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Grupos Temáticos

12/10/2016 - 13:30 - 15:00
GT 16 - Corporeidade, Gravidez e Parto: Políticas e Humanização do Cuidado em Saúde

10880 - AS MULHERES E SEUS TEMPOS: DUPLA JORNADA DE TRABALHO, CUIDADO DE SI E SAÚDE NA PROMOÇÃO DA SAÚDE.
TERESA ARACENA VICENTE - UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, LILIA BLIMA SCHRAIBER - UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO


Apresentação/Introdução
A proposta de comunicação que apresento forma parte de um projeto maior, meu projeto de doutorado, onde se realiza uma comparação entre Barcelona e São Paulo sobre como as mulheres que aderem à perspectiva feminista, que têm filhos e trabalham remuneradamente organizam seus tempos para cuidar de sua saúde. Aqui apresentaremos um recorte desse trabalho, concretamente, a análise da gestão dos tempos e do auto-cuidado das participantes brasileiras. Dado que a cultura desempenha um importante papel como sistema que promove uma determinada compreensão do mundo, e, no caso que nos ocupa, estabelece relações desiguais e hierárquicas de poder construídas entre gêneros, queremos analisar se as mulheres que aderem à perspectiva feminista conseguem fugir da prescrição cultural através de uma gestão diferente dos próprios tempos. Considerando o tempo um recurso necessário para o cuidado de si e para o favorecimento da qualidade de vida, que vai ao encontro das formulações sobre promoção da saúde, nesta apresentação refletiremos como as participantes do estudo lidam com seu tempo – tempo em que vivem e tempo próprio – para promover sua saúde.


Objetivos
Refletir sobre os tempos das mulheres que aderem à perspectiva feminista ou se beneficiam e defendem conquistas desse movimento, com ensino médio superior completo e com filhos, de modo a discutir sua atitude perante a saúde e qual a representação que têm da mesma, assim como perante o auto-cuidado, feminismo, maternidade, tempo livre e trabalho.


Metodologia
O grupo alvo são mulheres que aderem à perspectiva feminista ou que pertencem ao movimento feminista, em qualquer de suas correntes de pensamento, ou, ainda, que aderem a qualquer das lutas desse movimento mesmo quando não participem do movimento como um todo. Além disso, são mulheres com filhos e com trabalho remunerado, fora de casa ou em casa, com escolaridade superior completa na faixa etária entre 25 a 49 anos, de modo a essas mulheres terem o filho mais velho de, pelo menos, 3 anos de idade. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas aplicadas face-a-face a 15 mulheres que moram no estado de São Paulo. O material empírico produzido em campo foi analisado mediante dois tipos de leituras: uma primeira para captar o pensamento de cada mulher entrevistada, o que a literatura chama de ‘impregnação’. Uma segunda leitura diz respeito à comparação entre as entrevistas, podendo-se interpretar o sentido mais grupal e o imaginário social resultante do contexto geopolítico.


Discussão e Resultados
A desigual distribuição do trabalho doméstico entre homens e mulheres gera uma situação de precariedade nestas últimas, a diferentes níveis, a começar pela falta de acesso ao recurso do tempo liberado. Diante desta situação, as mulheres continuam respondendo à necessidade de cuidados com todo tipo de estratégias (RÍO, 2004): a) a reorganização dos tempos vitais de cada mulher (para compatibilizar, na medida do possível, seus empregos com suas responsabilidades não remuneradas); b) redistribuição intergeracional entre mulheres; c) redistribuição por classes e etnias. Nosso propósito consistia em ver como as mulheres que aderem à perspectiva feminista lidam com seus tempos para saber se conseguem ter mais tempo para melhorar a qualidade de vida. Neste sentido, observamos como as participantes do estudo foram, sim, conscientes das limitações impostas pela cultura para viver uma vida com qualidade e puseram em prática diferentes estratégias para reverter esta situação. Por outro lado, todas as participantes têm uma concepção de saúde que vai além da puramente física para atingir uma saúde integral que concebe o tempo de lazer como substancial.


Conclusões/Considerações Finais
Depois da análise realizada, consideramos que existe uma maior consciência e luta por equidade nas mulheres que aderem à perspectiva feminista ou alguma de suas lutas. Apesar de se verem envolvidas nas mesmas lógicas culturais que a responsabilizam, como mulher, pelo cuidado da família, as participantes usam diferentes estratégias para transformar essa realidade, mesmo se situando de diferentes formas em relação ao feminismo ou aderindo a diferentes correntes do movimento. Por outro lado, as participantes usam, também, diferentes estratégias para cuidar de si, mas sempre veiculando uma concepção integral de saúde que vai além do puramente físico. Além disto, a mudança cultural que está em processo, que já integra resultados das lutas feministas e que tem incluído muitos de seus discursos, pode ter ajudado a uma maior negociação dos tempos das mulheres.


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