|
Grupos Temáticos
10/10/2016 - 13:30 - 15:00 GT 8 - Adoecimentos de Longa Duração: Reflexões e Pesquisas |
11288 - ADOECIMENTO CRÔNICO NO RURAL: RELAÇÕES SOCIAIS E EXPRESSÕES DE CUIDADO E DE SOFRIMENTO ELIZIANE NICOLODI FRANCESCATO RUIZ - UFRGS, TATIANA ENGEL GERHARDT - UFRGS, VILMA FIORAVANTE DOS SANTOS - UFRGS
Apresentação/Introdução O panorama atual do crescente número de adoecidos crônicos no mundo desperta, cada vez mais, preocupação, pois a doença crônica, tendo um curso de longa duração, por vezes sem cura biológica, exige uma reordenação no viver das pessoas e do seu entorno. Assim, o que se buscou com o estudo foi direcionar o olhar para esse tipo de adoecimento em um cenário pouco retratado no discurso da saúde coletiva: o rural. Porém, diversamente dos olhares científicos hegemônicos sobre esse cenário, a proposta foi apreendê-lo para além de um espaço apenas agrário e do seu quadro de distribuição epidemiológica das doenças. O que se procurou foi dar visibilidade ao rural como um espaço de vidas inseridas em uma sociedade mais ampla, evocando a voz das pessoas que convivem com o adoece. O ponto de partida foi a compreensão de que o adoecer crônico é multidimensional — reflexo não somente do biológico, mas, dentre outros, também do cuidado oferecido como resposta do social. Assim, a fim de tornar tal adoecer inteligível na perspectiva das pessoas que o experienciam foi necessário, inicialmente, compreender como é o cotidiano rural de sujeitos que não estão sozinhos, mas em relação com outros.
Objetivos Compreender a implicação que os encontros em redes/relações sociais têm no adoecer crônico rural
Metodologia Foi realizado estudo etnográfico na localidade rural Rincão dos Maia, no município de Canguçu/RS. Os dados foram produzidos por meio de observação participante, anotações em diário de campo e entrevistas semiestruturadas. O processo analítico foi orientado pela antropologia interpretativa, tendo como base o referencial teórico da Dádiva de Marcel Mauss, bem como o referencial do Reconhecimento de Axel Honneth
Discussão e Resultados Olhar para o adoecer crônico pela perspectiva das ciências sociais e humanas possibilitou apreender que este tipo de adoecer é capaz de recuperar a possibilidade de exercício relacional e da circulação de valores postos nele, relações que estariam a se tornar não mais tão frequentes e sólidas como no passado da comunidade rural. Quando se chama a atenção para a reação que o adoecer desperta no social, observa-se que ele é capaz de produzir diversas implicações: ora pendendo mais para o interesse no outro e no respeito às necessidades e aos valores que são tão caros às pessoas do lugar, havendo, com isso, a doação de bens que se considera de cuidado a saúde; e ora pendendo mais para a desconsideração com a identidade que tanto fazem esforço em preservar, havendo, por sua vez, doações que são de sofrimento. Além disso, tais relações são provenientes dos mais diversos espaços do social: família, vizinhos, igrejas, Estado, trabalho e também não se resumem à materialidade (medicamentos, exames, etc), mas se revestem (da falta ou presença) de afeto, cidadania e solidariedade, ou seja, de reconhecimento.
Conclusões/Considerações Finais Apreendeu-se que a doença crônica, de longa duração e que exige atenção contínua, é também continuamente manejada pelo adoecido-produtor de sua saúde no encontro com o contexto, com outro e com o que ele oferece. Nesses encontros com o outro, a circulação de dádivas não exclui o interesse de cada um em si mesmo, não exclui o fato do encontro ocorrer obrigado pelas normas, mais ainda, não exclui a produção de sofrimento humano. Mas, ao fim e ao cabo, a realização de um adoecer digno, pareceu não está em outra parte que não no vínculo cotidiano com os outros, doando, recebendo, e retribuindo reconhecimento e respeito.
|
|
|
|