11/10/2016 - 13:30 - 15:00 GT 36 - Ensino, Serviço, Comunidade (Integração e Interdisciplinaridade) |
11642 - A MUDANÇA NOS PEQUENOS ATOS: EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM UNIDADE DE EQUIPE DE SAÚDE DA FAMÍLIA GABRIELA RIEVERES DE ANDRADE - UFGD, SANDRA FOGAÇA RIBEIRO - UFGD, RONAN CARLOS DA CUNHA FERNANDES - UFGD
Período de Realização da experiência Segunde semestre de 2015.
Objeto da experiência Esta experiência relata uma intervenção realizada em uma Unidade de Saúde da Família, como parte do Estágio Supervisionado em Psicologia Organizacional e do Trabalho, no curso de Psicologia da Universidade Federal da Grande Dourados. A intervenção foi realizada no segundo semestre de 2015 sendo um desdobramento do primeiro semestre de estágio de observação da dinâmica institucional. A partir das observações e discussões foi feita uma proposta de intervenção junto aos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) de uma Unidade de Saúde da Família. A proposta de intervenção foi apresentada e aceita pela equipe da unidade e consistiu em nove encontros com os ACS.
Objetivo(s) A proposta de intervenção teve como objetivo propiciar um espaço de fala e de troca de experiência entre os ACS, a fim de discutir os problemas que os afetam e encontrar formas de construir um ambiente de trabalho mais favorável para os trabalhadores, aliviando sofrimentos e amenizando conflitos. Nesse sentido, a proposta de focalizar nesta categoria teve como objetivo fortalecer a equipe de ACS dentro da unidade, tendo como premissa que os efeitos positivos advindos da participação neste grupo poderiam repercutir em toda a equipe de saúde e no cuidado à população.
Metodologia Para a realização das intervenções orientadoras e estagiários optaram por intervir junto aos Agentes Comunitários de Saúde já que a categoria, além de representar um número considerável entre os trabalhadores, tem um papel inovador dentro da Estratégia de Saúde da Família. Os ACS foram convidados pelo estagiário para uma primeira reunião onde foram feitas a devolutiva das observações feitas durante o primeiro semestre e a proposta de intervenção. Ao fazer o convite aos ACS para os encontros, foi esclarecido que esta participação não era obrigatória. As intervenções, realizadas em forma de grupo de reflexão, ocorreram de 28 de agosto de 2015 a 20 de novembro de 2015, totalizando nove encontros. O número de ACS participantes variou de 3 a 4 pessoas e, em média, os encontros duravam 50 minutos. O principal objetivo foi garantir um espaço para refletir sobre as práticas e vivências do cotidiano de trabalho.
Resultados Uma das principais queixas observadas nos discursos dos ACS se referia às metas e burocracias do trabalho. Durante os encontros iniciais os ACS demostraram frustração e impotência por não conseguirem cumprir todas as tarefas diárias. Para os ACS, a informatização tem ocupado um lugar perverso no trabalho, pois, a unidade conta com número de computadores insuficiente. Em relação às metas, os ACS sentem ser impossível o cumprimento destas. Os ACS vivem um dilema diário pois, se por um lado têm que cumprir metas quantitativas, por outro lado, se preocupam com a qualidade das atividades desenvolvidas. No processo de reflexão, surgiu uma nova queixa: a comunicação entre os ACS e entre estes e o restante da equipe de saúde. Posteriormente surgiram as seguintes questões: “espaços de fala reduzidos”, “falta de encontros e discussão das visitas realizadas”, “falta de apoio da equipe para organização de atividades”.
Análise Crítica A possibilidade de falar sobre o trabalho, o sofrimento, as angústias e frustrações deu vazão a conteúdos ligados ao trabalho como fonte de prazer ou de sofrimento. Nos encontros finais foi notória a diferença nas faças dos ACS. Inicialmente, o grupo focava-se nas queixas e nos problemas, posteriormente o grupo avançou para a discussão de formas mais satisfatórias de realização das atividades. Os ACS também relataram maior apoio dos demais colegas como, por exemplo, nas visitas domiciliares. A transformação de organizações do trabalho rígidas em locais de criatividade depende da construção de espaços de discussão coletiva. Um espaço de fala acolhedor, aberto e reflexivo possibilitou ressignificar os sentidos do trabalho. Neste processo, os ACS puderam modificar sua ação por meio das escutas aos conteúdos de seus colegas de troca de informações.
Conclusões e/ou Recomendações A experiência relatada propiciou ao futuro profissional de psicologia compreender a rotina de uma unidade de saúde, discutir as formas de organização do trabalho e vivenciar processos de transformação junto aos ACS. As condições de trabalho e o dia a dia da unidade trazem, muitas vezes, sofrimento e adoecimento aos trabalhadores. A criação de um grupo de reflexão gerou pequenas mudanças no cotidiano dos ACS e do serviço de saúde, advindas de pequenos atos. Nesse sentido, a criação de um espaço de escuta e reflexão contribui para promover a saúde mental dos trabalhadores.
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