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Grupos Temáticos
11/10/2016 - 13:30 - 15:00 GT 25 - Epidemias e Endemias na Produção Mídiática (I) |
11658 - A CONSTRUÇÃO DA EPIDEMIA DE DENGUE-2008 EM O GLOBO E JORNAL NACIONAL JANINE CARDOSO - FIOCRUZ, MARCELLE BARRETO FELIX DA SILVA - UFRJ/PIBIC FIOCRUZ
Apresentação/Introdução Desde a década de 1980, a dengue tem assegurado seu lugar na agenda jornalística brasileira, primeiro marcando a reentrada do Aedes aegypti no país e, na sequência, com a introdução de diferentes sorotipos e as deficiências nas políticas de enfrentamento, os crescentes casos de dengue hemorrágica e mortes. Por esses fatores, a epidemia de 2008 no Rio de Janeiro está entre as mais graves do país.
O reconhecimento da gravidade e da letalidade como importantes parâmetros a serem considerados na análise de qualquer produção noticiosa sobre eventos epidêmicos, não pode, no entanto, relegar ao esquecimento outros fatores, por vezes decisivos, na definição da (in)visibilidade que tais fatos alcançam na agenda jornalística. Entre eles, os demais temas concorrentes, a proposta editorial, a proximidade do risco para seus leitores e, não menos importante, as potencialidades da linguagem própria de cada veículo. Acreditamos que análises abrangentes, que incorporem fatores internos e externos à produção noticiosa são importantes tanto para a produção de conhecimento sobre as relações entre saúde e jornalismo, quanto para subsidiar políticas e estratégias públicas nesses campos de interface.
Objetivos Identificar e analisar a produção de dois veículos jornalísticos, explorando as especificidades e semelhanças da construção noticiosa em um jornal impresso – O Globo – e um telejornal – o JN. Além de pertencerem ao mesmo conjunto empresarial – o Grupo Globo –, ambos detém lugar de prestígio e buscam manter-se como referência na formação da opinião pública.
De forma mais específica, buscamos comparar as estratégias e os posicionamentos discursivos relacionados à epidemia da dengue, com especial atenção ao tipo de interpelação que fazem às respectivas audiências e às emoções suscitadas.
Metodologia Considerando que o pico noticioso de ambos os veículos compreende o período de 17 de março a 18 de abril, delimitamos o recorte temporal na segunda quinzena de março de 2008 e como principal critério de inclusão, respectivamente, o destaque conferido na primeira página e no tempo dedicado ao tempo na edição do telejornal. Esta produção está associada ao aumento do número de casos (entre 19 mil e 55 mil casos) e as mortes (que elevaram-se de 28 para 54, a maioria de crianças e adolescentes).
Discussão e Resultados Quatro tópicos foram regulares no corpus: i) o reconhecimento do caráter epidêmico, negado pelas autoridades municipais; ii) o acompanhamento e explicação do aumento do número de casos e mortes, principalmente entre menores de 15 anos e grávidas ; iii) as orientações quanto ao tratamento, o reforço da necessidade de medidas preventivas e da mobilização contra o Aedes e, iv) as expectativas positivas quanto à atuação das Forças Armadas. A abordagem de O Globo e JN, no entanto, foram bastante distintas.
A importância que o principal telejornal do país conferiu à epidemia vai além do aspecto quantitativo. O grau de investimento manifesta-se nos editoriais, na mobilização de equipes de reportagens para percorrer unidades assistenciais, áreas críticas, local de moradia das vítimas em diferentes pontos da capital e da região metropolitana e na diversificação das estratégias narrativas com que a epidemia foi tratada nas 12 edições no período. Já em O Globo, encontramos 16 capas com chamada (12) ou manchete (4). O destaque no espaço informativo seguiu as disputas entre autoridades dos três níveis de governo, cabendo ao espaço opinativo, principalmente às Cartas dos Leitores, a maior carga dramática.
Conclusões/Considerações Finais As estratégias comuns concentram-se na evolução numérica e geográfica da dengue e na invisibilidade da determinação social da doença. Decisivo para o JN, no entanto, foi o enquadramento do evento como previsível e evitável, com desdobramentos significativos na hierarquia dos elementos incluídos na rede explicativa e no espaço para imagens e depoimentos das vítimas, posto que a responsabilidade humana foi apontada como causa maior tanto da eclosão, quanto do agravamento da epidemia. A forma de apresentação do sofrimento, com o privilégio do relato de experiências singulares, com alta intensidade dramática, constrói a interpelação da audiência como ‘vítima virtual’.
As autoras agradecem o apoio do CNPq à pesquisa "O drama epidêmico midiático no Brasil: um estudo da construção da dengue e H1N1 (2008-2010)".
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