|
Grupos Temáticos
11/10/2016 - 15:00 - 16:30 GT 31 - Educação Popular e Produção da Saúde |
11494 - INVENCIONANDO A SAÚDE IRIS CLEMENTE DE OLIVEIRA BELLATO - UFMT, LOUISE GOMES DE PINHO - UFMT, EMÍLIA CARVALHO LEITÃO BIATO - UFMT
Apresentação/Introdução “Porque atem-me se quiserem, mas não há nada mais inútil do que um órgão.” É a partir do grito de guerra aos órgãos que damos início a este trabalho. Tomamos emprestada a noção de Corpo sem Órgãos (CsO) proposta por Artaud (1975). Nos aventuramos a pensar a saúde sob esse prisma, relacionando-a à noção de saúde, conforme propõe Canguilhem e aplicando-a em Oficinas de Transcriação (OsT).
Deleuze e Guattari se apropriam da noção de Artaud e levam seu pensamento além, nos provocando a criar para nós mesmos um CsO. No entanto, este nunca está pronto. É um eterno vir-a-ser, é um campo de experimentação de sensações e de intensidades, um espaço de criação. “Não é uma noção, um conceito, mas antes uma prática, um conjunto de práticas. Ao CsO não se chega, não se pode chegar, nunca se acaba de chegar a ele, é um limite. ” (1996, p. 9).
Amparamo-nos, ainda, na noção qualitativa de saúde de Canguilhem que propõe valorizar o ordinário como único e irrepetível. Repensa as generalizações por entender que elas dizem pouco do que caracteriza cada um e, em sua visão, as marcas da singularidade
constituem-se no que há de mais relevante a ser observado.
Objetivos O objetivo é observar e analisar a produção de crianças participantes de uma OsT (Corazza, 2011) - espaço educativo que pretende oferecer oportunidade de fluidez do pensamento, especialmente em práticas de leitura e escritura abordando o tema Educação e Saúde. No que diz respeito aos padrões — normatizações, em Canguilhem — utilizados pelas Ciências da Saúde, pretendemos discuti-los, bem como seus efeitos em nossos cotidianos, junto às crianças. No lugar de permanecer e firmar os padrões de saúde, procuramos oferecer a possibilidade de enxergarmos brechas à criação neste contexto.
Metodologia As OsT (Corazza (2011), são entendidas como práticas de pesquisa, criação e inovação de saberes. Levamos os conceitos de saúde, conforme referências citadas, para a Escola Estadual Paciana Torres de Santana, com alunos de 5° e 6° anos. Poetizando o pensamento, Manoel de Barros diz “eu sou da invencionática”, e assim pensamos, criamos e inventamos com ele.
As OsT são propostas de forma lúdica, com poemas, filmes, músicas e experimentações sinestésicas. Fazemos um convite à escrita e à leitura: à escrileitura (Corazza, 2008). Com a experimentação da escrileitura, abrimos espaço para o campo da transcriação. Os textos são produzidos a partir de vivências e carregam traços de cada criança-autora-inventora, pois nos baseamos no método otobiográfico proposto por Monteiro (2013), que consiste em ouvir as vivências da produção escrita. No texto, vida e biografia se fundem: observamos vivências de saúde/doença e seus conceitos, conforme analisamos a produção das crianças durante a OsT.
Discussão e Resultados A escolha do 5° encontro se deu a partir da ideia de que era preciso ‘’colher’’ das crianças suas noções sobre saúde e, assim, partilhar com eles uma noção ampliada sobre o tema.
Abordamos, portanto, a saúde e seus padrões. Instigamos as crianças a pensarem sobre a padronização que há na saúde e em como a normatização delimita o que pode ser considerado corpos saudáveis ou doentes. Tentar escapar dessa padronização imposta, ir além da margem que delimita a saúde quantitativa e aguçar os sentidos para uma noção expandida de saúde. Como tudo que impõe limite fere a capacidade do corpo realizar seu desejo, é necessário criar para si um CsO quando tratamos de saúde. Roda de conversa, experimentações sinestésicas com cheiros e apresentação do caso clínico O uso terapêutico da Internet (Marion, 2010) serviram de base para que as crianças produzissem um painel com escritos, desenhos e pinturas.
No entanto, ao avaliar o encontro, percebemos que na produção textual houve apenas a reprodução da noção tradicional de saúde e as crianças ainda se mostraram presas nos padrões impostos que definem um corpo saudável, embora o objetivo do encontro fosse proporcionar um olhar diferente disso.
Conclusões/Considerações Finais Olhar para a saúde com novas lentes se torna um grande desafio, por vivermos em uma sociedade onde uma noção padronizada e imperativa de saúde já é estabelecida. Entender que um corpo saudável pode ir além de medidas quantitativas determinadas e que a saúde pode ser uma prática de criação e inovação, faz-se necessário desconstruir visões e práticas de educação e educação em saúde que desde a infância somos ensinados a pensar. Observamos que nas produções escritas houve a resistência a este drástico deslocamento.
Nesse sentido, este 5° encontro serviu de avaliação do processo da oficina de transcriação e nos impulsionou a instigar mais as crianças sobre o tema, a repensarmos as bases epistemológicas que povoam nosso próprio pensamento e nossos modos de conduzir os processos educativos. Uma prática educativa inspirada na produção artística do corpo sem órgãos parece abrir o campo para mostrar que, mesmo em se tratando de saúde, há espaço para criação.
|
|
|
|