimento prévio da maternidade em que se realizará o parto vieram acompanhadas de um maior valor atribuído aos cuidados biomédicos. Prevalece a ideia de cuidado à dimensão biológica da gestação e do parto, não deixando margens para cuidados em outros circuitos (sejam eles religiosos ou de saber popular). Encontramos entre os itinerários das 16 mulheres que os caminhos trilhados por pessoas em busca de cuidados podem não coincidir com esquemas e fluxos pré-determinados, como é o caso da mulher em destaque. A referência teórica de itinerário terapêutico é mais utilizada por estudos relacionados a doenças, no entanto compartilhamos com outros autores o entendimento da potencialidade de utilizá-lo para análise do processo de gestação e parto. Compreendemos que essa perspectiva teórica foi produtiva e ofereceu novas perspectivas à análise dos caminhos para a cesárea.
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