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10/10/2016 - 13:30 - 15:00
GT 31 - Educação Popular e Práticas de Cuidado

11821 - A BENZEDURA E O SUS: PRÁTICAS ESPIRITUAIS/RELIGIOSAS NA SAÚDE E PERCEPÇÕES DE TRABALHADORES, USUÁRIOS E BENZEDORES NAS ÁREAS ATENDIDAS PELA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA
LUIZA MARIA DE ASSUNÇÃO - UFTM, LEINER RESENDE RODRIGUES - UFTM


Apresentação/Introdução
Nos últimos tempos, os benzedores têm conseguido espaço no sentido da regulamentação da sua prática. É o que tem ocorrido em algumas regiões do Brasil, onde a prática da benzedura foi regulamentada. A despeito dessa concretização de parceria entre a tradição religiosa e as políticas públicas voltadas para a saúde e não obstante o espaço conquistado pela benzedura junto as instituições de saúde, tal prática é muitas vezes negligenciada pelos profissionais da área da saúde. Interessa-nos aqui compartilhar, mediante projeto de pós-doutoramento, a necessidade de estudo do impacto das representações proporcionadas pela benzedura em relação ao processo saúde/doença. Assim, espera-se que este trabalho permita: (i) colaborar para reflexões sobre a relação entre saúde, cultura e religiosidade; (ii) evidenciar que estudos que considerem a interface entre saúde, cultura e religiosidade tem muito a contribuir; (iii) conhecer as percepções dos profissionais de saúde sobre a benzedura e verificar o modo como a diversidade religiosa e cultural tem sido incorporada no cotidiano das instituições.


Objetivos
Movido pelo pressuposto de que a prática da benzedura pode ser considerada uma alternativa capaz de conjuminar os diferentes elementos - o físico, o mental, o social, o espiritual - propostos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o presente estudo busca investigar como o ofício da benzedura tem impacto no processo saúde-doença e o modo como profissionais da atenção básica percebem a presença de tais práticas nos territórios atendidos e como acolhem os aspectos espirituais/religiosos presentes na vida dos sujeitos que demandam por seus serviços sem discriminá-las.


Metodologia
Trata-se de uma pesquisa qualitativa de caráter interdisciplinar no sentido de que se vale: (i) de diferentes perspectivas da sociologia (sociologia da saúde, sociologia da cultura e sociologia da religião) (ii) da perspectiva da antropologia social (iii) da perspectiva da saúde coletiva. Mediante a coleta de entrevistas semiestruturadas será possível captar as percepções dos diferentes sujeitos da pesquisa quanto ao impacto dos aspectos religiosos/espirituais na saúde e a abertura ou não dos profissionais de saúde para esses aspectos. A amostra (124 sujeitos) será ampliada ou reduzida conforme o nível de saturação teórica. De benzedores e profissionais da saúde objetiva-se saber o que pensam a respeito do uso concomitante de práticas da benzeção e da medicina tradicional. Dos usuários intenta-se obter relatos que identifiquem não somente o como percebem o uso paralelo de perspectivas distintas, mas também qual o papel desempenhado por cada uma no processo saúde-doença.


Discussão e Resultados
No Ocidente, apesar de a fonte de explicação ser a filosofia e a ciência, os mitos são uma forma explicativa que foi inserida no interior desse outro modelo racional. Tal evidência deixa claro que, mesmo com o desencantamento do mundo do qual fala Weber (1982), ainda resta um espaço para as práticas religiosas/espirituais, as quais são tomadas como um recurso quando, mesmo com todos os aparatos científicos, há falta de perspectivas. Porém, o que se percebe normalmente nas instituições de saúde é uma tendência em patologizar quaisquer ações que não estejam ligadas a esfera médica. O desconhecimento da cultura brasileira e de suas práticas religiosas/espirituais tem sido prejudicial para uma população majoritariamente adepta de alguma crença. Nessa perspectiva, acredita-se que, por ter como princípios doutrinários a universalidade, a equidade e a integralidade, o SUS não deva desconsiderar essas práticas, no sentido de sensibilizar seus profissionais para acolhê-las sem discriminação.


Conclusões/Considerações Finais
É enriquecedora a possibilidade de refletir sobre de que modo e em que medida a benzedura se vale da sua prática específica para explicar o processo saúde/doença, a despeito da perspectiva de uma medicina “racionalizada” que se constituiu no Ocidente. Por meio de tal apreciação é possível igualmente contemplar as seguintes dimensões: a importância de uma visão biopsicossocioespiritual na assistência humanizada e no cuidado com o paciente; os impactos da religião, religiosidade e espiritualidade na saúde; as intersecções entre campo médico-científico e campo religioso e seus saberes/práticas específicas. Acredita-se que, mesmo havendo tensão entre os diferentes campos de saber (médico e religioso), há uma interação entre eles, na busca humana por respostas plausíveis as diferentes enfermidades. Nessa direção, muitas intervenções nas práticas de saúde têm procurado resgatar a dimensão subjetiva, tão desprezada pela perspectiva biologicista da medicina ocidental contemporânea.


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