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10/10/2016 - 13:30 - 15:00 GT 25 - Saúde, SUS e Ciência na Mídia |
11425 - A PRODUÇÃO JORNALÍSTICA SOBRE AGROTÓXICOS DIANTE DO CASO DO LEITE HUMANO CONTAMINADO: UM ESTUDO SOBRE O ESTADO DE S. PAULO RAÍZA TOURINHO DOS REIS SILVA LIMA - FIOCRUZ, JANINE MIRANDA CARDOSO - FIOCRUZ
Apresentação/Introdução Em março de 2011, a defesa da dissertação de Danielly Palma, na Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), trouxe à tona o que denominamos de Caso do Leite Humano Contaminado. O estudo analisou a presença de agrotóxicos no leite de 62 nutrizes de Lucas do Rio Verde (MT). Das dez substâncias analisadas, nove foram encontradas nas amostras, que continham entre um e seis tipos de agrotóxicos. Entre os problemas de saúde que essas substâncias têm o potencial de causar estão má formação fetal, indução ao aborto, alterações do sistema endócrino, e até câncer (PALMA, 2011).
Considerando que os veículos de comunicação podem ser considerados um espaço de excelência para a produção e circulação de sentidos sociais e, consequentemente, instância central para o reconhecimento da existência pública de temas e sujeitos sociais (ARAUJO; CARDOSO, 2007), buscamos identificar as matérias sobre o caso, em particular, e sobre o tema em geral (agrotóxicos) na imprensa brasileira. Neste estudo, analisamos as matérias veiculadas no jornal O Estado de S.Paulo sobre agrotóxicos a fim de compreender os sentidos vinculados ao tema neste periódico.
Objetivos O objetivo deste trabalho é compreender como se deu a produção jornalística sobre agrotóxicos diante do Caso do Leite Humano Contaminado no jornal O Estado de S. Paulo. Para tanto, coletamos as matérias que citam o tema, em até dois meses após a divulgação do caso, e mapeamos os discursos mobilizados pelo diário.
Metodologia Utilizamos o referencial teórico da Semiologia dos Discursos Sociais (SDS), como concebida por Pinto (2002), compreendendo que o nosso papel não é esgotar os sentidos veiculados nos textos jornalísticos, mas compreender os processos sociais de sua produção, a partir das marcas ou pistas deixadas nos textos (PINTO, 2002).
A coleta do corpus foi realizada no acervo digitalizado no portal Estadão, pelos termos “agrotóxicos, DDT, leite, agroquímico, defensivo”, no período de 15 de março a 15 de maio de 2011.
Discussão e Resultados Identificamos nove textos que citam os agrotóxicos no período. O mais expressivo foi a reportagem de duas páginas “Agroecologia preserva mananciais” (23/03), capa do suplemento Agrícola. A agroecologia é aqui abordada como transformadora, e a abolição do uso de agrotóxicos como prática sustentável ao lado de ações como preservação de vegetação nativa e nascentes.
Outra reportagem relevante foi “MST vive crise e vê cair número de acampados” (28/04). A matéria de página inteira, focada no enfraquecimento do movimento sem-terra diante das políticas sociais de geração de emprego na construção civil, privilegia o sentido de que a luta contra os agrotóxicos seria uma estratégia “de maior apelo social” do movimento sem-terra diante da “realidade atual”.
O Estado de S.Paulo ainda menciona os agrotóxicos em duas notas sobre o envenenamento de animais em Ribeirão Preto (SP), em que o sentido evocado é o de perigo, pela associação entre o agrotóxico e o envenenamento. A associação entre ausência de agrotóxico e saúde/sustentabilidade é assinalada em duas matérias sobre alimentação saudável. E ainda há menção em um artigo sobre poluição das águas causada por estas substâncias.
Conclusões/Considerações Finais Apesar de nenhuma das nove menções publicadas em O Estado de S.Paulo no período citar o nosso caso específico, a maioria das matérias privilegia os sentidos negativos ligados aos agrotóxicos. Deve-se ressaltar que a produção jornalística sobre agrotóxicos não é homogênea, nem despida dos conflitos e tensões que cercam as suas condições sociais de produção.
Identificamos que os agrotóxicos nos textos analisados são assinalados enquanto causadores de danos à saúde humana e ao ambiente, frutos de um determinado modelo agrícola, cuja periculosidade pode ser evidenciada no envenenamento de animais. Nesta mesma linha, figuram os textos que mostram os alimentos orgânicos enquanto oportunidade de mercado, para o empreendedor, e opção saudável e sustentável para o consumidor. Por fim, a luta contra estas substâncias pode ser caracterizada enquanto objeto de disputa político-ideológico, ao ser veiculada enquanto estratégia de conquista da empatia da sociedade pelo movimento sem-terra.
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