11/10/2016 - 13:30 - 15:00 GT 17 - Itinerários Terapêuticos nos Diferentes Sistemas de Cuidado e Redes de Apoio |
11463 - TRAJETÓRIAS DE MULHERES EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA EM BUSCA DE APOIO E CUIDADO NA SAÚDE E NA REDE INTERSETORIAL JOANNIE DOS SANTOS FACHINELLI SOARES - UNISINOS, MARTA JULIA MARQUES LOPES - UFRGS, SANDRA MARIA CEZAR LEAL - UNISINOS
Apresentação/Introdução A violência contra as mulheres é um problema de grande magnitude que, além de ser uma violação de direitos humanos, impacta profundamente nas situações de saúde por ser fonte de sofrimento importante para as mulheres. Portanto, torna-se necessário o acolhimento da violência pelo setor Saúde e a responsabilização profissional com as usuárias nessa situação.
No que se refere à rede intersetorial, a Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006), que criou mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, determina que os atendimentos às mulheres devem ser realizados de forma articulada na rede de atenção. Entretanto, ainda são necessários avanços para que as mulheres recebam atendimentos humanizados e resolutivos.
Assim, considera-se que o estudo das trajetórias empregadas pelas mulheres em situações de violências pode possibilitar a construção de projetos de cuidado que contribuam para a superação das violências e para a integralidade da atenção à saúde.
Objetivos - Identificar as trajetórias e experiências de mulheres em situação de violência em busca de cuidado, na saúde e na rede intersetorial.
- Analisar como as práticas empregadas nos serviços da rede de atenção contribuem ou dificultam a superação das violências e a integralidade da atenção à saúde.
Metodologia Trata-se de um estudo interpretativo, com abordagem qualitativa, que descreve e analisa a violência contra mulheres a luz de diferentes enfoques teóricos entre a saúde e o gênero.
As participantes do estudo são quatorze mulheres que foram atendidas no Centro de Referência e Atendimento à Mulher Vítima de Violência (CRAM) do município de Porto Alegre em decorrência de situações de violência nas relações íntimas.
Para a geração dos dados foi realizada pesquisa documental nos formulários de atendimentos do CRAM e entrevistas em profundidade.
A análise dos dados buscou-se preservar as singularidades de cada trajetória e, ao mesmo tempo, identificar as experiências comuns que permitissem inferência para a compreensão dos seus significados. Para tanto, empregou-se as etapas da análise de conteúdo preconizadas por Bardin (2011): pré-análise; exploração do material; tratamento dos resultados obtidos, inferência e interpretação.
Discussão e Resultados Observou-se que antes da busca por ajuda em serviços institucionais, as trajetórias são permeadas momentos de sofrimento pessoal em silêncio.
Na maioria das trajetórias estão presentes serviços e/ou profissionais de saúde, quase todas em decorrência da busca de atendimentos relacionados à saúde mental. A maioria relatou que não se sentiu bem acolhida pelos profissionais de saúde.
O Setor Segurança foi alvo de muitas reclamações por parte das entrevistadas, devido ao atendimento negligente e desrespeitoso prestado pelos trabalhadores das delegacias. No setor Justiça, embora os atendimentos e o andamento dos processos tenham sido favoráveis para a maioria das mulheres, percebe-se algumas confusões causadas pela dificuldade na compreensão das informações. Em contrapartida, o CRAM, ponto central nas trajetórias apresentadas, foi avaliado positivamente de forma unânime pelas mulheres entrevistadas.
Outros serviços da rede aparecem em menor frequência nas trajetórias apresentadas, mas não são menos importantes. Percebe-se nos relatos que muitos desses serviços foram pontos de apoio significativos para as mulheres.
Conclusões/Considerações Finais Analisa-se que os fatores que dificultam a superação da violência estão relacionados à ausência de apoio na família, à escassez de recursos financeiros, aos atendimentos insatisfatórios e à baixa resolutividade das ações realizadas nos serviços da rede. Já os fatores que contribuem para a superação das violências estão evidenciados nas situações em que as mulheres se depararam com atendimentos qualificados nos serviços da rede, nos quais prevaleceu acolhimento, esclarecimento das dúvidas e respostas satisfatórias das ações realizadas.
Evidencia-se que para a integralidade da atenção, tão importante quanto dar respostas às questões objetivas da violência, como as lesões físicas, os danos patrimoniais, a garantia dos direitos e da segurança, faz-se necessário também oferecer apoio às questões subjetivas, como é o sofrimento decorrente. Essa difícil proposta de enfrentamento, acredita-se, só é possível a partir de uma atuação humanizada e profundamente articulada da rede de serviços.
|