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Grupos Temáticos
12/10/2016 - 13:30 - 15:00 GT 27 - Normas, Histórias e Olhares sobre a Cultura Alimentar |
11834 - FARMACOLOGIZAÇÃO DA ALIMENTAÇÃO: O CASO DA REVISTA RUNNER´S WORLD NO BRASIL JULIANA DA MATA MACHADO - UERJ, SHIRLEY DONIZETE PRADO - UERJ, FRANCISCO ROMÃO FERREIRA - UERJ
Apresentação/Introdução A alimentação e o esporte estão sempre presentes quando o assunto é a busca pelo corpo perfeito e de estilo de vida saudável; já o sedentarismo, a velhice e a obesidade são considerados uma espécie de mal que necessita ser vencido.
Ao redor da imagem do corpo perfeito, instauram-se novos sentidos – que valorizam o incremento da força corporal, a musculatura cada vez mais potente e a superação constante dos limites da normalidade biológica – associados a alimentos funcionais e suplementos em consumo crescente.
Williams, Martin e Gabe consideram a “farmacologização” como a transformação de potencialidades humanas em oportunidades para intervenções farmacológicas, sem vínculo com doenças, mas visando a uma espécie de “supernormalidade”, gerando identidades ligadas ao uso de determinados fármacos, expansão do mercado farmacêutico, relações diretas da indústria com “consumidores” e a submissão da vida aos produtos farmacêuticos.
O discurso publicitário tem papel relevante nesse processo. Revistas podem ser tomadas como exemplos de veiculação desses sentidos atribuídos ao corpo, à alimentação e aos fármacos, com destaque para aquelas inseridas no campo dos esportes, bastante difundidas.
Objetivos Considerando que a publicidade de alimentos funcionais e de suplementos visa a satisfazer necessidades individuais ditadas por uma sociedade globalizada em que referências estéticas e comportamentais criam necessidades para as quais uma série de medicamentos e fármacos têm pretendido oferecer soluções ao mesmo tempo em que conduz a novas necessidades, consumos, desejos e crença em respostas e soluções técnico-científicas para quase todas elas, propõe-sea problematização de discursos presentes em revistas quando relativos a novos modelos de "alimentação" e ao corpo associado ao esporte.
Metodologia O recorte empírico corresponde a 12 exemplares de 2016 da revista Runner's World para análise das matérias que tratam de nutrição, alimentação e atividade física. A revista foi escolhida por ter uma grande circulação.
A partir dos enunciados presentes nessas revistas, busca-se identificar “formações discursivas” e “estratégias discursivas”, como em Michel Foucault. Considera-se que estes enunciados estão naturalizados pelo senso comum e utilizados pelos “especialistas”. Entende-se que todo discurso é político, proferido a partir de uma posição ideológica que autoriza o sujeito que fala. Consoante com Eni Orlandi, não existe discurso sem sujeito, fora da ideologia; portanto, os discursos “científicos” proferidos por profissionais especializados que tratam da alimentação, nutrição e atividade física voltados para o consumo não são neutros ou fora das tensões que cercam as questões.
Discussão e Resultados Resultados preliminares mostram a presença permanente de médicos, fisioterapeutas, nutricionistas, pesquisadores, entre outros, a informar o que comer ou que suplementos ingerir para “ir mais longe” aos “30, 40, 50, 60 ou mais de 70 anos”, estando “você mais forte e mais veloz”, com “mais saúde”, “correndo melhor”, sempre “batendo seu recorde” e assim alcançando “pernas de aço”. Na seção “Nutrição” da revista, há ênfase constante no papel dos alimentos para que esse corredor se supere infinitamente. "Sempre é tempo de tomate (...) fonte de licopeno, um poderoso antioxidante que ajuda a prevenir doenças cardíacas e diversos tipos de câncer, além de possuir propriedades anti-inflamatórias, o que é ótimo para quem corre (...)”. A ideia de “supernormalidade” traz consigo uma identidade mais valorizada por meio do consumismo, da necessidade de alimentos-remédios e/ou suplementações alimentares para se conseguir uma melhor performance na prática esportiva como elemento de um estilo de vida saudável.
Conclusões/Considerações Finais A ligação estrutural das escolhas e consumos de cunho individual com as relações sociais é um fato em relação ao corpo e sua associação com as atividades esportivas e alimentares. As razões e os critérios que envolvem os interesses do Estado que regula o esporte, o lazer e a veiculação da mídia sobre a alimentação, embutida na forma de "farmacologização" e/ou suplementação, ainda é um assunto que precisa ser mais discutido, uma vez que afeta não só a integridade do corpo físico, como o emocional e psicológico dos indivíduos e logo o da sociedade.
Assim, cabe ao profissional de Nutrição ficar atento ao aconselhamento e o resgate da alimentação em forma de comida, à comensalidade e as formas de comer, evitando a restrição alimentar (o que, como e quanto se deve comer ou não) e a "supernormalidade" em relação ao uso de alimentos em forma de remédios e suplementos, com objetivos voltados para se disciplinar e padronizar o corpo e a saúde em busca da manutenção de certa ordem social.
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