12/10/2016 - 13:30 - 15:00 GT 16 - Corporeidade, Gravidez e Parto: Políticas e Humanização do Cuidado em Saúde |
11289 - DA CASA PARA O HOSPITAL: NARRATIVAS DAS MULHERES SOBRE A MUDANÇA DO LOCAL DE PARTO. CLÁUDIA MEDEIROS DE CASTRO - UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Apresentação/Introdução No Brasil 98% dos partos são realizados nos hospitais, o que indica a universalização do parto hospitalar no país. A mudança do local de parto tem múltiplas causas e é recente, historicamente eventos limites da vida como nascimento e morte ocorriam nas casas das pessoas. O fenômeno que tem múltiplos aspectos pode ser entendido como mais uma manifestação da medicalização da sociedade, possibilitada pela intervenção da medicina na vida das pessoas, no cotidiano, que foi possível com o advento da medicina moderna. A processo de transferência do parto para o hospital teve início no Brasil nas primeiras décadas do século XX, e foi acompanhado da desqualificação do trabalho das parteiras e da progressiva oferta de leitos obstétricos nas décadas posteriores. Para contribuir com o conhecimento sobre como se deu a interiorização do parto hospitalar em locais distantes dos grandes centros urbanos realizamos pesquisa em que estudamos a perspectiva das mulheres sobre a mudança do local de parto.
Objetivos Conhecer as narrativas das mulheres que tiveram partos domiciliares e partos hospitalares na década de sessenta e setenta sobre a mudança do local de parto, em um município distante dos grandes centros.
Metodologia Foi realizada pesquisa qualitativa, com adoção da postura teórica construcionista, o que implica entre outros aspectos, considerar que o mundo social é construído nas relações, onde elaborações e novas elaborações permitem significá-lo e dar sentido ao mundo. Como estratégias metodológicas utilizamos consulta a documentos públicos do Cartório de Registro Civil, o que nos permitiu dar visibilidade ao fenômeno em estudo e realizamos entrevistas semi-estruturadas com mulheres que tiveram partos em casa e posteriormente em hospital nas décadas de sessenta e sessenta em município localizado no sul do Estado de Minas Gerais. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.
Discussão e Resultados Foram consultados 1745 registros de nascimentos dos anos de 1960, 1965, 1970 e 1975, feitos no Cartório de Registro Civil de Baependi-MG. Os registros permitiram dimensionar a rápida mudança do local de parto: em 1960 encontramos 85% dos partos em domicílios, enquanto em 1975 apenas 24% dos partos foram domiciliares e 76% dos partos ocorreram no hospital. Realizamos entrevista semi-estruturada com sete mulheres que tiveram parto domiciliar e parto hospitalar nas décadas de sessenta e setenta no município de Baependi, Minas Gerais.Procedemos à leitura e re-releitura do material transcrito, que continha relatos sobre a vida reprodutiva das mulheres, que se esforçaram para trazer à memória fatos ocorridos há muitos anos, que além dos partos incluiu episódios de sofrimento com a morte de crianças, abortos e óbitos fetais. A análise possibilitou o delineamento de duas categorias temáticas relacionadas aos objetivos da pesquisa e apresentadas em um mapa, como proposto por Spink (2010): Parto em casa: parteiras e família, o cuidado do tempo longo; A construção social do hospital como local de parto: do local a ser evitado ao corpo medicalizado.
Conclusões/Considerações Finais Quando foi desencadeada a institucionalização do parto e sua construção como evento hospitalar, a mudança deu-se rapidamente, em 15 anos o parto hospitalar saltou de 15% para 76% no município. Para a maioria das entrevistadas, o hospital inicialmente visto com desconfiança e medo, passou a ser considerado como um lugar melhor que a casa, mesmo que tenham se sentido sozinhas e estranhado as rotinas do hospital. Foi evidenciada a adesão ao discurso do médico como aquele que sabe sobre as questões do parto e nascimento, a desqualificação do saber das parteiras, que foram reconhecidas como possuidoras de habilidades, mas habilidades inferiores às do médico.
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