10/10/2016 - 13:30 - 15:30 GT 33 - Múltiplos Olhares sobre o Traço Falcêmico |
11141 - ORIENTAÇÕES SOBRE ANEMIA FALCIFORME NA COMUNIDADE QUILOMBOLA ÁGUAS DO VELHO CHICO, OROCÓ-PE. LUCLÉCIA CRISTINA MORAIS DA SILVA - UNIVASF, GIZELIA BARBOSA FERREIRA - IFPE, DIEGO CÉSAR NUNES DA SILVA - UNIVASF, CHEILA NATALY GALINDO BEDOR - UNIVASF
Apresentação/Introdução O Brasil, historicamente, sempre apresentou inúmeras comunidades remanescentes de quilombos, e estas permaneceram por muitas décadas em completa invisibilidade, tendo só recentemente obtido o reconhecimento de sua cultura e territórios.
Apesar dos muitos avanços, esses grupos ainda apresentam-se destituídos de direitos básicos, como o direito a equidade em saúde e, uma das doenças mais proeminentes nessas populações negras são as hemoglobinopatias. Um exemplo é a anemia falciforme.
Nas comunidades negras do sertão de PE existem relatos sintomáticos de casos de anemia falciforme e dentre as diversas comunidades quilombolas do sertão pernambucano, tem-se o exemplo da comunidade Águas do Velho Chico, em Orocó/PE.
O quilombo Águas do Velho Chico está localizado às margens do rio São Francisco e é constituído por cinco povoados, são eles: Caatinguinha, Remanso, Umburana, Vitorino e Mata de São José, com uma população aproximada de 1.800 pessoas (ou cerca de 500 famílias). Todos os povoados que formam o quilombo Águas do Velho Chico (Mata de São João, Remanso, Caatinguinha, Umburana e Vitorino) apresentam relações de parentesco entre si.
Objetivos Na presente pesquisa objetivou-se realizar um diagnóstico participativo na Comunidade Águas do Velho Chico a fim de relatar sua ocupação histórica e laços de parentesco visando identificar as principais dificuldades enfrentadas pela comunidade no âmbito da saúde, com ênfase na anemia falciforme, e assim contribuir na disseminação de informações em saúde.
Metodologia Os principais procedimentos metodológicos utilizados foram: pesquisa bibliográfica diversa, observações em campo e entrevistas semiabertas com os membros da comunidade quilombola Águas do Velho Chico.
Na pesquisa foi utilizada uma abordagem qualitativa e quantitativa, pois a temática da saúde é inerente à dinâmica social vivenciada na comunidade Águas do Velho Chico. Foram realizados seminários e rodas de conversas visando apreender qual o grau de conhecimento da comunidade sobre a anemia falciforme e levar orientação sobre esta patologia, seus sintomas e modos de prevenção de suas morbidades.
Discussão e Resultados Para a construção dos dados a respeito do conhecimento dos membros quilombolas sobre a anemia falciforme foi utilizado um questionário semiaberto, onde foram realizadas 38 entrevistas. Através dos dados colhidos em campo foi possível observar que há uma grande carência de informações sobre a AF. Do total de entrevistados foram encontrados onze (11) casos sintomáticos para a anemia falciforme, destes cinco (5) já possuíam o diagnóstico e realizavam tratamento. Foi possível perceber que os sintomas da AF têm prejudicado a sociabilidade e produtividade dos indivíduos portadores dessa doença, afetando não só suas vidas, mas também a de seus familiares mais próximos.
Durante as oficinas realizadas na comunidade foram discutidas modos de diagnósticos da AF, sintomas e também os modos de prevenção das crises.
Nas entrevistas muitos relatos descreveram que são deficientes os atendimentos recebidos pelos portadores de AF que chegam em crise de vaso-oclusão a um posto de saúde municipal. Alguns profissionais em saúde não direcionam um atendimento de urgência a essas pessoas porque desconhecem a gravidade dos sintomas e quais seriam os tratamentos adequados.
Conclusões/Considerações Finais As diferentes políticas públicas em saúde formuladas durante a última década não foram suficientes para suprir a lacuna de injustiça social sofrida, sobretudo, pelas populações negras que formaram esse país. É urgente questionar se o caminho percorrido até aqui tem sido eficaz no enfrentamento às desigualdades sociais em saúde.
Na comunidade quilombola Águas do Velho Chico existem poucas pessoas com o diagnóstico de anemia falciforme, em geral, apenas os casos mais graves. Contudo existem alguns sintomas, que aliados ao histórico genealógico desses indivíduos, favorecem uma avaliação positiva para anemia falciforme.
Através das ações desenvolvidas na comunidade quilombola foi possível promover a disseminação de orientações e cuidados em saúde sobre a anemia falciforme, a fim de contribuir para uma melhor qualidade dessa população.
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