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Grupos Temáticos
12/10/2016 - 13:30 - 15:00 GT 26 - Emancipação, Educação e Análise Social |
11823 - A SAÚDE MENTAL DOS ESTUDANTES DE MEDICINA: UMA EXPERIÊNCIA DE CUIDADO EM OFICINAS DE ARTE E FILOSOFIA MÔNICA GOMES DE ANDRADE - IPUB/UFRJ, OCTAVIO DOMONT DE SERPA JUNIOR - IPUB/UFRJ
Período de Realização da experiência Experiência em curso: de fevereiro de 2014 até a presente data.
Objeto da experiência A saúde mental dos estudantes do oitavo período da Faculdade de Medicina da UFRJ/Macaé inscritos na disciplina de Saúde Mental. Reconhecendo o risco de sofrimento psíquico a que o aluno está submetido durante a formação médica, em função da sobrecarga de conteúdos, do excesso de cobranças e responsabilidades, do enfrentamento da morte ao longo do curso, do pouco tempo para o lazer e o descanso, como preceptora (médica cedida pela Prefeitura Municipal de Macaé), procurei oferecer ao aluno, dentro da disciplina, um espaço de cuidado com a própria saúde mental, que foi nomeado Oficina de Cuidado.
Objetivo(s) Oferecer ao estudante de Medicina um espaço onde ele possa refletir sobre suas próprias questões, angústias e afetações, sem que haja a censura ou o temor de parecer vulnerável. Um espaço onde não só a informação e o procedimento técnico estivessem presentes, mas no qual a própria vida pudesse se mostrar e ser tematizada; onde a conversão do olhar para si mesmo pudesse acontecer, em um exercício de preparação para as situações presentes e futuras. Ao acessar as suas experiências e ao perceber-se sujeito do cuidado, o estudante torna-se capaz de rever suas posturas na relação médico-paciente.
Metodologia As turmas têm sido divididas em grupos de quatro a seis alunos e as reuniões duram noventa minutos, acontecendo uma vez por semana. O formato inicial foi o de um grupo reflexivo, em que se utilizava um disparador, que poderia ser: um conceito ou proposição em filosofia, uma referência literária, ou uma tarefa, como trazer para o grupo uma obra de arte com a qual o aluno se identifique e que represente um aspecto do seu modo-de-ser. O objetivo é que o estudante de medicina possa se conectar com a sua subjetividade, experienciar uma reflexão sobre si mesmo, acerca de suas crenças, costumes, sentimentos, relacionamentos, modos-de-ser no mundo e com o outro. Com o passar do tempo, outras atividades foram inseridas, tais como caminhadas na praia, práticas de meditação, canto, cafés da manhã em grupo, idas ao cinema e debate, uma vez que eram bem-vindas quaisquer práticas que visassem a reflexão, o bem estar e que, dessa forma, levassem à preservação, promoção e reabilitação em saúde mental.
Resultados Tem sido admirável a entrega dos alunos à proposta, participando maciçamente, ganhando interioridade, aprofundando o conhecimento sobre si mesmos e empreendendo estratégias de cuidado consigo. Afirmam que gostariam que esta atividade ocorresse do início ao final do curso. Destaco alguns comentários dos alunos participantes das oficinas: M1: Adorei a oportunidade de poder falar de mim e me conhecer melhor; M2: Comecei a me exercitar por causa da Oficina; M3: Aprendi a dizer não; M4: Percebi que preciso cuidar melhor da minha saúde mental e de que preciso de ajuda; M5: Foi a primeira vez na faculdade que alguém se importou com como a gente está se sentindo. Até então, quando a gente se queixava, diziam que o curso de medicina é estressante mesmo e mudavam de assunto. Acho que nosso trabalho é cuidar dos outros, também precisamos de cuidado e tivemos isso aqui. M6: tenho conseguido reservar um tempo para descansar... E, por incrível que pareça, tenho me saído até melhor nas provas.
Análise Crítica O sofrimento psíquico do estudante de medicina em suas causas, consequências e manifestações é objeto de diversos artigos na literatura científica. A necessidade do cuidado com a saúde mental deste estudante já está posta. Inclusive, é uma das determinações das Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Medicina, desde junho de 2014. Embora o problema seja exaustivamente levantado, observa-se uma falta de estratégias em execução que possam saná-lo. Esta Oficina de Cuidado se anuncia como uma experiência enriquecedora e criativa bem-sucedida nesta seara. Alguns pontos de tensão: queixas pertinentes dos alunos acerca da universidade, sobretudo ao não cumprimento do que é proposto pelo currículo e à postura de alguns professores; o desconforto de alguns em se expor num grupo; e o aparecimento de casos de alunos em franco sofrimento psíquico, que necessitaram ser encaminhados a um acompanhamento mais efetivo. Temos empreendido estratégias de enfrentamento a estas questões.
Conclusões e/ou Recomendações Divulgação de uma estratégia que vem se mostrando bem-sucedida, a das Oficinas de Cuidado para estudantes de medicina, cuja proposta é oferecer um espaço de escuta, diálogo, reflexão, arte e filosofia, na esteira da noção antiga de cuidado de si. Nesta, é necessário cuidar de si para cuidar do outro e do mundo. As Oficinas de Cuidado se revelam como um espaço onde o mal-estar do estudante de Medicina possa aparecer, ser tematizado e cuidado a partir daí. Trata-se de um espaço onde narrativas podem ser produzidas para além da instrumentalização do aluno no saber médico-científico.
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