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Grupos Temáticos
11/10/2016 - 13:30 - 15:00 GT 37 - A Ad(diversidade) do Trabalho na Saúde em Foco: Sujeitos, Competências e Tecnologias |
11085 - ANÁLISES ERGOLÓGICAS DO AGIR PROFISSIONAL DE EQUIPES NA ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE CRISTINE MARIA - UFRGS, JULIO BALDISSEROTTO - UFRGS, EVELISE TAROUCO DA ROCHA - PREFEITURA MUNICIPAL DE PORTO ALEGRE, CAMILLA FERREIRA DO NASCIMENTO - UFRGS
Apresentação/Introdução A ergologia defende que, ao confrontar-se com situações inusitadas de trabalho, o trabalhador ultrapassa as normas prévias ou antecedentes (protocolos, fluxos, evidências) que guiam e organizam o trabalho e mobiliza ou investe em seu próprio saber. O agir em competência para a ergologia significa articular na atividade de trabalho dimensões subjetivas da experiência humana, as quais por serem intrinsecamente heterogêneas, não tão facilmente suscetíveis de padronização. Isso se traduz numa renegociação permanente com as normas presentes na atividade de trabalho ─ de cada um e do coletivo (SCHWARTZ; DURRIVE, 2007; DI RUZZA, 2006).
O conceito de competências profissionais emerge nos discursos da gestão dos serviços com análises ainda tradicionalmente centradas na aquisição de conhecimentos e técnicas (FULLERTON; GHÉRISSI; JOHNSON; THOMPSON; 2011) e/ou no desempenho individual dos trabalhadores (BOREHAM, 2004). Mais raramente as interrogações voltam-se para a compreensão das condições do espaço de trabalho em que os trabalhadores adquirem e/ou utilizam as competências exigidas (HAMPSON; JUNOR, 2012; ARMSTRONG, 2013) ou como recriam as situações de trabalho (SCHWARTZ e DURRIVE, 2007).
Objetivos O presente estudo pretende analisar o modo como o uso dos conceitos ergológicos do agir em competência, enquanto arcabouço teórico, contribui para a compreensão dos processos de trabalho de equipes de saúde na atenção primária do SUS. Foram analisados os percursos teórico-metodológicos-analíticos de dois estudos realizados no nível de Mestrado Profissional/PPG Ensino na Saúde/UFRGS.
Metodologia Estudo de caso do tipo único, integrado, com múltiplas unidades de análise. O grupo focal foi adotado para compreensão da interação na perspectiva social construtivista (Ryan, et all. 2014). De 12/2013 a 12/2014, 26 grupos focais: 1) 17 grupos focais com 16 equipes de saúde de municípios de uma macro-região administrativa de saúde (17 médicos, 17 enfermeiros e 17 cirurgiões-dentistas); 2) 9 grupos focais com 10 equipes de saúde bucal em uma capital de grande porte (18 cirurgiões-dentistas, 6 técnicos e 4 auxiliares de saúde bucal). Gravados e transcritos. Roteiro fundamentado no conceito de agir profissional de Schwartz (2007), aporte teórico sobre os limites imprecisos de uma situação de trabalho, alcançando o conjunto de singularidades, vivências e valores. As análises dos discursos realizadas no sentido foucaulteano para compreender o modo como os poderes/saberes, no caso as biopolíticas, ligam-se aos discursos e produzem efeitos de verdade (Foucault, 2007a; 2007b).
Discussão e Resultados Programas de avaliação dos sistemas e serviços de saúde são processos utilizados para compreender as dinâmicas da atenção à saúde. Muitas vezes dados/indicadores numéricos dos processos avaliativos não auxiliam as equipes a aumentarem suas capacidades analíticas e de intervenção. Há escassez de estudos que aliem teoria humana e social às análises de organização dos sistemas de saúde ou que procurem compreender interações multíplices entre contextos e sujeitos distanciando-se de uma sociologia linear das práticas e processos de trabalho em saúde. (GRIFFITHS, 2003; DAVIES, 2003; MAY, 2007). Nos discursos o uso dos protocolos pelo trabalhador é um movimento mais complexo do que o compreendido tradicionalmente no campo do planejamento na saúde. Para trabalhar e valer-se do protocolo o trabalhador precisa recorrer a seus próprios julgamentos e valores, talentos e criatividade, de forma a gerir todas as variabilidades possíveis que as situações reais de trabalho possam apresentar.
Conclusões/Considerações Finais Trabalhar e, essencialmente, trabalhar no campo da saúde, é gerir variabilidades inerentes à produção do cuidado em saúde, e está imbricado a dimensão gestionária dos processos e cenários das atividades. Os resultados apontam para a separação entre a gestão, a educação permanente e os processos de trabalho. O redescobrimento do próprio trabalho pelo trabalhador incide na compreensão de como ele se insere na atividade dos outros e na vida em sociedade. Relações de trabalho necessitam ser despertadas nos serviços de saúde através da reestruturação e consolidação de espaços de educação permanente que propiciem o debate de valores entre instituições de ensino e serviços de saúde e que coloquem em diálogo as necessidades das partes envolvidas – trabalhador, aluno, serviço, instituições de ensino e de saúde, usuários, controle social; contudo, fundamentando a produção do cuidado em saúde como eixo condutor deste processo.
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