12/10/2016 - 13:30 - 15:00 GT 27 - Normas, Histórias e Olhares sobre a Cultura Alimentar |
11348 - A RACIONALIDADE NUTRICIONAL COMO IDEIA FORÇA NO DISCURSO MEDICALIZANTE MÁRCIA REGINA VIANA - UFRJ CAMPUS MACAÉ, KENNETH ROCHEL DE CAMARGO JR. - UERJ/IMS, SHIRLEY DONIZETE PRADO - UERJ/INU
Apresentação/Introdução O estudo pretende mostrar como o conceito de racionalidade nutricional, emergente na área de Alimentação e Nutrição em Saúde Coletiva, pode se constituir em ideia fortalecedora de discurso medicalizante. É fruto da observação da atual tendência de se praticar um tipo de alimentação que prioriza o consumo racional de alimentos expresso nas concepções de alimentação balanceada e alimentos nutritivos. A consolidação desse processo é mediada pela proclamada soberania do conhecimento científico, utilizado por diferentes expertises na disputa pelo consumo de seus produtos finais, os quais seduzem o comensal – as diversas racionalidades alimentares e/ou nutricionais. Pretendeu-se investigar a participação da academia na constituição dessa ideia força – a racionalidade nutricional hegemônica como constituinte de crença epistemológica influenciadora de práticas alimentares. Para alcançar esse objetivo foi realizada pesquisa qualitativa, com aplicação de entrevistas semiestruturadas a docentes de Programas de Pós Graduação do eixo RJ-SP que tinham representatividade na produção intelectual do referido campo científico.
Objetivos Investigar a adequação da ideia de racionalidade nutricional como copartícipe do processo de medicalização da sociedade e se esta racionalidade nutricional é construto da performance docente acadêmica especializada. Analisar a expressão racionalidade nutricional; elucidar a vinculação destas expressões com a ideia de medicalização da sociedade; compreender como a academia pode colaborar com o processo de construção do conceito de racionalidade nutricional como coparticipe da medicalização da sociedade.
Metodologia Revisão bibliográfica para esclarecimento do primeiro eixo da questão –o conceito de racionalidade nutricional. Realizou-se levantamento bibliográfico, combinando os termos “racionalidade nutricional”, “racionalidade alimentar”, “alimentação racional” e “nutrição racional”. Foram recuperados documentos do período de 1939 a 2015. Pesquisa qualitativa exploratória com análise interpretativa do conteúdo de entrevistas semiestruturadas, com aplicação de roteiro formado por três eixos temáticos: formação profissional, concepção de alimentação saudável e industrialização de alimentos. Foram entrevistados 26 professores de três programas de pós graduação em alimentação e nutrição situados nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. Foram utilizadas entrevistas semiestruturadas, as quais foram transcritas e seu conteúdo explorado de modo a possibilitar a formulação de indicadores para uma análise interpretativa de seu conteúdo.
Discussão e Resultados Após estudo do corpus integral das narrativas, as falas foram organizadas em blocos temáticos. O estudo destes blocos evidenciaram as seguintes unidades contextuais: melhoramento/inovação, informação útil, prescrição alimentar, conveniência, gênero, responsabilidade do indivíduo, controle do corpo/equilíbrio/poder, racionalidade “naturalizada”/o não racional, conhecimento científico soberano/ a doença. A partir dessas unidades contextuais, chegou-se às categorias empíricas: conveniência alimentar, prescrição /normatização alimentar, cientificização do processo alimentar. A categoria conveniência alimentar acomodou narrativas que mostraram o entendimento de que a alimentação humana pode ser beneficiada pela industrialização de alimentos. A categoria prescrição/normatização alimentar aglutinou discursos sustentados pela crença epistêmica de que a prática alimentar deve ser norteada pela prescrição e ainda que o comportamento de modo geral deva ter um modelo normatizador. A categoria cientificização do processo alimentar priorizou as falas que mostravam a crença consolidada no conhecimento científico.
Conclusões/Considerações Finais Os discursos analisados mostraram que a formação do nutricionista encontra peso significativo nas construções conceituais advindas de pesquisas relacionadas ao núcleo biológico da alimentação e nutrição, principalmente pelas categorias encontradas: conveniência alimentar, prescrição/normatização alimentar e cientificização do processo alimentar. É relevante destacar que algumas narrativas foram atravessadas por questões relacionadas às humanidades. Temas como o gênero, a realização da mulher no mercado de trabalho e a implicação do indivíduo na escolha da alimentação estiveram presentes nas falas e mostraram a preocupação do pesquisador em se apropriar, ou pelo menos, incorpora-las ao seu perfil profissional. Esta observação é favorável à ideia de que a alimentação transborda para a esfera da subjetividade e da representação que a comida implica. Elementos subjetivos como desejo, prazer, relações entre sujeitos podem ser mais relevantes do que o saber, o dever ou o querer.
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