10/10/2016 - 13:30 - 15:00 GT 23 - Educação em Saúde - Diferentes Estratégias para Trocas e Produção de Saberes e Conhecimentos |
11018 - O NÚCLEO DE APOIO À SAÚDE DA FAMÍLIA COMO ESPAÇO DE RECONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE PROFISSIONAL VLADIMIR ANDREI RODRIGUES ARCE - UFBA, CARMEN FONTES TEIXEIRA - UFBA
Apresentação/Introdução A inserção dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF) no Brasil promoveu a incorporação de novos profissionais à força de trabalho responsável pelo pleno funcionamento da Estratégia Saúde da Família (ESF) nos territórios. Assim, profissionais que tradicionalmente desempenhavam ações em serviços especializados, e que tinham como foco central do trabalho algum problema de saúde, passaram a ter suas competências profissionais ampliadas na medida em que se integraram ao espaço da APS.
Configura-se, assim, uma situação profissionalmente desafiadora para os profissionais envolvidos, uma vez que se propõe uma mudança na lógica de trabalho, que deve privilegiar ações desenvolvidas em conjunto com as eqSF, com troca de saberes, capacitação e responsabilidades mútuas. Reconhece-se que a criação do NASF tem gerado processos de reorganização do trabalho que seguramente incidem sobre (re)construção das identidades profissionais, processo que precisa ser melhor compreendido, uma vez que se inscreve no conjunto de estratégias de mudança e recomposição das práticas que compõem o modelo de atenção à saúde vigente no SUS.
Objetivos Descrever e analisar a trajetória de formação e profissional dos trabalhadores do NASF e discutir o processo de construção/reconstrução de suas identidades profissionais a partir do trabalho que desenvolvem nas equipes que compõem o sistema municipal de saúde de Salvador, BA.
Metodologia Trata-se de estudo de caso de abordagem qualitativa desenvolvido com profissionais que atuam nas equipes NASF em Salvador, Bahia. Foram selecionados para participarem da pesquisa 12 sujeitos, definidos a partir do uso da técnica Snow Ball, sendo utilizados como critérios de inclusão; a indicação de gestores, docentes de estágios e os próprios profissionais do NASF; ser de equipe consistida há um ano; estar trabalhando há pelo menos um ano na mesma equipe. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas, sendo também utilizado diário de campo. Foi feita a análise de conteúdo dos dados, tendo como referência teórica a perspectiva da socialização do processo de construção das formas identitárias de Claude Dubar. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Professor Edgar Santos/UFBA.
Discussão e Resultados As trajetórias de formação evidenciam a perspectiva assistencialista que orientou a decisão pelos cursos. O contato com a Saúde Coletiva representou importante ancoragem para a superação de recorrentes crises de identificação, bem como a aproximação a movimentos políticos, sobretudo o movimento estudantil, que propiciou a ampliação da concepção de saúde e a formação crítica.
Nas trajetórias sócio-profissionais prévias ao NASF predominaram espaços que não se restringiram ao campo profissional. As poucas experiências de atuação clínica foram marcadas por dificuldades de adaptação à lógica fragmentada e comercial. A vivência em trabalhos comunitários com populações vulneráveis permitiu olhares ampliados para os problemas de saúde.
Analisando-se o contexto atual de trabalho no NASF, predomina um movimento de formação identitária essencialmente coletivo. Isso revela a centralidade da interdisciplinaridade e da multiprofissionalidade neste âmbito, o que lhe confere caráter processual e relacional. O alto grau de autonomia permite romper, em alguma medida, com a lógica taylorizada do trabalho em saúde. Verifica-se, desta forma, a potencialidade do NASF para a desalienação do profissional.
Conclusões/Considerações Finais Nota-se um movimento de construção identitária comum aos profissionais, e que se expressa pela negação inicial das profissões as quais se filiaram originalmente, que passam a ser reconhecidas como essencialmente limitadas, tecnicistas e descontextualizadas. Por outro lado, ao se reconhecerem o oposto disso, passaram a empregar o termo “profissional da saúde”, expressando a importância do contexto deste trabalho no reconhecimento de uma identidade que até então não havia feito sentido em suas trajetórias de formação e profissionais. Pode-se afirmar que a constante busca por mudanças representa a característica central no processo de constituição destes sujeitos na realidade estudada e, considerando que o modo como se organiza o trabalho no NASF permite o emergir desta contradição, sugere-se que esta seja explorada no sentido de se potencializar a inserção destes novos atores na APS, de modo a se fortalecer, efetivamente a, perspectiva transformadora na saúde.
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