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Grupos Temáticos
10/10/2016 - 13:30 - 15:00 GT 13 - Pessoa com Deficiência: Práticas de Inclusão |
11045 - ATENDIMENTO: DESCONFORTO E COMPAIXÃO DIANTE DE PACIENTES CRÔNICO-SEQUELADOS JOSÉLIA OLIVEIRA ARAÚJO FIRMO - FIOCRUZ MINAS, KARLA CRISTINA GIACOMIN - PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE, JANAÍNA AREDES - FIOCRUZ MINAS
Apresentação/Introdução A deficiência faz parte da condição humana (RELATÓRIO MUNDIAL SOBRE A DEFICIÊNCIA, 2012). No Brasil, estima-se que 23,9% das pessoas apresentem alguma deficiência - visual, auditiva, motora e mental ou intelectual (CENSO, 2010) - e precisam ser compreendidas nas suas diversidades e necessidades individuais.
Concorrem para a gênese de deficiências adquiridas o incremento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) e da violência urbana que redundam em um número crescente de atendimentos de urgência, de hospitalizações e incapacidades que comprometem a funcionalidade dos indivíduos (MAZZILI, CERQUEIRA E RAJÃO, 2012). Entende-se como funcionalidade todas as funções do corpo, atividades e participação; enquanto a incapacidade se refere às deficiências e limitações do corpo que implicam em perda funcional (CIF, 2004).
O presente estudo apresenta o recorte de uma pesquisa etnográfica realizada no maior hospital de pronto socorro de uma metrópole brasileira sobre ritos e narrativas médicas em torno da vida e da morte, para compreender como os médicos de um Pronto Atendimento pensam e agem em relação ao cuidado ministrado a pessoas com deficiências adquiridas.
Objetivos O presente estudo busca compreender como os médicos que atendem no pronto atendimento orientam o cuidado a pessoas com sequelas definitivas que impedem a recuperação plena da funcionalidade e da vida social prévias.
Metodologia Trata-se de um estudo etnográfico, ancorado nos pressupostos da antropologia hermenêutica (GEERTZ, 1989) e médica. A análise dos dados foi orientada pelo modelo de “signos, significados e ações”, o qual parte do horizonte pragmático para remontar ao nível semântico (CORIN ET AL, 1992).
Este estudo foi desenvolvido em um hospital de pronto atendimento, referência na América Latina, situado no hipercentro da cidade de Belo Horizonte/MG e com reconhecida excelência pela formação de recursos humanos e desenvolvimento de pesquisa em saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009).
A etnografia foi realizada entre dezembro de 2012 e agosto de 2013, baseada em observações empíricas durante plantões noturnos e diurnos e entrevistas semiestruturadas junto a médicos plantonistas. Os participantes foram selecionados pela técnica “bola de neve” (PATTON, 2002). A população do presente estudo incluiu os médicos que atuavam em setores específicos para pacientes graves e com deficiências adquiridas.
Discussão e Resultados Foram entrevistados 43 médicos (25 homens e 18 mulheres), de 28 a 69 anos, com pelo menos uma residência médica. À análise etnográfica emergiram duas categorias:
-“Um novo paciente criado pela Medicina: com sequelas ‘para o resto da vida’”: apoiado e justificado pelo modelo biomédico (FOUCAULT, 2003), o médico luta para manter a vida do paciente (MURRAY, CERQUEIRA E KAHN, 2013). O termo êmico “crônico-sequelado” integra signos de cunho negativo que aludem a alguém “morredor e apodrecendo em vida”; “vegetal”, “ocupando um espaço”, com “prognóstico de má qualidade de vida”;
-“O ônus de ser médico diante de situações intransponíveis: desvelando a humanização do profissional de medicina”: de modo ambivalente, para lidar com esse paciente os médicos amortecem sentimentos e emoções (SILVA E MENEZES, 2015), portam máscaras e tentam se distanciar, limitando a aproximação física, mas em um “ato de compaixão” (NIETZSCHE, 1981) rompem essa barreira e sofrem incompreensões.
No pronto atendimento, diante de uma “morte em vida” - morte social que implica em perdas de papéis com repercussões sociais, políticas e econômicas (GURGEL, 2007) -, o médico sofre com o outro e pelo outro.
Conclusões/Considerações Finais
Em um Pronto Socorro, a deficiência adquirida resulta de um cuidado médico que contraria as expectativas de todos os envolvidos. Cotidianamente confrontados com seus próprios limites, aqueles do serviço, dos familiares e, sobretudo dos pacientes, os médicos se veem despreparados para lidar com a inescapável condição humana de fragilidade, imperfeição e finitude e questionam a finalidade da sua atuação.
Para alterar esse cenário, é preciso superar a visão pessimista do modelo biomédico sobre a deficiência; investir na formação paliativista e reconhecer os esforços e as angústias dos médicos em serem compassivos com os pacientes e suas famílias; bem como implantar políticas de cuidados de longa duração para pessoas com deficiências de todas as idades. Espera-se que a nova legislação - Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, em vigor desde Janeiro/2016 – garanta efetivamente os direitos e liberdades das pessoas com deficiências, sua inclusão social e cidadania plenas.
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