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Grupos Temáticos
10/10/2016 - 13:30 - 15:00 GT 13 - Pessoa com Deficiência: Práticas de Inclusão |
11981 - PREVENÇÃO E TRATAMENTO À SAÚDE PARA MULHERES SURDAS: UM ESTUDO ETNOGRÁFICO NA ZONA DA MATA MINEIRA ANA LUISA BORBA GEDIEL - UFV
Apresentação/Introdução Dentre os desdobramentos das subjetividades que envolvem as pessoas com deficiência, o recorte de gênero pauta-se na percepção das mulheres Surdas frente à constituição de políticas públicas e ao direito de acesso nos serviços públicos. No campo das políticas públicas no Brasil, desde a década de 90, é estabelecida uma agenda voltada às questões de gênero relativas à saúde, violência, educação, trabalho, entre outras (FARAH, 2004), voltada à acessibilidade e inclusão das mulheres de forma mais igualitária. No entanto, evidencia-se uma questão de vulnerabilidade referente às usuárias da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS, visto que constituem uma minoria em relação à totalidade da população.
Desta forma, a problemática busca entender como as mulheres Surdas recebem informações e são atendidas para prevenção e tratamento à saúde. Para tanto, foram consideradas as variáveis que circundam o entendimento a respeito da saúde sexual e reprodutiva dessas mulheres, tais como: a família, a religião, a fluência na língua, as considerações de gênero e violência, além do próprio regimento de saúde e das percepções médicas frente a elas.
Objetivos Este estudo teve o objetivo de entender como as mulheres Surdas usuárias da LIBRAS, que não estão cadastradas nas Estratégias de Saúde da Família (ESFs), recebem informações e são atendidas para prevenção e tratamento à saúde. Inicialmente, buscou-se identificar a partir do II Plano Nacional de Políticas para as Mulheres e das diretrizes do Sistema Único de Saúde as principais noções que norteiam a saúde para as mulheres surdas. Com base na legislação, foi realizado um estudo etnográfico para verificar as formas de agenciamento dessas mulheres sobre seus direitos sexuais e reprodutivos.
Metodologia A pesquisa está alicerçada em uma discussão antropológica referente a agência de mulheres Surdas para a obtenção de conhecimentos na esfera da saúde pública. A partir de uma abordagem qualitativa, foi realizado um estudo etnográfico entre os anos de 2013 e 2015, com mulheres residentes uma cidade do interior da zona da mata mineira. A pesquisa acompanhou o cotidiano de seis Surdas, com idade entre 25 e 43 anos, usuárias da LIBRAS que frequentam as unidades de saúde, mas não estão cadastradas nas ESFs.
Foram utilizados para coleta de dados os elementos clássicos da etnografia: a observação participante, o caderno de notas e o diário de campo. Ainda, as mídias interativas online/offline surgiram como um novo recurso de interação entre a(s) pesquisadora(s) e pesquisadas. Esse formato comunicativo foi proposto pelas próprias mulheres ao longo do processo investigativo e traz contribuições no que se refere às formas de acesso aos conhecimentos sobre os direitos sexuais e reprodutivos.
Discussão e Resultados As práticas de saúde nos locais de atendimento foram consideradas como carregadas de pré-concepções aliadas à questão da deficiência. Essas influenciam diretamente nos esclarecimentos sobre planejamento familiar e saúde reprodutiva. No entanto, o entendimento sobre as decisões de saúde sexual e reprodutiva ocorre para além das esferas de saúde, usufruindo de espaços sócio-culturais em que essas mulheres estão imersas, como, o espaço religioso, a instituição familiar e o espaço da internet. Tais resultados corroboram com a afirmação de Knauth (p. 51, 2002), em que “o contexto de significado acionado pelos indivíduos pode ser, em determinada situação, um contexto macrossocial ou institucional e, em outra, um contexto mais local, permeado por valores e concepções específicas”.
O acompanhamento familiar mostrou-se tutelar quando as Surdas apresentam pouca agência sobre sua saúde sexual, ou no sentido de interpretação da filha ouvinte durante consulta ginecológica. Ainda, percebe-se que as relações de poder eram assimétricas devido à infantilização por parte da família, ocasionando baixo agenciamento da própria corporalidade da mulher Surda.
Conclusões/Considerações Finais A saúde das mulheres Surdas torna-se prejudicada devido a um conjunto de fatores, dentre eles, a barreira linguística, o despreparo profissional, a tutela e a infantilização pelas instituições de saúde e familiares. Também, constatou-se a interferência das instituições religiosas no que se refere ao agenciamento que essas mulheres tem sobre seu próprio corpo.
No que diz repeito ao âmbito da saúde coletiva, verificou-se a importância de desenvolver atividades institucionais que subsidiem a atuação de gestora/es municipais, estaduais e distritais de políticas para as mulheres na formulação e implementação de programas e ações dirigidos às mulheres surdas. Além disso, observou-se a emergência de encaminhamentos referentes à promoção de capacitações para servidores públicos. Constatou-se via pesquisa que esse segmento demonstra a necessidade de políticas que acionem conhecimentos convergentes às suas especificidades linguísticas.
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